Treinar para superar a mente – Parte II
Quando um ciclista domingueiro participa em provas: desistência, pódio, superação pessoal!
Em Abril de 2014 resolvi participar numa prova regional com o intuito de a terminar apenas. Eram 45 km de BTT e eu nessa altura já fazia 50-60 km nas minhas voltas. O problema é que eu andava maioritariamente por estrada e as coisas são totalmente diferentes – obviamente que isso só foi reconhecido no final dessa prova. Demorei quase 5 horas para a completar e acreditem que não fui o último.
Pelo meio pensei várias vezes “só espero que a bicicleta aguente tanta pancada”, e “eu devo ser o último de certeza”, “já devem ter todos ido embora, pois não vejo ninguém”. Seja como for, quando cheguei à meta, estava de rastos, porém com uma satisfação inexplicável – a sensação de missão cumprida estava lá, e a vontade de repetir nova aventura também.
Assim foi, mantive as minhas voltas domingueiras e comecei a ir a provas, tentando sempre aumentar a dificuldade – aliás, a minha teimosia/persistência tem uma desvantagem: eu gosto sempre de fazer mais do que fiz da última vez. E mesmo sabendo que mais nem sempre é melhor, eu vou na mesma – obviamente que já paguei essa fatura e ainda hoje a pago em determinadas decisões.
Numa dessas participações, em Julho de 2014, decidi aventurar-me numa maratona de 70 km – já os tinha feito ao domingo nas minhas voltas e então achei que era capaz. Pois bem, passado 5 horas e tal de prova ainda me faltavam uns 15 ou 20 km e acabei por desistir. Não exclusivamente por uma questão física, mas sobretudo psicológica. Não estava mentalmente preparado para aquilo e admito que foi das piores sensações que tive.
Isto é, senti que me tinha desiludido, mesmo reconhecendo que a bicicleta não era um objetivo profissional/desportivo – mas, no fundo, não gostei nem gosto de falhar, nomeadamente comigo.
Por isso mesmo, a partir desse momento, disse que nunca mais iria desistir de uma prova a não ser por lesão ou falha mecânica. E já passei por cada uma… autênticos desafios: desde ter de acabar os últimos 10-15 km a correr, e a descer apenas na bicicleta, porque as mudanças não entravam; ou acabar uma prova com uma fratura num dedo.
Foi também após essa prova que comecei a fazer voltas mais longas e a adorar pedalar 4 a 5 horas, às vezes até mais. Saía no frio, na chuva, no calor – as manhãs de domingo eram passadas na bicicleta. Em 2014, comprei uma bicicleta nova e um conta-Km’s – sim, porque eu fiz várias provas sem Km’s – e, claro que o gozo por pedalar foi-se intensificando.
Passei para uma bicicleta de carbono e roda 29 e foi como passar para um foguete! Claro que a preparação física é que conta maioritariamente, mas andar com bom material ajuda e dá um gozo tremendo – parecia um miúdo com um brinquedo novo.
Estava mais do que comprovado que a bicicleta permitia-me desanuviar de uma forma diferente do ginásio – não deixei o treino de força, pois este desporto também me dá ótimas sensações. Mas com a bicicleta consigo superar desafios que nunca imaginei conseguir. Como é que uma pessoa, que em miúdo sofria para fazer o teste de Cooper nas aulas de educação física, agora tem prazer por pedalar durante horas – e não falamos de ritmo de turista.
Comecei a participar em provas mais longas sempre com o objetivo de chegar ao fim, satisfeito e a dar o melhor de mim! Costumo sempre dizer que o importante é não me magoar e a bicicleta não se estragar. Fui fazendo meias maratonas, depois passei para maratonas e este ano até completei uma ultramaratona.
Como não tenho disponibilidade durante a semana para pedalar convenientemente, e porque também gosto do treino de força, não encaro a bicicleta como uma forma de competição, a não ser comigo mesmo. Posso não ser o mais rápido, mas tenho uma enorme vontade e persistência por conseguir superar-me. E graças a isso, este ano até consegui um 3º lugar numa maratona!
“Treinar para superar a mente” é um relato feito por José Afonso, dividido em três partes. O próximo artigo contará como é possível superar todas as dificuldades de uma prova BTT.