Há razão para ter esperança?

Diogo PiscoDezembro 11, 20207min0

Há razão para ter esperança?

Diogo PiscoDezembro 11, 20207min0
Poderá João Almeida ter um futuro no ciclismo mundial? Diogo Pisco analisa o que foi a prestação dos portugueses em 2020 e dá a sua visão para o futuro

No final da Vuelta 2019, o ex-ciclista Alberto Contador alertou para o facto de Tadej Pogačar, para além de um fantástico 3º lugar à geral, ter registado um percurso semelhante ao do vencedor do Tour desse mesmo ano, Egan Bernal, sendo que ambos, para além de muito jovens, terem conquistado a Volta a França do Futuro e depois a Volta à Califórnia. Contador deixava a pergunta no ar, seria Pogacar a vencer o Tour de 2020? Em 2020, Pogačar não quis desiludir face ao alerta deixado na época anterior e venceu o Tour de France de forma fantástica, como há muito os adeptos não tinham o prazer de ver um atleta fazer. No encalce de um fantástico Tour, veio um fantástico Giro, que teve como um dos protagonistas na luta pela vitória na classificação geral o jovem ciclista português, João Almeida.

Estando na sua estreia em provas de três semanas e no seu primeiro ano no escalão máximo do ciclismo mundial, João lutou com alguns dos melhores ciclistas do mundo de igual para igual, trazendo de volta aos portugueses a esperança de ter um nome capaz de lutar pela vitória na geral em provas de 3 semanas.

No entanto, não foi só no Giro que João teve prestações de alto nível, tal como, não é o jovem português o único jovem a sobressair no escalão World Tour. Com um início discreto, a época de João Almeida arrancou na Austrália, seguindo depois para Portugal. Na Volta ao Algarve, assumiu o papel que viria a desempenhar nas próximas corrida, o de braço direito da também jovem estrela, Remco Evenepoel. Apesar de não ser a figura principal, João Almeida soube roubar algum protagonismo com as suas exibições, alcançando lugares de destaque, sendo 9º na Volta ao Algarve e 3º na Volta a Burgos.

De novo a correr sem ter de trabalhar para um líder específico, viria a conseguir ser 7º no Tour de l’Ain, 2º no Giro Giro dell’Emilia e 3º na Settimana Internazionale Coppi e Bartali. Destaque para o 7º lugar alcançado no Tour de l’Ain, onde o atleta português competiu directamente contra todos os sénior que estavam em preparação para o Tour de France. A época terminou com o Giro d’Italaia, prova que nem estava prevista no calendário do ciclista português, onde, para além do fantástico 4º lugar, sobressaíram duas semanas de liderança com um comportamento apenas digno dos grande ciclistas.

Tendo em conta a comparação feita por Alberto Contador, assim como os resultados de João Almeida ao longo do ano, o Fair Play tenta perceber em que ponto está João Almeida face ao percurso efectuado pelas outras jovens estrelas de nível mundial, no primeiro ano a correr no World Tour (WT).

22 anos, 2ª época WT, 1º Tour de France, 1ª vitória, 3 etapas vencidas. Consegue superar o já muito bom registo, de Egan Bernal, do ano anterior (2019). Fonte: newsabc.net

Comecemos por analisar o percurso de Tadej Pogačar. No primeiro ano de WT, o vencedor do Tour de 2020, teve um calendário muito semelhante ao de João Almeida. Passou pelas provas australianas de início de época sem dar muito nas vistas e seguiu para o Algarve. Na prova portuguesa, o esloveno mostrou-se verdadeiramente ao mundo do ciclismo sénior, vencendo a prova. De seguida, foi 6º na Volta ao País Basco, venceu a Volta à Califórnia, sendo por fim o ciclista revelação da Vuelta à Espanha, alcançando não só o já referido 3º lugar, mas também 3 vitórias em etapas, o  que lhe valeu o destaque por parte de Contador e de todo o mundo do ciclismo. Um primeiro ano não muito diferente do realizado por João Almeida, mas de onde facilmente se destaca as vitórias na classificação geral de duas provas e um total de 6 vitórias em etapas ou corridas de 1 dia.

 

Outra das jovens estrelas do WT é o colombiano Egan Bernal. Vencedor do Tour de France no seu 2º ano de WT, também venceu a Volta à Califórnia no seu primeiro ano a competir no escalão principal do ciclismo. À imagem do outros dois, iniciou a época de forma discreta na Austrália. Infelizmente não veio à Volta ao Algarve, em vez disso rumou à sua terra natal onde venceu os nacionais de contra-relógio e a prova por etapas Colombia Oro y Paz. Infelizmente sofreu uma queda grave enquanto discutia a Volta à Catalunha, directamente com Alejandro Valverde. Recuperou a tempo de ficar em 2º na Volta à Romandia, passando depois pela Califórnia e por fim estreou-se nas provas de 3 semanas, sendo o melhor homem de trabalho da sua equipa no Tour de France, onde terminou  no 15º lugar. Uma época diferente, mas não se pode dizer que se tenha destacado do que foi a época de João Almeida.

Por fim, aquele que todos esperam que possa ser o próximo vencedor de todo o tipo de provas existentes, chegou ao WT de forma prematura após vencer tudo o que havia para vencer na categoria de júnior. Com apenas 19 anos, Evenepoel realizou um percurso um pouco diferente dos outros 3 ciclistas já analisados. A época da estrela Belga arrancou na Argentina com o 9º lugar na Vuelta a San Juan. Apesar de toda a sua notoriedade o belga esteve discreto nas provas seguintes, não terminando o UAE Tour, passando por duas clássicas belgas de categoria inferior, sendo 4º na Volta à Turquia, 76º na Volta à Romandia e 63º na Volta a Noruega. A primeira grande vitória chegou na sua terra natal, na Volta à Bélgica, onde venceu a classificação geral e uma etapa, sendo este o ponto de reviravolta para uma época espectacular. Foi 3º nos nacionais de contra-relógio, venceu 1 etapa na Adriatica Ionica Race, onde foi 8º, venceu a Clássica de San Sebastián, o Campeonato Europeu de contra-relógio e faz 2º nos Mundiais da mesma modalidade. Evenepoel não se estreou nas provas de 3 semanas no seu ano debutante no WT e acabou por não o fazer no seu 2º ano devido a uma grave lesão, pelo que não existe grau de comparação nesses termos. No entanto, o facto de ter vencido todas as provas em que participou até ao momento da lesão serve de boa indicação aquilo que é a capacidade deste jovem ciclista.

Sem dúvida que os jovens têm vindo a dominar o ciclismo actual, com vários nomes que poderiam ser adicionados a esta lista nas mais variadas provas existentes. Sem dúvida, também, que estes são os mais jovens, os mais talentosos, e os que alcançaram resultados de maior destaque. Por fim, sem dúvida, que após uma fantástica primeira época, onde só faltou uma vitória que lhe foi negada por muitos segundos lugar, nos é permitido, à imagem do que fez Contador, deixar o aviso em relação à próxima época de João Almeida.


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