Reps e No Reps – outro lado das competições de CrossFit

Cláudia Espirito-SantoJunho 27, 20187min0
Henrique Rocha partilha a sua experiência como Juiz e o Projecto Perfect Rep! A importância das Reps no Crossfit! Fica a conhecer melhor este projecto!

Como atletas ou praticantes de CrossFit vivemos uma competição diária connosco próprios na perspectiva de melhorar e de nos superarmos sempre que possível.  Na óptica de espectadores de competições nacionais e internacionais focamos na performance dos atletas e analisamos a gestão dos WODs, a intensidade da performance e claro o que poderia ter corrido melhor nessa prova.

Contudo, é frequente um dos elementos mais importantes de uma competição de CrossFit ser quase invisível aos olhos do público, porque um bom Juiz está presente para o atleta contando repetições e avaliando a correcta execução dos standards do movimento, mas passa quase despercebido para quem está a assistir à prova.  É contudo um papel crucial para tornar qualquer prova de CrossFit possível.  É quem vai garantir que as repetições são bem contadas, que os movimentos estão todos a cumprir as mesmas regras de execução e pode mesmo ter um papel determinante no resultado final de uma prova.

Saber avaliar a correcta execução e validade de um movimento permite garantir que a prova é justa para todos os atletas.  Uma competição onde um juiz conta repetições não válidas, ou NO REPs a um atleta como válidas pode colocar em causa toda a credibilidade da prova e desqualifica atletas que mereciam ser qualificados, bem como destaca atletas que não executaram correctamente os movimentos.

O papel de um Juiz é contar repetições e garantir que o atleta está ciente dos standards de movimento garantindo que os cumpre a cada repetição, mas é um trabalho bem mais complexo do que parece à primeira vista.  Na nossa perspectiva, ninguém melhor que um dos nossos juizes portugueses  de referência com maior experiência em campo e responsável pelo projecto Perfect Rep, Henrique Rocha, para nos elucidar um pouco melhor o  papel de um Juiz no CrossFit.

Foto: Perfect Rep
De onde nasce a paixão por ajuizar WODs em Competições de CrossFit?

Desde sempre gostei de competição.  É fantástico estar na arena, embora que as estrelas sejam os atletas, nós sentimos igualmente a emoção. Ajuizar para mim dá-me o mesmo gosto que tenho em ser coach. Sinto que estou a ajudar um atleta na sua performance.

Quais são as características de um bom Juiz nesta modalidade?

Um juiz tem de ser justo e comunicativo. Está a garantir que o atleta à sua frente não é beneficiado ou prejudicado em relação aos restantes. “Perdoar” uma repetição menos clara, será injusto perante os atletas que estão a dar o seu melhor para cumprir os standards. A uniformidade de critério entre Judges é a nossa maior preocupação.

O judge tem de comunicar e cooperar com o atleta durante todo o wod. Ao comunicar consegue evitar a “no Rep” e assim facilita a sua prestação.

Quais são as maiores dificuldades que um juiz enfrenta quando está perante um atleta numa competição?

A grande dificuldade é a comunicação. Num segundo apenas o judge tem de decidir se o movimento cumpriu ou não os standards, em seguida assinala-lo gestual e verbalmente, comunicar ao atleta qual o erro, e ainda manter a contagem da sequência certa… e regista-la no score card também.

És dos juízes mais experientes de Portugal tanto em provas nacionais como internacionais (incluindo os CrossFit Regionals).  Que diferenças sentes como juiz entre as competições nacionais e as que são fora do nosso país?

Como Judge não sinto grandes diferenças. Em competições internacionais como German, French ou Regionals, temos atletas de topo, com performances fantásticas. A sua velocidade de execução é muito elevada. Exige portanto que o juiz não possa hesitar e seja muito pronto na comunicação com o atleta, quer na validação da rep, quer a assinalar a no rep e todos os procedimentos que isso acarreta. Os atletas nacionais estão a aproximar-se deste nível de performances. Desempenhos onde os pormenores são o ponto diferencial. Os atletas têm a sua estratégia e o judge não pode interferir o mínimo com a sua performance. 

Como o judge tem sempre o mesmo respeito por um atleta de Regionals como por um atleta scaled, no seu desempenho tem de ser igualmente profissional. Claro que há mais impacto, mais “luzes, camera acção”, mas depois que começa o wod, só o wod interessa.

Uma diferença poderá estar no mindset dos atletas que chegam ás maiores competições, e em Portugal já temos atletas desse nivel, contudo um atleta que tenha no seu mindset reclamar, duvidar da decisão do judge não estará ainda alinhado para ter um desempenho a topo regularmente.

Como surgiu o projecto Judge Perfect Rep?

A Perfect Rep surgiu em 2016 comigo e com um dos melhores judges que já conheci, o André Simões. Juntos percorremos quase todas as competições nacionais voluntariando-nos para colaborar com as organizações, primeiro como judges, e mais tarde como HeadJudges. Uma das tarefas era contatar voluntários e prepara-los. Tentamos assim criar uma entidade de referência, que conseguisse melhores condições para que aqueles que viessem ajuizar e assim repetissem  a experiência. Desta forma aumentaríamos o nosso número de judges garantindo que estes tinham alguma experiência de competição para competição.

O feedback à Equipa Perfect Rep é excelente. A Equipa tem crescido com a modalidade?

A equipa cresceu imenso com as competições e vice versa. Quando estamos presentes, atletas e organização sentem a diferença. Gostamos de estar muito perto dos Mentores das competições e contribuir com o nosso knowhow adquirido ao longo destes anos. Sentimos-nos muito ligados a toda a evolução tentando ter a preparação ajustada à qualidade dos atletas nacionais que vem crescendo exponencialmente.

Quais são os objectivos futuros da Perfect Rep?

Temos vários objetivos como garantir cada vez mais qualidade dos judges, sendo que para isso é necessário também garantir melhores condições para os judges. Neste momento encontramos-nos a estruturar uma melhor forma de “fidelizar” um judge de forma a não ser necessário estar constantemente a fazer recrutamento de novos judges. Paralelamente estamos com um projeto de “amadurecer” os standards dos movimentos, assim como melhor instruir os atletas. Novidades a saírem brevemente.

Se alguém quiser ser Juiz na Equipa o que precisa fazer?

Para ser Judge basta entrar em contato connosco através da página. Não exigimos nenhuma formação à priori, porém será sempre vantajoso ter experiencia, mesmo que tenha sido judge em evento na box como o Open, 

Ser praticante da modalidade para ter melhor conhecimento dos movimentos e quais as dificuldade ao realiza-los ajudará, assim como qualquer formação da crossfit como o L1 ou o Judge Course. 

Contudo, costumamos dizer que só necessita ter vontade e disponibilidade.

Qual foi o/a atleta que, até hoje, te deu mais gozo ajuizar e porquê?

Essa é difícil. Já avaliei performances muito boas, porém não considero que os tenha ajuizado diferente de um atleta iniciante por exemplo. Quando estou a ajuizar não estou atento ao nome do atleta.Contudo posso referir uma atleta que ajuizei na minha primeira competição (2014)  – Sónia Alves. É uma atleta fora de série e o seu mindset já se demonstrava diferenciada dos restantes. Foi uma ladder de snatch e ela foi fenomenal no seu score.

Para saber mais sobre o projecto Perfect Rep é só consultar a página de Facebook: https://www.facebook.com/PerfectRep/

Foto: Perfect Rep

 


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