A queda do mito das grandes voltas!

Diogo PiscoNovembro 14, 20186min0

A queda do mito das grandes voltas!

Diogo PiscoNovembro 14, 20186min0
Chris Froome abriu o mote com a dobradinha Tour & Vuelta em 2017, mas foi na época 2018 que ficou provado que é possível fazer duas grandes voltas ao nível dos melhores. Será que assistimos à queda de um mito?

O mito estava criado no ciclismo contemporâneo. Cada vez mais especialistas afirmavam firmemente que no ciclismo atual era muito difícil um ciclista andar na luta pela geral em duas grandes voltas seguidas.

Quando questionados sobre a possibilidade de existir um ciclista a vencer duas grandes voltas seguidas, não afirmando que era impossível, muitos acreditavam que era quase. Alguns defendiam que apenas viam em Chris Froome um homem com capacidade e equipa para o fazer.

O fundamento de tal opinião, assentava na tese de que cada vez mais as grandes equipas e os grandes líderes para as 3 semanas se focavam apenas numa prova como objetivo principal, por norma o Tour, e quem dividi-se o seu foco por duas estaria em desvantagem.

No início da época de 2018, muitos achavam que já era difícil fazer frente a Froome e à sua equipa no Tour, quanto mais tentar fazê-lo acumulando o desgaste de uma grande volta para outro, partindo já numa suposta desvantagem. Ninguém acreditava que fosse sequer possível alguém vir a tentá-lo.

O mito da impossibilidade de vencer duas das grandes seguidas perdeu alguma força depois de em 2017 Froome ter conseguido a tão desejada dobradinha Tour & Vuelta. Mantinha-se a dúvida quanto à possibilidade de vir a vencer o Giro e depois fazer o impossível e vencer o Tour, completando  desta forma a mais desejadas de todas as dobradinhas, o mito Giro & Tour.

Froome alcançou a dobradinha Tour & Vuelta e deu início da quedo do mito. Fonte: sport.es

Dentro deste contexto o mito mantinha a sua força, sendo que Froome teria de provar que era o homem capaz para fazer cair por terra este mito, não havendo ninguém com coragem de apontar outro nome para tentar fazer duas voltas seguidas na presente temporada, com o objetivo de vencer.

Não fazendo um grande apanhado histórico de tentativas de dobradinha que correram mal nos últimos anos, relembremos as mais recentes, talvez aqueles que tenham dado mais ênfase ao mito.

Em 2015, Alberto Contador apontou ao Tour após vencer o Giro, e acabou com um suado 5º lugar no Tour, onde nunca incomodou muito os homens da frente. Tentou vingar a tentativa de 2011, mas o destino ditou-lhe a mesma classificação, apesar da de 2011 lhe ter sido retirada.

2017 foi o ano de Nairo Quintana tentar Giro e Tour. Depois de perder o Giro para um enorme Tom Dumoulin, nunca chegou a entrar no ritmo no Tour e acabou fora do top 10, num 12º lugar de sofrimento.

Mas não foram só as tentativas furadas destes homens, que assumiam publicamente a luta pela primeiro lugar, que davam força ao mito junto dos especialistas da modalidade. Certamente muitos se relembram do sofrimento de Romain Bardet na Vuelta de 2017, após ter terminado em 3º no Tour.

Poderiam ser enumerados muitos mais factos do género, mais antigos e pormenorizados mas não é esse o objetivo. O facto é que os media e a opinião pública fomentaram este mito nos últimos 10,com base em vários factos sucedidos.

Nem em 2016, quando Nairo Quintana conseguiu terminar em 2º no Tour e vencer a Vuelta, a opinião pública tomou outro rumo.

A queda de um mito

Sim é verdade, Chris Froome não venceu o Tour de pois de vencer o Giro. A mítica dobradinha Giro & Tour contínua por cair desde 1998, na altura alcançada pelo saudoso Marco Pantani.

Mas com a ida de Chris Froome ao Giro, outro nome viria para provar a tese do Fair Play. O mito não passa de isso mesmo, de um mito, logo carece de grandes acontecimentos para os contrariar.

Tom Dumoulin aceitou o desafio e após um honroso segundo lugar no Giro, decidiu ir fazer frente ao seu rival e à sua grandiosa equipa no Tour, prova que têm dominado nos últimos anos.

Primeiro pódio do ano. Froome 1º e Dumoulin 2º. Fonte: dailypeloton.com

Estes são os dois nomes que sustentam a tese de que o mito caiu por terra. É possível sim fazer Giro e Tour seguidos e lutar pela geral. E quando se diz lutar pela geral, não quer dizer lutar por um lugar no Top 10.

Chris Froome e Tom Dumoulin deram tudo para conseguir vencer o Giro e voltaram a fazê-lo no Tour, onde só mesmo um enorme Gerraint Thomas se conseguiu superiorizar.

Os dois terminaram no Top 3, com Dumoulin a ser 2º nas duas provas e Froome 1º no Giro e 3º no Tour, fechando assim um ciclo de 4 pódios em 4 grandes voltas seguidas.

Segundo pódio da temporada para Froome e Dumoulin. Mais do que o pódio, lutaram pela vitória. Fonte: teamsunweb.com

Mais do que isso, os dois foram superiores à restante concorrência que focou toda a sua atenção e energia apenas no Tour ou no Giro e isto será o principal pilar para sustentar que o mito cai por terra na época de 2018.

Trazendo para um ciclismo moderno os calendários praticados no passado bélico do ciclismo, onde era normal os grandes campeões tentaram ganhar tudo numa mesma época, haveria certamente um ciclismo mais aberto e atacado homem a homem, onde o ciclismo de controlo das grandes equipas teria certamente mais dificuldade em impor-se.

Para o Fair Play, apesar de não ter acontecido, ficou provado que é possível e que quanto mais ciclistas o tentarem mais provável é de que consigam igualar os grandes feitos históricos do ciclismo.

Muito provavelmente a conclusão retirada não vai pesar quando as grandes equipas e os principais nomes para vencer em três semanas estiverem a definir os seus calendários. No entanto, a ideia fica no ar e muito daria ao ciclismo existir mais ciclistas com um calendário mais ambicioso. Froome e Dumoulin abriram as hostes e cabe aos grandes ciclistas da atualidade responder ao desafio.


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