FBSWC 2019: Portugal Campeão do Mundo novamente!
Terminada uma temporada de sonho, temos mais um motivo para festejar: Portugal sagrou-se campeão do mundo de futebol de praia, no seguimento de uma segunda fase brilhante em que mostrou ser a equipa mais consistente, superando um a um os testes exigentes que lhe foram apresentados pelas equipas sobreviventes do mundial mais equilibrado de sempre.
De facto, Senegal, Japão e Itália, com maior ou menor dificuldade, acabaram por ser derrotados pelos pupilos de Mário Narciso, que se demarcaram da concorrência pela prestação defensiva de excelência (exceptuando situações muito pontuais) e fizeram valer a preponderância do triunvirato Jordan – Bê Martins – Léo Martins para alcançar o topo da hierarquia mundial. Foi a terceira vez que os lusos conquistaram o mundial, a segunda desde que a FIFA assumiu a organização da prova, depois da vitória de Espinho, em 2015, diante do público nacional.
Muitas mudanças se operaram na selecção portuguesa desde a odisseia de há quatro anos. Se a equipa técnica vitoriosa se manteve, liderada por Mário Narciso, auxiliado por Tiago Reis e Luís Bilro, o plantel sofreu algumas modificações, com as saídas dos históricos Alan, Zé Maria e Bruno Novo, que colocaram um ponto final na carreira de atletas pela selecção, e as entradas das apostas ganhas João Gonçalves, André Lourenço e Rúben Brilhante, agentes mais visíveis de uma renovação que tem incluído nomes como Ricardo Baptista e Pedro Vasconcelos Silva.
Além disso, também a composição dos quartetos de campo e as dinâmicas de jogo são distintas das que se observavam em 2015: em Assunção, Mário Narciso assumiu a opção clara na fluidez do trio formado por Jordan, Bê e Léo, tirando partido da sua disponibilidade física sem precedentes para os manter em campo durante períodos mais longos do habitual. A aposta justificava-se pelo maior andamento competitivo que os três levavam, no seguimento das múltiplas competições de clubes que continuaram a disputar no estrangeiro entre a conquista da Liga Europeia e o Mundial. E a escolha não poderia ter corrido melhor, com a qualidade técnica, velocidade, leitura táctica e eficácia do trio luso a causar estragos nas defensivas adversárias – mesmo apesar de o modelo de jogo implementado pelos três irmãos (dois de sangue, e um terceiro sempre que entram na arena juntos) já se encontrar estudado até à exaustão pelas defesas adversárias.
Acompanhados por um quarto elemento capaz de interpretar na perfeição as movimentações do carrossel (normalmente Coimbra, mas também Bruno Torres), foram a maior arma da selecção nacional neste mundial, mas traduzem algo mais do que isso: a salvaguarda do futebol de praia de qualidade, imprevisível e espectacular, atractivo para o público sem desprimor da consistência defensiva e equilíbrio táctico. A este nível há que realçar a importância capital dos dosi fixos da selecção, que realizaram uma prova de excelência, dentro dos patamares de entrega e disponibilidade física a que nos têm habituado.
Todavia, a conquista mundial não se deveu apenas aos cinco jogadores cujas valências destacámos até aqui! Em lugar de destaque, cabe-nos a responsabilidade de enaltecer as virtudes de Elinton Andrade, guardião das redes nacionais durante a quase totalidade dos minutos no mundial do Paraguai, cuja segurança entre os postes foi notável e decisiva! Elinton foi por diversas vezes responsável por manter a vantagem lusa no marcador em momentos de maior sufoco ou durante os raros desequilíbrios da equipas das quinas, desembainhando um punhado de grandes defesas que deixaram boquiabertos os fãs de futebol de praia em todo o mundo! Complementarmente, a sua facilidade em sair a jogar com os pés permitiu a Portugal serenar o jogo em momentos chave e construir ataques com base numa posse de bola paciente, nomeadamente quando o trio Jordan – Bê – Léo não estava em campo. A luva de ouro do mundial, amealhada pelo guardião do Flamengo, está por isso muito bem entregue e revelou-se fundamental no triunfo luso.
Também Belchior desempenhou um papel preponderante em momentos cruciais do mundial, constituindo o paradigma da metamorfose do atleta em prol das exigências do colectivo. Isto porque o seu papel se alterou radicalmente entre a conquista de 2015 e a reconquista de 2019: o pivô goleador impetuoso a que estávamos habituados deu lugar a um ala que coloca em prática o amplo conhecimento da modalidade adquirido ao longo de mais de 18 anos, tirando partido da sua técnica fenomenal e visão de jogo privilegiada para fazer brilhar os companheiros de equipa na perseguição dos objectivos do grupo. É dele, por exemplo, a assistência perfeita para o golo de Bê Martins que desbloqueia a partida da meia final frente ao Japão, entre outros momentos importantes do torneio.
Acima de tudo, Belchior soube adaptar-se às novas exigências do momento e abdicar do individual para fazer alcançar os louros colectivos – e o mesmo se poderá afirmar de todos os jogadores da equipa, mesmo os menos utilizados. Sempre que estiveram em campo, Madjer, André Lourenço, João Gonçalves e até Rúben Brilhante e Tiago Petrony (ambos só entraram nos minutos finais dos jogos da fase de grupos contra Nigéria e Omã) deram tudo em prol da equipa e mantiveram o seu equilíbrio táctico. O acrescento para a produtividade ofensiva poderá não ter sido tão expressivo como em outros momentos da época, mas todos entenderam em cada momento o que seria esperado deles e deram um contributo determinante na conquista. Acima de tudo, conforme foi também reconhecido por observadores externos, a selecção portuguesa funcionou mesmo como uma família, um clã, uma unidade plena, em que as amibções individuais foram suplantadas pelo desejo de levar o nome de Portugal ao lugar mais alto do pódio.