Eleições no judo português: mais do mesmo?
As eleições para a Federação Portuguesa de Judo-FPJ decorreram sem percalços, e o vencedor, tal como se antevia, foi Sérgio Pina. Previsivelmente, este ciclo de quatro anos ficará marcado por uma liderança discreta, sem sobressaltos, mas acima de tudo, de muita contenção financeira, pois a situação de falta de verbas é gravíssima e até já levou ao cancelamento da etapa que marcaria o arranque do Circuito Mundial de 2025 da Federação Internacional de Judo, o Grand Prix de Portugal.
Sérgio Pina é Presidente da FPJ
Este processo eleitoral fica irremediavelmente marcado por uma preocupante ausência de debate, debate que se impunha, designadamente, dada a situação financeira calamitosa da FPJ. Mas é o que fica das eleições que no dia 12 de outubro que elegeram Sérgio Pina, e restante equipa diretiva, para dirigir a FPJ durante os próximos quatro anos.
A tomada de posse do novo elenco federativo (na verdade sem grandes alterações comparativamente ao que estava em funções, pois Sérgio Pina era o presidente em funções, depois da destituição de Jorge Fernandes, que também esteve na corrida) decorreu em Viseu, cidade onde reside o presidente eleito e Capital Europeia do Desporto em 2024, ficando a dúvida sobre se a decisão foi motivada por comodidade própria ou por um anseio de “descentralizar” a modalidade que tem no litoral, com destaque para as regiões de Coimbra e da Grande Lisboa, os locais com maior demografia (clubes e praticantes).
Sinceramente não tenho quaisquer expetativas sobre o que acontecerá nos próximos quatro anos, o que é, desde logo, preocupante. Será, garantidamente, uma gestão em linha com os interesses dos delegados que elegeram esta equipa, típico das gestões federativas dos últimos 30 anos. Falta um plano estratégico de desenvolvimento da modalidade, falta a criação de infraestruturas federativas, como o “badalado” centro de estágio/tapete federativo, prometido por diversas direções, com condições dignas de receber os melhores judocas nacionais e internacionais, para estágios, concentrações de treinos…. É que o Judo é uma modalidade que, recordo, já valeu a Portugal 4 Medalhas Olímpicas!
Campeonato Nacional de Equipas Séniores
A edição de 2024 do Campeonato Nacional de Equipas Séniores teve um desfecho mais que previsível, com a vitória do Benfica em femininos e do Sporting em masculinos (7.º título consecutivo). A novidade foi o local onde decorreu a competição: Viseu. Ficou o registo triste de ver as bancadas praticamente vazias, despidas de público, sem o entusiasmo que em tempos marcou esta empolgante e quente competição do calendário nacional.
Contudo, foi uma agradável surpresa ver, tanto o Benfica, como o Sporting, a apostarem e a apresentarem os seus primeiros planos: Telma Monteiro, Bárbara Timo, Rochele Nunes, na equipa feminina do Benfica e Otto Kvantidze, João Fernando e Jorge Fonseca na equipa masculina do Sporting. Também uma menção para Catarina Costa que fez questão de dar uma ajuda à sua equipa, Associação Académica de Coimbra. Foi muito bom para o Judo Português ver a quase totalidade dos mais mediáticos judocas portugueses a representar os seus clubes nesta emblemática competição. Estes foram os resultados:
MASCULINOS
1.⁰ SPORTING CLUBE DE PORTUGAL
2.º ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA
3.º UNIVERSIDADE LUSÓFONA
3.º SPORT ALGÉS E DAFUNDO
FEMININOS
1.º SPORT LISBOA E BENFICA
2-º SPORT ALGÉS E DAFUNDO
3.º ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA
Em jeito de balanço, cumpre salientar que a “descentralização” não passa simplesmente por “obrigar” os clubes de Lisboa, ou de Coimbra, geografias onde temos a maior concentração de clubes e judocas, a percorrer centenas de quilómetros. A descentralização passa por dinamizar a modalidade no interior e regiões autónomas, com investimento e incentivos, com a implementação de um plano e objetivos, sabendo de antemão os enormes desafios que os praticantes e clubes destas regiões têm, comparativamente aos clubes do litoral e das grandes metrópoles portuguesas. Também este teria sido um tópico muito interessante e fundamental para um debate entre as três listas que se apresentaram às eleições, mas não aconteceu, o que é lamentável… .
Campeonato Mundial de Veteranos – Las Vegas 2024
Para quem ainda não arrumou o judogui, ou aposta na vertente dos katas (forma- sistema formal de exercícios ordenados com antecedência), a FIJ tem organizado, anualmente, o Campeonato do Mundo de Veteranos e katas. Este ano, a cidade norte americana de Las Vegas recebeu esta competição, e o grande destaque, no que respeita à participação portuguesa de veteranos, foram os títulos mundiais de José Gomes nos 66Kg (escalão etário M9), Atleta Olímpico em Montreal 1976, onde terminou na 7.ª posição dos 63Kg, e que aos 70 anos continua a apresentar uma condição física fantástica, de fazer inveja a muito jovens, e de Catarina Diniz nos 57Kg (escalão etário M4), que, apesar da exigente profissão de médica, ainda tem tempo para estes desafios, e viu a sua dedicação ser compensada com o título mundial. Também menção para João Santos e António Boloto, que conquistam as medalhas de bronze nas categorias de -90kg e -100kg, respetivamente, no escalão de M4. Parabéns a Todos!
Circuito Mundial
No que respeita ao panorama internacional, o Judo começa a ter a sua retoma, lenta, é certo, pois ainda estamos na ressaca da competição olímpica. Assim, decorreu entre os dias 11 e 13 de Outubro o Grand Slam de Abu Dhabi, ainda sem portugueses, mas onde foi possível assistir ao regresso de alguns dos principais atletas do circuito. A nota de destaque foi a presença, em força, dos atletas russos, que, como era previsível, dominaram, e demostraram que a ausência da competição olímpica, de alguns deles por imposição do Comité Olímpico Internacional, e de outros, por impedimento, como retaliação, decidido pela Federação Russa, acabou por desvirtuar e ferir a veracidade dos resultados dos Jogos Olímpicos, a mais importante e marcante competição na vida de um judoca.