Já só falta a final, Portugal
Tínhamos agendado apenas voltar a escrever sobre o Europeu de futsal um dia após este terminar, mas o facto de Portugal ter garantido a a presença na final da prova fez-nos antecipar o que tinha previamente previsto.
Quartos de final com nota artística
Ora, começamos pelo início, que no caso é o meio – quartos de final da competição. Um Portugal-Azerbaijão que à partida nada tinha de fácil, até porque a seleção azeri tem na equipa nacional muitos jogadores brasileiros com muito futsal nos pés.
Contudo, e após um inicio algo conturbado em que o guarda-redes André Sousa quis dar uma pequena esperança ao adversário, Portugal mostrou-se dono e senhor do jogo. Das melhores exibições que já vimos a seleção realizar.
Dos naturais golos com nota artística houve ainda uma disposição tática absolutamente dominante. Ora com Tunha e a jogar num 3-1, ora sem Tunha e a jogar com uma equipa mais móvel, deu tempo e espaço para mostrar que tudo é trabalhado eximiamente e que os portugueses são, sem dúvida, dos jogadores com mais conhecimento da modalidade. Bruno Coelho a confirmar a boa forma física na prova, um Nilson a dizer que podemos contar com ele – principalmente a defender situações de guarda-redes avançado – Pedro Cary e João Matos iguais a eles próprios e, sobretudo, Ricardinho a comprovar o título de melhor do mundo uma vez mais.
Mesmo após tudo aquilo que já fez e conquistou, Ricardinho consegue sempre “sacar um coelho da cartola” e fazer valer o preço do bilhete para assistir aos jogos. Oito golos foi o necessário para a afirmação da candidatura a ganhar o Europeu.
Não o mais vistoso, mas o mais conseguido
Dúvidas houvessem e esta quinta-feira a candidatura ficou selada. Contra a Rússia, que é apenas a vice-campeã da Europa e do Mundo, que tem jogadores como Robinho e Éder Lima no plantel, foi talvez o melhor jogo da seleção portuguesa na prova.
Não o mais vistoso, mas o mais conseguido. E passamos a explicar. De imediato ressalta o excelente trabalho de João Matos e André Coelho na pressão a Éder Lima, pivot russo. Sem lhe dar demasiado espaço, mas também sem ceder à tentação de encostar ao jogador e dar-lhe possibilidade de rodar sobre o opositor, neste caso o fixo português, ficou registado o facto de o russo apenas ter conseguido finalizar num lance de contra-ataque e noutro já numa situação de guarda-redes avançado.
Em André Sousa viu-se sempre uma guarda-redes muito seguro, o que a par do que atrás referi e ainda a Bruno Coelho, Ricardinho e Pedro Cary, jogadores nucleares na estratégia da equipa e que foram muito fortes principalmente na defesa – tão fortes que muitas vezes os jogadores russos caíam (a equipa portuguesa já tinha atingido a quinta falta) – acabou por resultar num jogo muito bem conseguido.
Nilson nunca permitiu que Robinho conseguisse realizar a jogada que mais o caracteriza e Pany Varela mostrou muita qualidade quando a pressionar alto. Três golos dos “Coelho” – dois do André e um do Bruno confirmaram a presença de Portugal na final deste sábado.
A equipa da Rússia perdeu não contra o ataque da equipa de Jorge Braz, mas sim contra a defesa portuguesa. Das mais bem organizadas e consistentes defesas na modalidade. Já o havíamos dito no artigo que antecipou o início da prova e em que expusemos os pontos fortes da seleção nacional.
Na outra meia final, a seleção campeã da Europa, a Espanha, venceu o Cazaquistão nas grandes penalidades e vai assim ser o adversário da seleção das quinas na final.
Antes do europeu começar dissemos que Portugal pode sonhar com a conquista do europeu de futsal. E pode mesmo.
Vs Espanha
A seleção espanhola joga numa rotatividade elevada. Mesmo a jogar em 3×1 o pivot é por norma o jogador que está mais perto da posição e não um escolhido criteriosamente para o lugar. São resultado de paralelas, diagonais ou ainda outro tipo de movimentação: as entradas duplas. Quando a equipa está em ataque frequentemente faz entradas duplas, ficando disposta em 2×2, com um dos jogadores mais recuados a entrar de seguida para criar situações de superioridade em território ofensivo.
Os jogadores espanhóis são, à semelhança de Portugal, uma equipa com uma dinâmica interessante e com lances de bolas paradas muito bem trabalhados.
Como pode Portugal conquistar o ouro
Para conseguir levar o troféu para casa, Portugal tem obrigatoriamente de fazer um grande jogo, sobretudo a nivel tático. Analisando aquelas que são as características desta Espanha acreditamos que Portugal deve jogar com a defesa a ser feita num bloco baixo, pela zona do meio campo. No entanto isto não quer dizer que haja menos pressão, mas apenas que deve ser feita a partir dessa zona.
Assim evitam-se dois problemas: os contra-ataques muito rápidos dos espanhóis e os possíveis espaços entre linhas que a Espanha tenta criar com a sua rotação. Se este tipo de “defesa baixa” for bem conseguida a Espanha é obrigada ou a tentar rematar de longe ou a jogar por fora, o que quer dizer, junto às laterais.
Não menos importante, é sempre o ala que defende o lado contrário à bola, isto porque aquando das entradas duplas dos jogadores espanhóis é fundamental que o ala contrário recue e fique encarregue de defender um desses dois jogadores. O outro é do fixo. Aqui também realçamos o papel do pivot que terá sempre de ficar atento ao local onde está a bola, mas também ao lugar onde está o seu opositor direto.
Na gestão ofensiva do jogo, Portugal não pode comprometer em zona de construção, senão é “a morte do artista”, bem como deve arriscar nos contra-ataques rápidos. Três dos golos que a Espanha sofreu nesta prova foram de contra-ataque.
Uma vez terem um tipo de jogo não muito distinto, é natural ainda que ambas as seleções arriscam o um para um nas alas. Pode nascer dos lances individuais a decisão de quem conquista o europeu.