Revenge of the 90’s – Geração Peter Sagan

Diogo PiscoMarço 22, 20188min0
Geração Peter Sagan - Uma geração que conquistou o mundo do ciclismo e que vai marcar uma época na história da modalidade.

Como é tradição no desporto em geral, e no ciclismo em particular, existem gerações que trazem para o público o melhor espetáculo que uma modalidade tem para oferecer marcando assim um período de tempo na sua história. Neste momento os adeptos do ciclismo têm o prazer de estar a assistir à afirmação de uma “geração de ouro”, mas há um ano que parece ter dado uma colheita especial.
O ano de 1990 deu a colheita que está a marcar a mudança da geração de Alberto Contador, Alejandro Valverde, Joaquim Rodriguez, Tom Bonnen e Fabian Cancelara para a geração atual. Muitos deles já ganharam tanto e à tanto tempo que por vezes fazem esquecer que só estão a atingir a maturidade agora. Entre eles, está um que muitos já consideram uma lenda. Peter Sagan é o comandante de uma geração que vai marcar o ciclismo e dar espetáculo aos seus adeptos durante os próximos anos. O Fair Play adere à moda e apresenta: “Revenge of the 90’s” (mais propriamente 90).

Peter Sagan– Não há como negar! Esta é a sua geração. Não que se retire importância aos seus contemporâneos mas será difícil rivalizar com um ciclista que aos 28 anos de idade traz no seu currículo, três campeonatos do mundo (seguidos, feito inédito), cinco camisolas verdes na Volta à França (seguidas) e um monumento, entre uma lista de vitórias que parece infindável. São 102 vitórias e um total de 227 pódios. A juntar a isso, o espectáculo que Sagan procura dar em cima da bicicleta durante as corridas, divertindo-se e divertindo o público. É uma figura irreverente o que o fez ter opiniões dispares no mundo do ciclismo até conseguir com que se rendem-se às suas qualidades com vitória atrás de vitória. Afirmou que não queria ser o próximo Eddy Merkx mas sim o primeiro Peter Sagan, fazendo muitos franzir o sobrolho. 8 anos depois de se tornar profissional não há dúvidas que o nome Sagan é dos melhores “benchmarks” disponíveis para avaliar os jovens valores que aparecem.
Nairo Quintana– Por vezes cai-se no erro de duvidar e de questionar se Quintana só agora chegou aos 28 anos. Já lá vão 5 anos desde o seu primeiro 2º lugar na Volta à França, na altura com apenas 23 anos. Sim, apenas 23 anos. Nairo anda por estes patamares à tanto tempo e rivaliza com os grandes nomes das grandes voltas à tanto tempo, que às vezes custa acreditar que não tem a mesma idade de Chris Froome ou Vincenzo Nibali. Ganhou o Giro com 24 anos e a Vuelta com 25 somando mais 3 pódios em Paris e muitas outra vitórias. Falta-lhe sem dúvida o Tour. Mas para aqueles que pensam que o tempo começa a passar para o colombiano, é sempre bom relembrar que Froome só ganhou o seu primeiro Tour aos 28 anos. Quintana tem tempo e qualidade para ganhar muito mais e mesmo que não ganhe uma mão cheia de Tour’s como os seus fãs desejariam, não será de estranhar que se junte à reduzida lista dos ciclistas que venceram as três grandes. É por mérito o segundo grande nome desta geração.

Pódio do Tour 2013. Sagan e Quintana com 23 anos ao lado de Froome com 28. Fonte: Bryn Lennon/Getty Images Europe

Michal Kwiatkowski– Se Sagan dá nome a esta geração, o que dizer daquele que em conjunto com ele tem protagonizado dos mais bonitos duelos levados para o risco de meta. Bastante diferentes como ciclistas, têm algumas qualidades bastante semelhantes e muitos objetivos comuns. Foi campeão do mundo ainda mais novo do que o seu rival e há quem o apelide de ser o “carrasco de Sagan”. Após a rivalidade Bonnen e Cancellara, Kwiato e Sagan são sinónimo de que pelo menos dois ciclistas vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para vencer. Quanto a Kwiatkowski demonstra mais capacidade para superar a alta e média montanha, o que somado às suas qualidade de contra-relogista tem dado ao polaco a vitória em algumas competições por etapas de importância. O antigo campeão do mundo é uma dor de cabeça para todo o tipo de adversários em todo o tipo de competições o que faz com que se comece a pensar nas possibilidades de vir a discutir uma das grandes voltas. É sem dúvida uma das pérolas do ano 1990.
Tom Doumulin– Ao contrário dos seus contemporâneos, Dumoulin não começou a ganhar grandes corridas desde muito cedo. Deu mostras de ser um bom contra-relogista nos primeiros anos como profissional mas só em 2014 chamou verdadeiramente a atenção sendo medalha de bronze nos mundiais de contra-relógio atrás de Sir Wiggins e de Tony Martin. É na Vuelta 2015 que Dumoulin nasce como um dos grandes valores desta geração. Protagoniza uma das competições de três semanas mais emocionantes dos últimos anos, conseguindo recuperar a camisola de líder por duas vezes ganhando duas etapas, uma com chegada em alto e um contra-relógio. Teve de responder na montanha a nomes como Joaquim Rodriguez, Esteban Chaves, Fabio Aru, Chris Froome ou Nairo Quintana. Conseguiu defender-se na alta montanha mas teve uma penúltima etapa fatídica que o levou de 1º a 6º da geral. Estava dado o aviso que viria a confirmar em 2017 no centésimo Giro, onde Dumoulin venceu com justiça frente a um grande leque de adversários, muitos deles da sua idade. À imagem do eterno Big Mig (Miguel Indurain), o holandês é destruidor nos esforço individuais contra o tempo e tem vindo a tornar-se cada vez mais competente a andar na alta montanha. Existem grandes esperanças para este ciclista no que às três semanas diz respeito e o que não lhe falta são adversários com quem rivalizar.
Fabio Aru– Com 24 anos e apenas na sua segunda participação numa grande volta, Aru fechou o pódio com um grande terceiro lugar. Passado um ano regressa à sua Volta à Itália para, em conjunto com o seu colega de equipa Mikel Landa, travar um grande duelo com Alberto Contador e conseguir o segundo lugar da geral. Nesse mesmo ano venceu a Vuelta 2015, numa edição espetacular com um Top 10 de luxo e muitas reviravoltas. Aru é um ciclista de ataque, muitos o comparam com Contador. Não gosta do ciclismo moderno de controlo e contensão e se o italiano estiver em competição pode-se dar como certo que vai atacar quando o ritmo for controlado de mais. Fabio Aru é daqueles que prefere atacar e procurar a vitória, mesmo correndo o risco de perder lugares na classificação geral, do que se limitar ao ritmo imposto pelos rivais para assegurar um lugar no pódio. Vai ter de encontrar o seu lugar no meio de tanta qualidade mas certamente esta geração é melhor por ter um Fabio Aru.

Dumoulin, Aru, Quintana, “Purito”, Majka e Chaves! Vuelta 2015, com 25 anos a geração de 90 começava a tomar conta do espectáculo. Fonte: gettyimages/Tim De Waele

Esteban Chaves, Romain Bardet e Thibaut Pinot– Cada um com o seu estilo, são três nomes que muita luta têm dado a quem procura vencer uma grande volta, uma corrida de uma semana ou até mesmo uma clássica. Com Chaves e Pinot a serem um pouco mais conservadores e Bardet um pouco mais atacante, em especial quando existe uma longa descida após uma subida dura, aos três falta uma coisa, vencer uma (ou mais) grande volta. No entanto não é pelo facto de nunca terem alcançado tal objetivo que se pode retirar valor as estes ciclistas. Na verdade, é bem possível que alguns deles nunca o venham a conseguir olhando a concorrência que existe nesta geração. No entanto não falta por aqui vitórias, pódios em grandes voltas e a cima de tudo espetáculo. Ciclistas de luta, podem ainda não ter conseguido vencer o que se espera que vençam, mas vão certamente dar tudo e engrandecer as vitórias dos que com eles rivalizam. São mais três grandes “pérolas” deste ano de 1990 que desde muito cedo acrescentam valor ao ciclismo. Por ventura se tivessem nascido noutro ano com esta idade poderiam já ter colecionado umas quantas vitórias em grandes voltas.

Estes são os cabeças de série de um ano que viu nascer ainda nomes como, Michael Mathews, Oliver Naesen, Rohan Dennis, Fabio Felline, Sonny Colbrelli, George Bennett, Omar Fraile, Moreno Moser, Luke Rowe, Pello Bilbao, entre outros. Ao que parece nascer neste ano e aprender a andar de bicicleta era meio caminho andado para ser craque sobre as duas rodas. A Revenge of the 90’s irá continuar à medida que os ciclistas desta década forem amadurecendo e afirmando-se no panorama internacional. No entanto fica a certeza de que o ano que deu entrada à década foi uma colheita com a qual vai ser difícil rivalizar.


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