Giro d’Italia – 2 blocos para fazer frente à Sky
No ciclismo contemporâneo não basta ter um bom líder que consiga aguentar três semanas, ande bem na alta montanha e que apresente uma boa capacidade de contra-relógio para ganhar uma competição como o Giro. O tempo em que ter como líder um ciclista supra-sumo era sinónimo de ganhar uma das grandes já passou à história e as equipas precisam de bem mais que isso para poder lutar pela vitória no final de três semanas.
Quando se monta uma equipa para atacar a vitória numa grande volta, é preciso ter ciclistas capazes de controlar um pelotão, capazes de impor ritmos duros desde cedo nas etapas ou então de controlar e acalmar o pelotão em pontos fulcrais da corrida. É preciso ter outros ciclistas capazes de entrar e aguentar em fugas, para que , caso seja necessário, mais tarde venham a ajudar num eventual ataque do líder ou simplesmente passar a responsabilidade de trabalhar para outras equipas. Também é importante ter ciclistas que possam dar à equipa uma segunda hipótese para a geral por forma a poder fazer jogo duplo contra os outros líderes.
Mais importante ainda, é ter ciclistas com capacidade de estar ao lado do líder na alta montanha evitando ao máximo que este fique entregue a si próprio cedo demais na etapa. O papel dos puncheurs (todo o terreno) ganhou uma nova importância nas grandes voltas e já não se limita só a caçar etapas. O mesmo se passou com os trepadores que têm dificuldade em aguentar o mesmo ritmo durante três semanas. Correr em bloco é fundamental e estes homens assumem um papel essencial na construção de uma equipa forte.
Team Sky
Tal como Chris Froome surge como principal candidato à vitória final do Giro 2018, com toda a lógica e mérito a sua equipa surge como a equipa mais forte, aquela que todos querem derrotar. A Sky acaba por ser a responsável pela mudança de paradigma naquela que se identifica a nova forma de correr grandes voltas. Desde a sua génese que tem aprimorado o conceito de correr em bloco. Conceitos como “dominar a corrida”, “gregário de luxo”, “ganhos marginais”, “impor ritmo”, “gerir a subida”, “controlar a etapa de início ao fim”, “deixar todos em dificuldades” ou “responder pelo líder”, ganharam outra dimensão no universo do ciclismo. A táctica ganhou outra importância e uma equipa que quer ganhar a classificação geral tem de ter ciclistas que dominem estes conceitos nos vários momentos da corrida.
A Sky como é seu apanágio, leva uma equipa em que facilmente os seus ciclista teriam lugar numa qualquer outra equipa world tour. Quatro trepadores de grande nível, Wout Poels, David De La Cruz, Kenny Elissonde e Sergio Henao. Entre os quatro venha o diabo e escolha mas destaque-se a forma apresentada por Elissonde no Tour des Alpes e Wout Poels que muitas equipas gostariam de ter como líder por mais que não pareça estar na sua melhor forma. Dois roladores exímios como é o caso de Christian Knees e Salvatore Puccio que entrarão ao trabalho bem cedo nas etapas com um trabalho que muitas vezes passa despercebido nas etapas mas que é fundamental. E um “híbrido”, um homem que é uma voz de comando dentro da equipa e dentro do pelotão. Vasil Kiryenka é um ciclista que para além de ser dos melhores contra-relogistas do mundo, consegue impor ritmos duros na montanha deixando até os melhores trepadores em sentido. Por fim tem um Chris Froome que dispensa apresentações.
Mitchelton-Scott
Existem três factores que fazem a escolha cair sobre esta equipa. Primeiro – têm dois ciclistas que podem lutar pela geral. Duas peças que podem ser jogadas a qualquer altura montanha a cima e dar dores de cabeça aos seus adversários. Simon Yates traz no seu currículo o Top 10 na Vuelta 2016 e no Tour 2017, e Esteban Chaves Top 3 no Giro e na Vuelta 2016. Apesar de ser liderada por dois jovens, estes têm experiência suficiente para não se deixarem intimidar pelos anos dos seus adversários. Segundo – esta equipa tem mostrado um óptimo sentido táctico e vê-se que faz o seu “trabalho de casa” antes de sair para a estrada. Para aprimorar este sentido tem vindo a construir um bloco forte e com muita experiência, principalmente no que toca a trabalhar montanha a cima. Nas suas fileiras traz dois gregários de luxo para a alta montanha.
Roman Kreuziger foi gregário de Alberto Contador e Mikel Nieve de Chris Froome e deverão dar aos seus líderes o controlo e conforto necessário para se defenderem da Sky, assim como a experiência e leitura para controlar e atacar a corrida. O jovem Jack Haig completa a armada para as subidas. É bastante provável que se vejam estes homens a entrar na fuga do dia nas etapas montanhosas para depois virem a ajudar os seus líderes mais tarde. A equipa conta ainda com a experiência de dois excelentes contra-relogistas Sam Bewley e Sven Tuft (40 anos), homens da estrada e da pista com muita capacidade de trabalho, e do all-round Christopher Juul-Jensen. Terceiro – é irreverente. Gosta de mexer na corrida, gosta de atacar. Não gostam de corridas controladas ou pelo menos controladas pelos outros. Gostam de vencer e a vitória no Giro já esteve perto.
Astana Pro Team
Uma equipa que chega ao Giro 2018 não só na melhor fase da temporada mas numa das suas melhores fases de sempre. Depois da tempestade vem a bonança e a Astana é prova disso. Passou momentos complicados mas isso é passado. A equipa está numa daquelas fases em que parece que consegue ganhar de qualquer maneira e com qualquer ciclista. Uma imagem recorrente da presente temporada nas várias provas que decorreram foi ver a equipa cazaque chegar aos quilómetros finais com 4/5 ciclistas, sejam elas após ou em plena dificuldade montanhosa. Já fizemos referência ao seu líder como o mais forte candidato à vitória na juventude, mas desengane-se quem achar que M. A. Lopez não consegue vencer o Giro d’Italia 2018.
O colombiano traz consigo uma armada forte e bastante atacante, como é essência da equipa, e se montarem bem a sua táctica vão ser certamente uma dor de cabeça para toda a gente. A equipa é fácil de analisar 5 puros trepadores, para além do líder têm Pello Bilbao, Jan Hirt, Tanel Kangert e Davide Villella. Homens de excelentes capacidades a subir e em grande forma. A juntar a isso, 3 puncheurs sólidos e agressivos. Luis León Sanchez, Andrey Zeits e Alexey Lutsenko que se tiverem de controlar um pelotão, perseguir ou impor ritmo serão tão fortes como as hipóteses presentes nas restantes equipas. Apesar de mais habituados a caçar etapas a seu belo prazer, se Alexander Vinokourov (diretor) conseguir unir e coordenar este bloco em torno do seu líder, dando-lhes liberdade para atacar em certos pontos da corrida que sejam propícios aos objectivos da equipa, este bloco pode ser arrasador para o pelotão.