Tour – Conclusões de uma espetacular 2ª semana

Diogo PiscoJulho 23, 20198min0

Tour – Conclusões de uma espetacular 2ª semana

Diogo PiscoJulho 23, 20198min0
Um Tour que parecia a grande oportunidade para um alargado número de favoritos, teve uma 2ª semana que arrasou grande parte desta lista. Enquanto uns desiludem outros dão esperança. O Fair Play apresenta as principais considerações de uma grande 2ª semana.

Thibaut Pinot confirma o grande momento de forma

À partida do Tour, Pinot (Groupama FDJ era apontando com um dos grandes favoritos a pelo menos um top5. A ausência de alguns nomes fortes e um Tour com muita montanha e pouco contra-relógio colocavam o francês nos lugares cimeiros de uma alargada lista de favoritos. Enquanto muitos desses desiludiram, o líder da Groupama FDJ não. Atacou nas subidas, conseguiu minimizar as percas no contra-relógio por equipas e no individual, puxou da ousadia, tática e grande capacidade física, garantindo à entrada da última semana uma vitória de etapa e um quarto lugar que podia ser mais alto não fosse o percalço da nona etapa. Mérito também do trabalho da equipa, sobretudo de Damien Gaudu e Sebastien Reichenbach.

Pinot terá agora os Alpes pela frente para fazer a diferença para os 3 que estão entre ele e o sonho de conquistar a Amarela! Até agora tem sido superior nas montanhas, mas a terceira semana já o castigou por mais que uma vez.

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Thibaut Pinot e Julian Alaphillipe fazem sonhar os adeptos franceses (Foto: abc.net)

Julien Alaphilippe vai disfrutando

O homem show deste Tour, que ninguém duvide disso. A especulação e tão grande como a esperança e a dúvida. Todos estão de olho no francês mais famoso da actualidade. Uns esperam que quebre, outros esperam que aguente. Mas enquanto a quebra não vem, o francês vai lutando com unhas e dentes pela “sua” amarela. Outra resposta não seria de esperar, pois ninguém estaria à espera que um ciclista que luta até à última por todos as suas vitórias, metesse o pé no chão e deixasse o pelotão passar só porque a crítica diz que é impossível alguém que apontou o topo de forma para as clássicas aguentar as 3 semanas do Tour. Uma boa aplicação do velho ditado português “enquanto dura, faz figura”, se durar até ao fim, melhor. No entanto, o Francês já começou a mostrar debilidades, um bocado por culpa de querer responder a pronto a todos os ataques que lhe são feitos. Se for um pouco mais conservador e evitar o choque direto com os adversários, o Top 10 é bem provável e um prémio bem merecido para Julien Alaphilippe (Deceunick-Quick Step).

Thomas não é Froome

É certo que o galês é  o melhor colocado para roubar a camisola amarela a Alaphilippe, sendo 2ª na classificação geral. Mas Geraint Thomas (Team Ineos) está longe do nível de Chris Froome e não fosse o contra-relógio individual poderias estar atrás do companheiro Egan Bernal. O atual detentor do Tour tem revelado dificuldades na alta montanha, perdendo o contacto com os favoritos sempre que surgem os ataques. Thomas parecia ter afastado o fantasma do “dia mau” com a sua prestação concisa do ano passado, mas agora volta a ser assombrado e a defesa do titulo parece menos certa que o ano passado.

Nairo Quintana volta a desiludir

À imagem de Pinot, dada a conjetura inicial, este parecia o Tour ideal para que finalmente Nairo Quintana (Movistar Team) vencesse o Tour. O colombiano de 29 anos parecia ser um caso sério quando apareceu ainda muito jovem ao serviço da Movistar, tendo conseguido mesmo vencer a camisola da juventude no Tour e vencer duas Vueltas e um Giro. No entanto, o trepador teve um declínio acentuado nos últimos anos, estando longe do ciclista que era quando apareceu na Europa. Nesta volta à França, a entrada para a última semana consegue está a mais de 8 minutos do camisola amarela. Pior que isso, Quintana teve uma quebra muito grande no ataque ao Tourmalet, um terreno que supostamente lhe seria favorável e numa altura em que era o o melhor colocado da equipa, sendo a sua liderança inquestionável. Neste momento, esta atrás de dois companheiros de equipa, Alejandro Valverde de 39(!) anos e Mikel Landa, que tem o desgaste do Giro nas pernas.

Porte, Uran e Martin com um sonho cada vez mais impossível

É sempre difícil afirmar estas sentenças com firmeza, mas é impossível que Richie Porte (Trek-Segafredo), Rigoberto Uran (Education First) e Dan Martin (Team Emirates) venham conquistar o Tour. Será mesmo muito difícil alcançarem o sonho do Top 3, sendo que o único que o conseguiu foi Uran em 2017. Os anos passaram e apesar de eternos favoritos, mesmo que muitas vezes mais favoritos ao pódio do que à vitória, por vários azares os 3 ciclistas em questão nunca confirmaram o potencial que lhes foi reconhecido. Hoje já avançados na idade, a sua forma física está longe do que era e parecem uns furos abaixo dos jovens valores que se começam a afirmar.

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Martin e Porte estão já afastados da luta pela vitória

Enric Mas e Adam Yates longe da afirmação

Enric Mas (Deceuninck – Quick step) afirmou que vinha para atacar a vitória no Tour, após ficar em 2º na Vuelta a Espana 2018, enquanto Adam Yates (Mitchleton Scott) vinha atrás de um pódio que lhe escapou em 2016, com apenas 23 anos. Um lugar no pódio seria a afirmação como sendo dois dominadores das 3 semanas para o futuro, mas Yates ficou afastado logo no contra-relógio e parece que nem chegou a entrar na montanha, e Mas conseguiu minimizar o contra-relógio, aguentou um abanão no Tourmalet, mas rebentou na última etapa da semana. Sem dúvida ficaram muito longe do que se esperava.

Onde anda a Astana?

Candidata a um lugar no top 5 com Jakob Fuglsang e a vitórias em etapas, a verdade é que a Astana tem desiludido este Tour. Fuglsang ainda não mostrou capacidade de inverter o rumo das coisas, e na luta por vitorias em etapas, nomes como Pello Bilbao, Omar Fraille e Magnus Court Nielsen têm andado afastados das decisões. Com o início de época fantástico onde andaram taco-a-taco com a Deceuninck – Quick step, na luta pelo título de equipa com mais vitórias, acaba por ter um Tour abaixo do espectável.

A surpresa Emanuel Buchmann

Quase sem se dar por ele, o alemão de 26 anos vai fazendo o seu caminho e está muito próximo do pódio. Esteve bem no contra-relógio individual e tem demonstrado estar bem na alta montanha, respondendo a todos os ataques da conconrrência direta. Além disso tem uma bela equipa com ele, de onde se destacam Patrick Konrad e Maximilian Schachmann, nomes fortes da Bora-Hansgrohe

O “benchmark” Froome

É inevitável a comparação Tour com Froome e Tour sem Froome. Varias são as análises, as opiniões, os artigos e quase todos acabam neste ponto. Muitos são os desfechos e as razões apontadas, mas uma coisa parece certa, se o homem da Team Ineos estivesse presente as coisas seriam diferentes. Mas na verdade, muitos daqueles que foram os seus grandes adversários nos últimos anos têm sucumbido à dureza do Tour, mesmo sem ter um Froome com uma super equipa a controlar a prova de inicio ao fim.

A ausência de Froome fez parecer que esta seria a derradeira oportunidade para uma lista muito alargada de ciclistas que nunca conseguiram fazer frente ao britânico e à sua poderosa equipa. Muitos desses nomes foram agora identificados como tendo falhado esse objetivo, o que faz com que os adeptos falem não só na ausência de Chris Froome, mas também na eventualidade de Tom Dumoulin (Team Sunweb) vencer o seu primeiro Tour caso o holandês estivesse presente, ele que é apontado por muitos como o grande nome para destronar Froome do seu pedestal. Alguns questionam ainda  a participação de Vincenzo Nibali (Bahrain Merida) e de Primoz Roglic (Team Jumbo Visma) no Giro deste ano, e os mais saudosistas, remontam a um abandono que pareceu prematuro de Alberto Contador, que ainda teria capacidade para aqui estar.

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O equilibrio deste Tour reforça a ideia de que Dumoulin e Froome seriam os grandes candidatos a vencer este Tour (Foto: Cycling Weekly)

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