Milano – Sanremo: venceu a Arte à base da Força
A dúvida estava lançada. Seria dia da vitória pender para o lado da força, com os sprinters a aguentarem as dificuldades finais e a acontecer uma chegada em pelotão. Ou por outro lado, seria dia dos homens mais atacantes darem espetáculo e levarem a decisão da corrida para outros patamares?
O ciclismo brindou-nos com uma vitória da arte à base da força. E quão bonita foi essa vitória?
À entrada do Poggio a corrida estava lançada. Foram, mais uma vez, 280 quilómetros de rastilho com a bomba a rebentar nos 11 quilómetros finais.
Não é que os primeiros 280 quilómetros de prova não tenham história para contar. Têm, mas as edições recentes mostraram aos especialistas das corridas de um dia e aos voltistas que se puxaram da sua arte para escalar e descer o Poggio, conseguem, para além de deixar os sprinters para trás, vitórias espetaculares.
Ontem, o trio que discutiu a vitória em 2017, selecionou um grupo de luxo no Poggio, para que o homem do momento conseguisse uma vitória lindíssima.
Começa a ser difícil arranjar palavras para descrever Julian Alaphilippe (Deceuninck Quick Step). O francês respondeu da melhor forma ao grande trabalho feito pela sua equipa na última súbida. Diferiu o ataque que partiu a corrida de vez. Teve resposta direta de Peter Sagan (Bora – Hansgrohe) e de Michal Kwiaktowski (Team Sky), era o pódio de 2017 a revelar-se outra vez.
Desta feita, foram seguidos por mais alguns homens. E que homens! À descida do Poggio o grupo estava selecionado. Note-se bem este grupo. Para além dos três já referidos, onde tinhamos dois ex-campeões mundiais, junta-se o atual campeão mundial Alejandro Valverde (Movistar Team), o campeão da europa Matteo Trentin (Mitchelton – Scott), o vencedor do ano passado Vincenzo Nibali (Baharain Merida), o tri-campeão mundial de ciclocross Wout Van Aert (Team Jumbo- Visma), Oliver Naesen (AG2R La Mondiale) Matej Mohoric (Baharain Merida), Simon Clarke (EF Education First) e Tom Dumoulin (Tema Sunweb). Seria preciso um grande artigo para descrever toda a qualidade destes ciclistas e tudo o que já venceram. No final seria difícil escolher um grupo melhor para discutir a vitória.
Entre alguns ataques a decisão acabou por ir para o risco da meta, onde este grupo de excelência tornou a vitória de Alaphilippe ainda mais espetacular. Tudo podia acontecer. Qualquer um podia ter ganho. Apesar de uns terem mais ponta final do que outros, no fim de 291 quilometros em 6 horas 40 minutos e 14 segundos, isso não quer dizer muito.
Alaphilippe foi o homem mais forte em todos os momentos chave do dia e no sprint final não deu hipótese a ninguém de ficar com a sensação que podia ter conseguido. Foi um artista a vencer com força. Foi mais um dia espetacular para história desta prova. Foi mais uma bonita página na história do ciclismo.
O pódio ficou fechado por Naesen (2º) e Kwiaktowski (3º).
E agora Alaphilippe? Que mais?