Conquista do Torneio Internacional da Batalha na preparação para o Mundial

Ana CarvalhoMarço 10, 20237min0

Conquista do Torneio Internacional da Batalha na preparação para o Mundial

Ana CarvalhoMarço 10, 20237min0
Ana Carvalho analisa as prestações da selecção nacional feminina de andebol que venceu o Torneio Internacional da Batalha 2023

Decorreu no último fim de semana o Torneio Internacional da Batalha, torneio de seleções nacionais onde estiveram presentes as seleções de Cabo Verde, Itália e de Espanha, para além da seleção nacional feminina.

Este foi um torneio que serviu de preparação para os embates que vão decorrer no próximo mês de Abril no caminho para o Campeonato Mundial a realizar-se no final deste ano de 2023. Portugal irá nessa altura defrontar a poderosa Roménia, que será um adversário muito difícil de ultrapassar, mas o trabalho e os resultados nos últimos anos têm-nos feito sonhar e acreditar que a presença nos grandes palcos internacionais está perto para a nossa seleção nacional feminina.

Portugal começou por defrontar a seleção de Itália no dia 3 de Março, tendo sido claramente superior ao longo de toda a partida.

Ao intervalo o resultado era já de 17-13, e essa vantagem manteve-se durante a segunda parte (resultado final 27-22), sendo possível fazer bastante rotação de atletas, dando muito tempo de jogo a todas as jogadoras. No outro jogo do dia, Cabo Verde enfrentou a seleção espanhola, e o poderio da seleção ibérica fez-se sentir, sendo explicito no resultado final (35-11).

No sábado dia 4 de Março, Portugal defrontou a seleção de Cabo Verde, liderada pelo treinador português Fernando Fernandes, que acumula funções de selecionador com a de treinador da equipa feminina do ABC, e que tem ao seu dispor muitas atletas que competem no campeonato nacional.

A seleção cabo-verdiana está em processo de renovação e crescimento, já que Fernando Fernandes está no comando da equipa apenas desde Setembro, notando-se isso inclusivamente nos momentos de anarquia que acontecem durante o jogo, mas é um equipa com uma grande margem de progressão, especialmente pela compleição física das atletas que compõem a equipa. Portugal era considerado favorito, mas o conhecimento mútuo de ambas as equipas trazia um condimento especial. Notou-se neste jogo já mais ligação entre as várias atletas portuguesa, um jogo mais fluído, sendo o modelo de jogo do treinador José António Silva cada vez mais notório.

A defesa sólida, aliada a uma transição ofensiva forte, levou a que o resultado ficasse bastante desnivelado favoravelmente para a equipa portuguesa. Uma vez mais a rotatividade aconteceu com alguma frequência, com mais trocas nas posições da primeira linha, onde há maior variabilidade de atletas (11 atletas entre as posições de lateral direita, lateral esquerda e central). Já nas posições da segunda linha parece que estamos a ter um problema nacional de falta de atletas com qualidade para a equipa nacional, especialmente na posição de ponta esquerda (apena presente Carolina Monteiro) e de pivot ( presentes a capitã Bebiana Sabino e a atleta do SLBenfica Adriana Lage). O resultado final foi 17-33. No outro jogo do dia, Espanha mais uma vez venceu sem muita dificuldade a seleção de Itália (22-35).

Foto: FPA

Com estes resultados, ficava para o último dia do Torneio Internacional da Batalha a decisão do grande vencedor desta competição. A história diz-nos que Espanha é claramente favorito em relação à seleção portuguesa, já que falamos de uma seleção sempre presente nos europeus e mundiais da modalidade, tendo sido inclusivamente vice-campeão mundial em 2019 e estando sempre próxima de vencer medalhas nas provas internacionais.

No entanto os últimos embates entre as duas seleções ibéricas no apuramento para o Europeu de 2022 já nos davam indicadores que Portugal estaria mais próxima de mudar a história. José António Silva começou o jogo com Maria Pereira a lateral direita, Mihaela Minciuna a central e Maria Unjanque a lateral esquerdo, no entanto esta combinação não foi a mais eficaz para o tipo de defesa que a equipa espanhola nos apresentou. O modelo de jogo defensivo espanhol pressupõe defesa muito agressiva, com muitas saídas ao ímpar, o que faz com que o ataque tenha de trabalhar no princípio dos apoios mútuos, ou seja, têm de apresentar atletas com capacidade de soltar a bola rapidamente, boa leitura de jogo e excelente mobilidade, para além da capacidade de troca de posições consecutivas.

A convocatória feita por José António Silva apenas apresentava uma central organizadora de raiz, a atleta Patrícia Lima, mas que infelizmente não esteve disponível para jogar por motivo de lesão. Com esta ausência foram adaptadas a esta posição de organizadoras de jogo outras atletas como Joana Resende, Mihaela Minciuna ou também Sandra Santiago. Destas, foi Joana Resende quem mais se destacou com qualidade, especialmente no embate contra a equipa espanhola, com a ajuda da lateral esquerda Sandra Santiago, que sendo atleta do campeonato espanhol, foi claramente a atleta mais influente neste jogo a nível ofensivo, e a lateral direita Beatriz Sousa, que sendo esquerdina, fez toda a diferença neste jogo na criação de vantagens para si e para o lado contrário. A melhor marcadora foi a capitã Bebiana Sabino (6 golos) que liderou a equipa ofensiva e defensivamente, com mestria e muita experiência, de forma a atingir o resultado positivo no final.

O jogo foi sempre muito equilibrado, tendo Portugal ido para o intervalo a perder por um golo (9-10), mas a partir de meio da segunda parte o resultado dilatou um pouco a favor de Portugal especialmente devido a uma excelente consistência defensiva com a ajuda da guarda-redes Jéssica Ferreira, tendo chegado a uma vantagem de 4 golos.

Nos últimos dez minutos de jogo, Espanha conseguiu aproximar-se no resultado, mas a seleção nacional conseguiu manter o resultado positivo, tendo vencido pela margem mínima a seleção espanhola (20-19). Com este resultado Portugal fez história, dando esperanças para que no futuro a equipa feminina possa estar presente e com regularidade nas competições internacionais.

De mencionar a primeira internacionalização A da atleta Carolina Loureiro, lateral esquerda do Celles-sur Belle da primeira divisão feminina francesa, mas que acabou por ser adaptada à posição de pivot, posição em que aparecia com regularidade nas seleções jovens. Também a lateral esquerda Carmen Figueiredo foi adaptada a uma posição que não é a sua, a ponta esquerda, tendo jogado quase metade do tempo nos três jogos, perdendo a equipa nacional um posto específico de ataque, mas dando mais estrutura defensiva, não forçando a mais uma troca defesa ataque.

Com este resultado, Portugal venceu o Torneio Internacional da Batalha, tendo Espanha ficado na segunda posição. No duelo para a disputa do terceiro lugar, Itália venceu 36-28 a seleção de Cabo Verde, tendo então ficado no último lugar do pódio.

Regressa agora o campeonato nacional, sendo que a seleção nacional volta a reunir-se de 6 a 12 de Abril, quando irá realizar os dois embates contra a seleção da Roménia, para apuramento para o campeonato mundial da modalidade, sendo que fica na história a conquista deste Torneio Internacional da Batalha 2023.


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