Euroliga 2024/25: palavra-chave no grupo A é… equilíbrio

Lucas PachecoNovembro 3, 20247min0

Euroliga 2024/25: palavra-chave no grupo A é… equilíbrio

Lucas PachecoNovembro 3, 20247min0
O Grupo A da Euroliga feminina está quente, com vários destaques e bons jogos que Lucas Pacheco analisa ao pormenor neste artigo

A Euroliga fará uma parada de um mês para a janela Fiba, quando as seleções se reunirão em busca de vaga para a competição continental, o Eurobasket, agendado para o ano que vem. Desde o início da temporada europeia, com uma rodada semanal, será o primeiro respiro no torneio, momento de avaliação para as equipes e de atualização para os fãs. A interrupção chega antes da conclusão da fase de grupos (a primeira), antecedendo as duas rodadas finais dos grupos A a D.

Em termos de classificação para a próxima fase de grupos (quando A e B serão juntados, bem como C e D), muito já se definiu. No grupo D, devem avançar Venezia, Valencia e Praga (as quais disputam melhor colocação, importante pois os resultados serão transferidos para a próxima fase); a equipe húngara Uni Gyor não venceu e está virtualmente eliminada da Euroliga. No grupo C, situação similar, com o atual vice-campeão Villeneuve precisando de um milagre para não se despedir precocemente.

Sem vitória, a renovada equipe ainda não se encaixou: deve confirmar o prognóstico e evoluir na sequência da Eurocopa (torneio secundário no continente, para onde as quatro lanternas dos grupos irão). O bicho papão Fenerbahçe, Zaragoza e Polkowice estão a um passo da classificação. O grupo B, mais previsível e menos equilibrado, classificará Çukurova Mersin, Tango Bourges e o Zabiny Brno, eliminando o grego Olympiacos.

O que faltou de surpresa nesses três, sobrou no grupo A, único aberto e onde as quatro equipes seguem vivas e esperançosas. Não que o equilíbrio fosse, mas as quatro rodadas iniciais ultrapassaram as expectativas e forneceram excelente basquete. Até a metade da fase (3 partidas por time), apenas uma vitória de time visitante, quando o espanhol Avenida foi à Hungria e derrotou o DTVK Miskolc (64 x 68).

O equilíbrio carrega consigo a crueldade, típica do basquete, evidenciada no lance acima, definidor do resultado final. A ala Reka Lelik fez uma excelente partida, liderando sua equipe em pontos e eficiência, mas a falha na defesa da zona morta no lance derradeiro nublou seu desempenho. Lelik vinha em crescente, assumindo aos poucos o protagonismo do DVTK e rebaixando Kaila Charles ao segundo posto na hierarquia; depois desse lance, Lelik foi muito mal no jogo subsequente (2 pontos e míseras 5 tentativas de arremesso), nova derrota em casa (56 x 66), desta vez para o francês Landes.

Com duas derrotas em casa, a equipe húngara precisará vencer os dois confrontos restantes, ambos como visitante. Para isso, precisará de mais que a competitividade já apresentada; por momentos, falta uma jogadora decisiva, capaz de centralizar a bola e definir um confronto. Por melhor que Charles seja, ela não é essa jogadora; na única vitória, o time fez prevalecer o domínio no garrafão, com jogo pesado no poste baixo, tática que buscará repetir no próximo duelo contra Schio. O conjunto de Peter Volgyi luta contra o tempo.

O basquete apresentado pelo Landes até aqui não traz confiança para ambições maiores que a classificação para a próxima fase. A técnica Julie Barennes, se por um lado produz um conjunto coeso e competitivo, por outro parece incapaz de subir a produção ofensiva de sua equipe. Sem uma jogadora alpha, a aposta recai sobre o conjunto, refletido na pontuação sempre espalhada; o problema aparece quando alguma peça fundamental para a engrenagem desempenha abaixo do esperado. O desfalque da pivô alemã Luisa Geiselsoder no segundo jogo foi sentido, assim como as atuações ruins da principal aposta para a temporada, a armadora Leila Lacan. No momento do aperto, a bola vai sobrar para ela; nas duas vitórias, ambas sobre o DVTK, ela foi bem e o time venceu. Nos outros dois jogos, sua fraca atuação foi determinante para os dois insucessos.

Lacan já possui no currículo uma medalha olímpica, o que não significa que esteja pronta. Ela estreou na Euroliga há meros 4 jogos e a oscilação é natural, ainda mais pela importância que possui nesse elenco do Landes. Nas duas derrotas, zero ponto (0/10 somado nos arremessos); Barennes então chacoalhou a armadora e a trouxe do banco no último jogo – surtiu efeito e ela finalizou com a cestinha do time (13 pontos). Sua defesa acima da média ainda precisa de mais calibragem com seu playmaking e com a conversão de arremessos, algo que o tempo trará.

Também no espanhol Avenida, outra jovem possui papel central. A armadora Iyana Martin começou o torneio no banco, na desastrosa derrota para o Schio na abertura (92 x 58); os problemas de um elenco recém formado, com novo comando técnico, ficaram evidentes e absolutamente nada funcionou. A defesa de pick-and-roll concedeu todos os arremessos desejados pelo Schio e as espanholas não viram a cor da bola. Anna Montañana ajustou a rotação para o segundo jogo, corrigiu a defesa e inseriu Iyana no quinteto titular, para não sair mais. Avenida venceu o Landes com facilidade (81 x 52) e na sequência bateu o Miskolc fora de casa. Nova derrota para o Schio (69 x 79), comprovando o encaixe ruim contra as italianas. Ao fim das quatro rodadas iniciais, Iyana, aos 18 anos, possui a segunda maior minutagem e a terceira maior eficiência de sua equipe. A estreia não foi como esperado, mas as partidas seguintes mostraram o potencial dessa jovem, com talento para dominar o mundo do basquete feminino.

Importante ressaltar, ainda, a correção da técnica Montañana na rotação de pivôs. Ela definiu Laura Gil e Sika Kone como titulares, possibilitando um jogo ágil e veloz, sem perder na defesa (Gil), no ímpeto pelos rebotes (Kone) ou no poste baixo (Gil). A equipe se encaixou rapidamente e, a tal ponto, que nem a fominha Arella Guirantes tem precisado centralizar a bola em suas mãos. Com 2 vitórias e 2 derrotas, as espanholas têm a classificação bem encaminhada.

Por fim, o basquete mais bonito no grupo A pertence ao italiano Schio. Outro trabalho consistente do técnico Georgios Dikaioulakos, que rapidamente reformulou seu time e, mesmo com redução no investimento, construiu uma identidade exitosa. O conjunto dominou os dois duelos contra o Avenida, apostando alto nas excelentes arremessadoras Janele Salaun e Kitija Laksa – melhor % de três da competição (41,7%). Ao lado de uma armadora veloz e boa no pick-and-roll (Constanza Verona) e de duas pivôs muito ágeis, que gostam de jogar de frente para a cesta, as alas despontam com sua movimentação fora da bola. Junte espaçamento e movimentação de bola e o resultado será um basquete moderno e vistoso. O time cria excelentes movimentações para Laksa (cujo desenvolvimento saltou nesta temporada) e Salaun, exímia arremessadora e defensora. A francesa Salaun segue evoluindo e a cada partida demonstra já ser uma realidade do basquete feminino mundial.

Schio sofreu a única derrota para o DVTK, quando suas pivôs não conseguiram impedir os pontos no garrafão. A chegada tardia de Dorka Juhasz deve amenizar o problema, sem desconfigurar a receita ofensiva. No próximo duelo, as equipes voltam a se enfrentar, quando veremos se a derrota solitária foi fruto de um dia ruim, ou se advem da estrutura do conjunto. Com 3 vitórias, é a aposta mais certeira para garantir uma das três vagas do grupo.

O grupo A encerra seu calendário nos dias 20 e 21/11, com a rodada definidora no dia 27/11.

Obs.: a previsibilidade do grupo D não pode obscurecer o feito de Alina Iagupova no último jogo. Jogando fora de casa, contra o poderoso Praga, seu Valencia perdia a menos de um minuto do fim. Então, ela chamou o jogo e fez isso aqui:


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