Estará o calendário Internacional do Judo comprometido?

João CamachoAbril 19, 20227min0

Estará o calendário Internacional do Judo comprometido?

João CamachoAbril 19, 20227min0
João Camacho analisa três pontos importantes a discutir neste momento, a começar pelos custos associados ao Judo em 2022

A guerra na Ucrânia escala ao ponto de não ser previsível antever, no curto prazo, o seu fim. A UEJ-União Europeia de Judo e a FIJ-Federação Internacional de Judo tentam, timidamente, manter todas as etapas do calendário internacional. No entanto, para além da decisão das Federações Russa e Bielorussa de cancelar a respetiva participação em todas as etapas e eventos calendarizados, com o objetivo de proteger os seus atletas, há o receio de novos cancelamentos e do calendário de 2022 ficar irremediavelmente comprometido.

A retoma possível

Em Portugal temos assistido à retoma da atividade, com a realização dos campeonatos nacionais dos escalões de formação, Cadetes (sub16), Juniores (sub20) e Sub23. Também de destacar o regresso da importante atividade associativa, apesar das evidentes limitações logísticas e financeiras. Desde já, um dos pontos positivos desta retoma, tem sido o enorme esforço que algumas associações distritais de Judo, ainda que infelizmente poucas, têm feito para proporcionar aos jovens judocas alguma atividade competitiva.

Se é verdade que é visível uma dinâmica que nos transporta ao período pré-pandémico, o facto é que ainda continuamos com bastantes restrições, cujo impacto, nomeadamente no que respeita às exigências financeiras, que são assustadoras e estão a afastar os atletas que não têm acesso aos recursos económicos que permitam suportar a sua participação, pois é necessário garantir a segurança de todos os intervenientes nos eventos, implicando testagem sistemática e os custos de eventuais isolamentos.

A pesada carga financeira tornou-se especialmente evidente na Taça de Europa de Juniores, que decorreu em Coimbra no passado mês de Março, e que conta para o ranking Mundial de Juniores. É que, para além das exigências com a creditação, testagem PCR (cerca de 100€ por teste), alojamento durante a prova (caso o atleta testasse positivo seria obrigatório uma quarentena de 7 dias com um custo diário a rondar os 150€), foi também exigido o cartão de identificação da FIJ revalidado (que também tem um custo) pois a validade é de 2 anos, e todos sabemos como passámos os últimos 2 anos.

Além disso, qual “cereja no topo do bolo” ainda temos as novidades do reforço do critério de controlo dos judogis (fato de Judo), cada vez mais dispendiosos, que está substancialmente mais apertado e obriga ao escrupuloso cumprimento das medidas definidas, sob pena de chumbarem na verificação/controlo, obrigando os atletas a combaterem com um judogi da organização, que não estando moldado ao seu corpo, complica o seu desempenho, bem como a proibição do treinador se sentar no lugar reservado junto da área de competição. Um judogi homologado, e esta homologação tem tido várias atualizações o que obriga à aquisição de novos fatos sempre que a especificação é alterada…, custa, em média, entre os 150-200€, podendo atingir valores mais altos, sendo imprescindível, no mínimo, um judogi de cor branca e outro azul e estes raramente durarem mais de 1 época.

Atrevo-me a dizer que, não pelas razões certas, desejavelmente pautadas pela qualidade de quem o pratica, o Judo está a tornar-se verdadeiramente num desporto de elite, muito exclusivo… financeiramente incomportável. Será fundamental a Federação Portuguesa de Judo liderar, em conjunto com o IPDJ, com as estruturas do poder local e com os clubes, uma avaliação e definir um plano para que seja possível identificar novas fontes de apoio financeiro à modalidade, pois não é expectável que, quer os clubes, desprovidos de receitas após 2 anos sem atividade, quer os atletas, ou, no caso dos mais jovens, os principais patrocinadores que são os pais, consigam suportar estes custos…. obscenos….

Campeonato Nacional de Juniores (Foto: FPJ)

Grand Slam Antalya

Já passaram algumas semanas desde que escrevi o último artigo. De facto demasiado tempo, mas tem sido um período com alguns desafios e, em boa verdade, no que respeita ao calendário da FIJ, só se realizou a etapa Turca, que decorreu na famosa cidade costeira de Antalya.

Foi uma etapa em que Portugal voltou a brilhar, terminando numa honrosa 6.ª posição num total de 63 países. Destaco os 5.ºs lugares de Telma Monteiro nos 57 Kg e de Rodrigo Lopes nos 60 Kg, o “bronze” de Bárbara Timo, que continua a marcar e a mostrar um grande consistência nos 63 Kg que é a sua “nova” categoria de peso, e a colossal – sim, colossal – e arrebatadora vitória de Jorge Fonseca nos 100 Kg.

Jorge Fonseca fez uma cabal desmonstração do seu enorme valor e de que atravessa um excelente momento, tendo superado, numa memorável prestação, todos os seus adversários, sem que em algum momento a sua hegemonia fosse posta em risco. Com esta vitória, Jorge Fonseca assume a liderança do ranking Mundial da categoria dos 100Kg. Jorge volta a fazer história e repete o que Telma Monteiro já tinha atingido em 2009 e 2015: O lugar mais alto do Ranking Mundial (espero não ter falhado alguma data, mas é um verdadeiro desafio encontrar todos os momentos de destaque num currículo desportivo com o de Telma).

Dois meses separam esta etapa da próxima que, esperemos, decorra no início de Junho em Tbilissi, capital da Geórgia. A imprevisibilidade das consequências do conflito que assola a região após a invasão da Ucrânia, poderá ditar uma nova alteração no calendário previsto, o que será desastroso pois, relembro, temos campeonato do Mundo em Outubro, em Tashkent, capital do Uzbequistão e o inico da janela de qualificação Olímpica terá inico em Junho.

Bárbara Timo no pódio do GP Antalya (Foto: IJF)

Campeonatos da Europa de Sofia

Despois de uma memorável participação da equipa portuguesa nos Campeonatos da Europa de Lisboa, que decorreram em Abril de 2021, na Altice Arena, e dos rasgados elogios à fantástica organização destes campeonatos, o que é cada vez mais a norma, Portugal irá estar presente nos Campeonatos da Europa de Sofia com uma equipa muito compacta e com provas dadas. Os campeonatos decorrerão entres o dia 29 de Abril e o dia 1 de Maio.

Portugal tem o objetivo de igualar a prestação de 2021, o que será desde logo notável. Recordo que terminou com um “ouro” (Telma Monteiro nos 57Kg) e três “bronzes” (Bárbara Timo nos 70Kg, Rochele Nunes nos +78Kg e João Crisóstomo nos 66Kg).

Liderados por Ana Hormigo e Pedro Soares, estes serão os atletas que estarão presentes em Sofia:

Foto: Convocatória da Selecção

A grande ausência é a atleta do Sport Lisboa e Benfica, Rochele Nunes, que recupera de uma cirurgia ao joelho e que deverá estar de regresso antes do verão, a tempo de ganhar algum ritmo antes dos campeonatos do Mundo de Tashkent.

Jorge Fonseca irá lutar pelo seu primeiro título Europeu. No seu vastíssimo currículo, Jorge só tem uma medalha em Campeonatos da Europa de Séniores. Foi “bronze” em 2020, nos campeonatos da Europa de Praga. Acredito que Portugal tem condições para ter vários atletas a lutar por medalhas. Para além da eterna candidata e campeã em título dos 57 Kg, Telma Monteiro, Bárbara Timo, Catarina Costa e Anri Egutidze têm, na minha opinião, condições para chegar à luta pelas medalhas.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS