Aguadeiro Trepador: La Cima Coppi – Colle delle Finestre
Todos sabem o que é a “Cima Coppi”, alguns sabem porque surgiu, mas poucos conhecem o episódio irónico que ocorreu na sua primeira aparição. Vai uma aposta?
“Cima Coppi” é o prémio atribuído no Giro de Itália ao ciclista que passar em primeiro na montanha mais alta em competição. Em 2017 o vencedor foi o espanhol Mikel Landa. Outros nomes bem importantes já levaram o troféu para casa: Merckx, Fuente, Fignon, Chiappucci, Indurain, Pantani, Nibali e também Scarponi. Hoje vamos conhecer o vencedor da edição de 2018.
Colle delle Finestre
Na edição 101ª do Giro de Itália o prémio “Cima Coppi” é atribuído na etapa de hoje ao km 111 com a passagem no famoso Colle delle Finestre aos 2175m de altitude. Desde Meana di Susa até ao Colle delle Finestre são 45 curvas distribuídas em 18km de extensão a uma pendente média de 9% com a particularidade de que os últimos 9km são em terreno não asfaltado, o famoso “sterrato”.
O Colle delle Finestre está localizado na região Alpina de Piemonte e apenas foi percorrido no Giro de Itália por três ocasiões. Foi o bastante para o “monstro” que liga o valle di Susa com o valle Chisone se tornar numa das subidas mais famosas do país em forma de bota. Algumas subidas demoram anos a adquirir a categoria de míticas. A maioria não consegue, mas para o Colle delle Finestre bastaram os 60 minutos durante o Giro de 2005 para entrar nesse restrito lote de ascensões que permaneceram para sempre em livros, imagens ou vídeos. Mas sobretudo irão permanecer na cabeça e coração dos adeptos de ciclismo.
O Colle delle Finestre foi descoberto para o ciclismo por Carmine Castellano, diretor da prova. Estávamos numa tarde de domingo em 1995. Ao ver uma placa indicando o nome “Colle delle Finestre”, Castellano pediu ao seu motorista para fazer um “ pequeno” desvio improvisado. Depois de percorrer os primeiros 11km foram surpreendidos pois a estrada perdia-se por um pequeno trilho de lama e muitas pedras. Como disse Castellano anos mais tarde: “um caminho de cabras intransitável com destino às janelas do paraíso”. O Italiano viu no Colle delle Finestre uma tentação que em 1995 ainda era proibida.
Foram precisos 10 anos e uns Jogos Olímpicos de Inverno. Turim organizou a competição no ano de 2006 e o presidente de Piemonte queria colocar a sua região na boca do mundo desportivo meses antes do evento. A solução proposta por Carmine Castellano foi dar visibilidade ao Colle delle Finestre e torná-lo a grande atração e novidade no Giro de 2005. O presidente Enzo Ghigi concordou, restaurou os últimos 9km de ascensão, mas a pedido de Castellano manteve o piso não asfaltado dos últimos nove quilómetros. Castellano realizou então o sonho que teve em 1995, e no último ano como diretor do Giro de Itália os 18km do “seu “ Colle delle Finestre fizeram parte do percurso da prova entrando para a história da competição mas também para a historia das subidas míticas do ciclismo.
A aposta foi ganha e no dia 28 de maio de 2005 uma multidão de tifosis preencheram por completo as 45 curvas da subida. O italiano Danilo di Luca foi primeiro ciclista a chegar ao seu cimo.
Claudio Gregori do jornal La Gazzetta descreve o cenário da seguinte forma:
“ o Colle delle Finestre é a fronteira entre o céu e o inferno. É como se fosse um intestino cheio de curvas com percentagens alcoólicas repleto de aztecas que guardam a sua montanha querida”
A partir deste dia o Collle delle Finestre ficou para sempre conhecido como a “a Montanha dos Índios” e será hoje percorrido pela quarta vez no Giro de Itália onde o primeiro ciclista a passar irá ganhar o prémio “Cima Coppi”.
La Cima Coppi
Mas falaremos agora da “Cima Coppi”.
O prémio serve como homenagem ao maior ciclista italiano de todos os tempos: Fausto Coppi.
Tudo começou em 1965.
Nessa edição do Giro de Itália o ponto mais alto era o Stelvio. Um monstro que sobe até aos 2758m, com pendente média de 7% e 22km de extensão desde a cidade de Bormio.
Curiosamente foi neste mesmo lugar que Coppi realizou uma das suas melhores exibições, conquistando o seu 5º Giro de Itália.
A corrida não lhe corria de feição e à entrada para a penúltima etapa Coppi tinha 2 minutos de atraso para o suíço Hugo Koblet. O italiano tinha mesmo felicitado o suíço pelo triunfo na prova, anunciando que apenas lutaria pela vitória da etapa pois a sua namorada , a famosa e controversa Giulia Occhini “ dama branca “ estaria presente para o apoiar.
Ninguém sabe se foi do seu lado amoroso e apaixonado se foram das suas capacidades físicas inigualáveis, mas Coppi atacou no inicio da difícil subida, ganhou a etapa, a camisola rosa e o seu 5º Giro de Itália.
Mas voltando ao ano de 1965 e à 1ª edição do prémio “Cima Coppi “. A etapa era a 20ª e terminava no cume dos 2758m do Stelvio. Há dias que nevava abundantemente e a estrada ficou completamente bloqueada de tal forma que todos os ciclistas foram obrigados a desmontar. O primeiro a cortar a linha de meta e consequentemente a vencer o prémio foi Graziano Battistini.
Ironia das ironias, ganhou a “Cima Coppi” subindo a montanha…. a pé!!!
Il Campionissimo Fausto Coppi não terá ficado nada contente………
Boas Pedaladas!!
Pedro Manuel Bento
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