Campeões que terminaram a carreira
O ano de 2019 marcou a despedida de Madjer dos areais, após a histórica conquista do Mundial de Futebol de Praia Paraguai 2019. No entanto, o mítico capitão da equipa das quinas não foi o único a deixar a selecção nacional nos últimos anos: contando com Madjer, foram quatro os guerreiros que se sagraram campeões do mundo na memorável campanha de Espinho em 2015 e que entretanto colocaram um ponto final na carreira internacional. Nesta peça recordamos os outros três nomes, peças chave da conquista mundial em Espinho, lançando um olhar às suas brilhantes carreiras, marcantes de uma (ou várias) décadas.
Zé Maria
Durante muito tempo considerado por muitos o melhor pivô português de raiz, o mítico 14 da selecção nacional (vestia o 8 nas competições FIFA) personificava na perfeição o espírito do futebol de praia no seu estado mais clássico. Força física, leitura de jogo e explosividade são alguns dos muitos ingredientes de um jogador que combinava um faro de golo inigualável com uma exemplar capacidade de trabalhar para a equipa e assistir os colegas. Colocando o colectivo sempre acima do individual, o monstro da Ericeira ficou celebrizado pelos pontapés de bicicleta fenomenais, precedidos daquela recepção com o peito que elevava a bola a uma altura sem precedentes antes de disferir o remate fatal!
Campeão do mundo em Espinho, José Maria Fonseca foi também campeão europeu nesse mesmo ano de 2015, quando assinou 3 dos 5 golos de Portugal na final diante da Ucrânia, e em 2008, no ano da sua grande afirmação na selecção nacional. Venceu também o Mundialito por 3 ocasiões (2008, 2009 e 2014), entre outros troféus diversos. Com passagens pela liga italiana, Zé Maria manteve durante muito tempo uma ligação ao Braga, embora tenha representado o Sporting em 2018, onde acabaria por assumir as funções de treinador no ano seguinte. Discreto, mas sempre importante pela sua acção decisiva, foi um jogador emblemático de uma segunda geração do futebol de praia nacional e uma referência que nunca será esquecida.
Alan
Considerado por muita gente o jogador mais fantástico de futebol de praia de todos os tempos, Alan é uma figura incontornável da História do futebol de praia. Ele e Madjer formaram uma dupla de sonho que estendeu a sua acção ao longo de mais de duas décadas da modalidade e contribuiu largamente para fazer do futebol de praia o desporto bem estabelecido e organizado que é hoje, juntamente com uma larga lista de pioneiros. No caso de Alan, a facilidade e naturalidade do toque de bola de quem conjugava um talento natural com uma dedicação e perfeccionismo sem precedentes fizeram dele o líder das assistências da História da modalidade. Se juntarmos a isso os golos que marcou e a influência fulcral na organização de jogo da equipa das quinas, encontramos um jogador cuja História se funde com a da selecção e a do próprio desporto.
Melhor marcador do mundial de 2001, quando pela primeira vez Portugal conquistou o troféu, bola de prata no mundial de 2015 em Espinho, Alan conseguiu ainda alguns prémios individuais de topo numa equipa onde Madjer e Belchior costumavam sobressair, mas foi sem dúvida pelo perfume que emprestou à modalidade que ficou eternizado. Como se costuma dizer, Alan já sabia o que fazer com a bola antes mesmo de a ter recebido, tal a sua rapidez de leitura e decisão. Foi assim que surgiram alguns dos passes e dos golos mais bonitos da História da modalidade, numa carreira que incluiu 2 títulos mundiais, 5 ligas europeias, 7 taças da Europa, 1 copa latina e 5 mundialitos, o último dos quais em 2018, na Costa da Caparica, palco da despedida de um dos melhores jogadores de sempre.
Bruno Novo
A última despedida antes de Madjer foi a de Bruno Novo, o mágico das areias da Nazaré, nas palavras do célebre comentador Rui Delgado. Falamos de um ala que representou continuamente a selecção nacional entre 2009 e 2018, tendo emprestado ao jogo uma qualidade técnica e conhecimento táctico apenas ao nível dos melhores de sempre. Tal como Alan, também Bruno Novo se revelou um rei das assistências. Primando pela qualidade e precisão de passe, aliando-as à sua capacidade de leitura, Bruno Novo orquestrava o jogo da selecção e fazia os colegas sobressair na busca de um objectivo comum. Mas a metáfora do homem que se anula para que os outros possam brilhar não chega para descrever a influência de um jogador talhado para aparecer nos momentos decisivos, como a final da Liga Europeia 2010 em Belém, onde os seus dois golos fizeram o troféu permanecer em solo luso, ou a meia-final do mundial em Espinho, quando assinou o golo da vantagem de Portugal frente à Rússia na conversão minuciosa de um livre.
Mítico capitão da Sambenedettese (del Tronto), pela qual venceu diversos campeonatos, taças e supercopas de itália, Bruno Novo passou também pelo Boca Juniors e pelo Braga, depois de ter começado no Sótão da sua Nazaré natal. Acabaria por deixar o futebol de praia profissional por motivos logísticos após a sua partida para os EUA, mas o legado que deixou na formação de jovens como Jordan e na memória de todos os amantes da modalidade é inquebrantável.