Definidos os grupos do pré-Mundial de basquete feminino 2026
Na iminência de outra ‘janela Fiba’, período de interrupção na temporada de clubes para dar lugar às seleções no calendário do basquete feminino, ainda digerimos os resultados da janela de julho e agosto (Chegou o tempo das seleções no basquete feminino). A bem da verdade, a janela de novembro possui pouca relevância, devido ao pouco tempo de reunião no curto período de tempo e à ausência de competições oficiais – excetuando as eliminatórias para o Eurobasket de 2027, será uma janela de treinos e amistosos. A FIBA estabelece o calendário mundial pautado exclusivamente na Europa – nada novo no fronte – e o Brasil, por exemplo, utilizará a janela para reunir um elenco ampliado e dar algum entrosamento à seleção. Importante, de fato, foi a janela do meio do ano, quando se disputaram os continentais, etapa inicial rumo ao Mundial do ano que vem. As seleções classificadas em cada uma das quatro regiões/continentais disputarão o pré-mundial, entre 11 e 17 de março de 2026, na ‘janela Fiba’ seguinte.
Das 24 seleções, 16 garantirão as vagas do Mundial. A Fiba optou por dividir as 24 concorrentes em 4 grupos. Como a sede do Mundial (Alemanha) e as campeãs continentais (EUA, Bélgica, Nigéria e Austrália) já estão classificadas, e disputarão os pré-mundiais de forma despretensiosa, cada grupo possui uma diagramação distinta, a qual destrinchamos a seguir.

O primeiro grupo será sediado em Wuhan, na China, e contará com a Bélgica, campeã européia (Retrospectiva dos continentais, parte 1: Eurobasket), além da própria China. Enquanto aquela usará o torneio para buscar mais alternativas para sua rotação (qualquer bancária com minutagem eficiente aliviará a carga no envelhecido quinteto titular), as chinesas aparecem como favoritas à primeira vaga disponível, seja pelo retrospecto recente, seja pela pesada rotação de pivôs, seja por jogarem em casa.
Sobram duas vagas, em disputa por Tchéquia, Brasil, Mali e Sudão do Sul. Acredito que tudo pode acontecer entre as quatro seleções, apesar da Tchéquia despontar com ligeiro favoritismo. Trata-se de uma das campeãs do pré-pré-mundial (2024), com sólidas campanhas nos Eurobaskets mais recentes; se as tchecas carecem de um talento superior, explosão e atleticismo, compensam com um conjunto coeso, ciente de suas características e bem fundamentado. Porém, as concorrentes possuem antídotos para sua maior qualidade, o jogo das pivôs (Emma Checova e Julia Reisingerova). O Brasil chegou ao vice da Americup (Retrospectiva dos continentais, parte 2: AmeriCup) extremamente dependente de suas pivôs Kamilla Cardoso e Damiris Dantas; o grande destaque malinês recai na atlética pivô Sika Kone.
O Brasil, por sua vez, demonstrou um elenco extremamente descalibrado, sem nenhuma armadora minimamente confiável. Para retornar ao Mundial, precisará de mais exibições estelares da novata Bella Nascimento e de qualquer contribuição do resto da rotação – as esperanças recaem no trabalho da treinadora Pokey Chatman. As brasileiras vêm falhando em dar o último passo rumo às grandes competições internacionais e terão confrontos pouco usuais, vez que precisam vencer a escola africana (em 2024, perderam para Senegal no pré-pré-mundial).
Mali e Sudão do Sul, medalhistas de prata e bronze no Afrobasket (Retrospectiva dos continentais, parte 4: Afrobasket), chegam com expectativas diferentes. Mali consolidou-se como segunda força africana, enquanto as sul-sudanesas chegam sem peso. Para uma seleção estreante, de um país novo, montada na diáspora, atingir o pré-Mundial já é uma vitória. Entretanto, uma vez lá, tudo pode acontecer. Curiosamente, Mali e Sudão do Sul duelaram duas vezes no Afrobasket, microcosmo do que podemos esperar para março.
Se, no primeiro confronto, Mali sofreu com a estratégia defensiva do Sudão do Sul, que engarrafou o garrafão e liberou todos os arremessos exteriores, seu técnico Oumarou Sidiya ajustou o ataque para o segundo duelo e venceu sem nenhuma dificuldade. Resta saber qual versão malinesa aparecerá na China; a única certeza é a defesa atlética, veloz e com muita envergadura, característica comum ao Sudão do Sul (temo pelas amadoras brasileiras). Com rotação mais curta, o Sudão deve aparecer com o mesmo padrão defensivo (mesclando individual e zona, com ênfase nos rebotes e no garrafão), mas possui versatilidade ofensiva. A armadora Delicia Washington centraliza a bola e é o principal desafogo, embora a mais eficiente seja a pivô Maria Gakdeng. As duas últimas vagas do grupo estão abertas (a depender do comprometimento belga nessa janela, podemos até mesmo testemunhar resultados inusitados).
O segundo grupo será sediado em Lyon-Villeurbanne, na França. Com duas seleções classificadas (Alemanha e Nigéria, campeã africana), a vaga francesa é ‘fava contada’, restando somente uma em disputa. Aqui, o favoritismo é amplo em favor das sul-coreanas: a Colômbia não causa medo em ninguém, enquanto as filipinas, com talento individual no perímetro, não foram páreo para a Coréia do Sul na Asiacup, quando saíram derrotadas por sonoros 71 x 104 (Retrospectiva dos continentais, parte 3: Asia Cup).
Em San Juan, as anfitriãs lutarão por uma das duas vagas em disputa. Os EUA, como campeões da América, estão assegurados; a Espanha é uma potência na modalidade e só fica fora em caso de uma catástrofe histórica. Assim, Porto Rico, Nova Zelândia, Senegal e Itália disputam, com muito equilíbrio. Com um representante de cada região, os confrontos tornam-se menos previsíveis: as italianas faturaram o bronze no Eurobasket e possuem um bom conjunto e um destaque (Cecilia Zandalasini), mas a inexperiência em torneios mundiais pode pesar; as porto-riquenhas terão a torcida a seu favor, porém fizeram uma Americup bem abaixo e dependem em excesso da ala Arella Guirantes; Senegal também vem de um continental decepcionante, mas foi bem no último torneio mundial que disputou (pré-pré-mundial); as neo-zelandesas precisam de algo a mais para buscar a vaga (talvez o retorno da armadora Charlisse Leger-Walker?).
O último grupo deve ser o mais disputado, com equilíbrio e o melhor nível técnico. Excluamos a Austrália (campeã da Asia Cup), já garantida no Mundial, e a Argentina (a seleção deu muito azar no sorteio, seu nível mediano será testado contra seleções de ponta), e sobram três vagas entre Hungria, Turquia, Canadá e Japão. A Turquia venceu a primeira, levando o torneio para Istambul, além de ter desempenhado muito bem no Eurobasket. McCowan segue o eixo do time (para o bem/ataque, ou para o mal/defesa), mas as três armadoras do Fenerbahçe (Sevgi Uzun, Olcay Turgut e Alperi Onar) elevaram o nível de competitividade da Turquia. As três são boas marcadoras, a espinha dorsal é complementada por boas peças e o técnico encontrou uma formação exitosa no europeu. A seleção chegará com o ânimo nas alturas.
O estilo húngaro assemelha-se ao turco, com um garrafão forte. Para piorar, a Hungria sequer classificou-se para o Eurobasket e permanece na esperança da vaga graças à conquista de um dos pré-pré-mundiais; alguma contribuição de seu perímetro será muito bem vinda. Canadá e Japão oscilaram nos continentais, assim como seus desempenhos recentes nos torneios de primeiro porte. O Canadá chegou em quarto no Mundial de 22, para logo depois ser eliminado na fase de grupos das Olimpíadas de 24, resultando na troca de técnico. Figurinha carimbada no Mundial, suas estrelas devem retornar à seleção e elevar o nível.
A oscilação japonesa pôde ser testemunhada na Asia Cup, quando penou para vencer apertado seleções irrelevantes na fase de grupos para depois vencer as chinesas na semi-final, jogando um basquete inteligente e coletivo, centrado na velocidade e nos arremessos de três. A essa altura, todos conhecem o estilo japonês e sua desvantagem de altura, mas poucos conseguem combater sua velocidade, suas dobras defensivas e sua fluidez ofensiva.
Mal podemos esperar por março, na última etapa antes do Mundial.



