Chegou o tempo das seleções no basquete feminino

Lucas PachecoJunho 26, 20258min0

Chegou o tempo das seleções no basquete feminino

Lucas PachecoJunho 26, 20258min0
Da Europa à Ásia, Lucas Pacheco passa a pente fino o que se passa do melhor do basquete de selecções e diz-te tudo neste artigo

Piscamos os olhos e já nos aproximamos do Mundial de basquete feminino. A pouco mais de um ano da competição, disputada na Alemanha, aquecemos os motores e dirimimos as expectativas com os continentais. Iniciando pelo europeu (Eurobasket), em disputa neste exato momento, passando pelo americano (Americup), pelo ‘asiático’ (Asia Cup) e culminando no africano (Afrobasket), os quatro continentais são etapa obrigatória e inescapável rumo ao Mundial de 2026.

A FIBA recalculou algumas rotas e retornou às dezesseis participantes do Mundial (metade da contraparte masculina); manteve as ‘janelas-Fiba’ e os qualificatórios (em março de 2026 os pré-mundiais completam as 16 seleções), mas deu vaga direta às quatro campeãs continentais. O movimento voltou a valorizar os títulos continentais, em decadência no ciclo anterior.

Como tudo da federação, reina a confusão. O formato do calendário rumo ao Mundial exige uma atenção desmedida; sua explicação menciona 24 equipes nos pré-mundiais, enquanto seu organograma, dividido pelas vagas via continentais, soma 22 vagas. Apesar do mistério e da lógica eurocêntrica, o formato ao menos cria mais intercâmbio.

Nada melhor que iniciar pelo mais competitivo, qualificado e imprevisível campeonato continental. Desde o dia 18, as seleções européias buscam o importante e valorizado troféu (e a vaga direta ao Mundial), cuja final ocorre no dia 29. Estamos na iminência das quartas-de-final, sediada na Grécia.

A grande (única) surpresa desta competição de basquete europeia até aqui foi a eliminação precoce da Sérvia, seleção habitué dos grandes torneios, incluindo passagens por pódios e semi-finais. Após a aposentadoria de uma geração legendária (Sonia Vasic, Jelena Brooks, Ana Dabovic), enfim a reposição falhou; desta vez nem as pivôs base compareceram e a técnica Marina Maljkovic não logrou esconder as limitações técnicas do elenco com sua característica defesa sufocante. As três derrotas decretaram o fim de uma sequência histórica para a Sérvia no basquete feminino.

Falemos das seleções vivas. De um lado do chaveamento rumo à final, França e Lituânia fazem um jogo com claro favoritismo francês, que possui obrigação de vencer. O domínio construído ao longo das últimas décadas criou condições (enorme quantidade de boas jogadoras) para que a seleção supere os muitos pedidos de dispensa; ainda mais contra uma seleção desfavorável atleticamente e centrada em Juste Jocyte. Uma vitória lituana roubaria o status de maior surpresa do torneio, assim como uma derrota espanhola frente às tchecas no outro duelo desse lado da chave.

A Espanha renova-se gradativamente a cada torneio de basquete e a cada competição mais jovens assumem protagonismo. Iyana Martin e Awa Fam já fazem parte da rotação, ao lado de Marionna Ortiz e Raquel Carrera, mantendo a defesa e o jogo ofensivo altruísta como marca registrada. A Tchéquia possui um bom conjunto, porém carece de um talento superior necessário para desbancar a atual vice-campeã européia. Está pintando mais um França x Espanha na semi!

No outro lado das quartas, impera o imprevisível, ainda que por diferentes razões. Itália e Turquia se enfrentam em busca de uma posição a muito não alcançada, lideradas por jogadoras de perfis radicalmente distintos. A italiana Cecilia Zandalasini atua no perímetro, verdadeiro dínamo nos arremessos longos e no manejo de bola; já a turca Teaira McCowan é uma força bruta no garrafão. Quando ela estabelece posição, é ponto certo. As duas seleções precisam agarrar a oportunidade de medalha. No outro confronto, duas seleções com histórico recente bem positivo: a atual campeã européia, a Bélgica mantem o quinteto vencedor e a rotação curta, liderados pela lenda da modalidade, a genial pivô Emma Meesseman. Para repetir o título, precisarão encarar as alemãs, que mesmo desfalcadas das irmãs Sabally possuem um elenco calejado. Não convem duvidar de um time liderado por Leonie Fiebich, mesmo que testando os nomes marginais da rotação e incorporando as jovens promessas. Com vaga garantida no Mundial, as alemão jogarão sem peso.

Adiantamos o calendário até o dia 28 deste mês e atravessamos o Atlântico, em direção ao Chile: chegamos na Americup, com encerramento no dia 06 de julho. As 10 seleções estão divididas em dois grupos, enfrentando-se internamente: as duas lanternas estarão eliminadas e o cruzamento dos grupos segue a lógica tradicional (1×4 e 2×3) para as quartas de final. Além do título e da vaga direta, estão em jogo mais 5 vagas para os pré-mundiais de março de 2026.

O Brasil sentiu na pele o descaso da FIBA pelos continentais, quando venceu a edição mais recente sem garantir vaga automática na Olimpíada. Para as atuais campeãs, os prognósticos não mudam muito em uma área tão estagnada do basquete feminino; as brasileiras entram como uma das favoritas (ao lado de uma formação toda universitária dos Estados Unidos e de um desfalcado Canadá). Se o Brasil mantem as esperanças, mudou todo seu ecossistema. As mais experientes se foram, deixando o bastão da estabilidade para os pilares Damiris Dantas e Kamilla Cardoso (ambas na WNBA). Ao lado de uma geração em busca de consolidação na seleção, em idade avançada para tal tarefa, elas terão a companhia de promessas como Ayla McDowell, Bella Nascimento e Manu Alves.

É o suficiente para brigar pelo título e pela vaga. O ar de mistério fica por conta da técnica Pokey Chatman, anunciada oficialmente, com uma breve passagem pelo país em meados de março e nada mais. Ela deve assumir a seleção nas vésperas do continental e ninguém imagina como será esse encontro.

Além das três seleções citadas, Porto Rico corre por fora pelo título. A Argentina salta como favorita a uma vaga no pré-mundial e a última deve ser disputada por México e Colômbia. O nível técnico não é bom, mas no topo podemos testemunhar boas partidas; a chance de conhecer uma nova fornada de talentos estadunidenses é outro atrativo da Americup (curiosamente, a seleção bicho papão da modalidade ainda não possui vaga no Mundial – coisas da Fiba).

Na Asia Cup, tampouco contemos com surpresas. Juntando dois em um (as seleções da Oceânia disputam junto com as asiáticas), há um ranking de força bem definido. No primeiro escalão, Japão, Austrália e China disputarão o troféu. As duas asiáticas obtiveram excelentes colocações recentes, com a mesma base de elenco que jogarão o campeonato asiático de 13 a 20 de julho na China, com dificuldades para se manter no topo mundial na sequência. Oposto à Austrália, que preza pela estabilidade e consistência.

No segundo, Nova Zelândia e Coréia do Sul devem garantir sem dificuldade vaga no pré-mundial. Restaria a derradeira, em jogo entre Líbano, Indonésia e Filipinas. As oito seleções estão divididas em dois grupos: as lanternas estarão eliminadas e as líderes avançam direto para a semi. Segundas e terceiras colocadas de cada grupo cruzam-se em busca da semi.

O tempo de seleções chega ao fim com a disputa do africano, entre 26 de julho a 03 de agosto na Costa do Marfim. Ninguém será eliminado na fase de grupos; as 12 seleções foram divididas em 4 grupos, com cada líder indo direto para as quartas, onde esperam os demais cruzamentos para conhecer suas adversárias. Apesar do tempo da fragilidade do basquete africano ter passado, a FIBA ainda não reconheceu a evolução do continente e do Afrobasket, continental que classifica somente duas seleções ao pré-mundial. Ao invés de favorecer quem melhora, a FIBA opta em manter suas alianças políticas em detrimento ao basquete apresentado na quadra.

A Nigéria é franca favorita, com um elenco experiente e calejado. Não se engane: elas não terão caminho fácil e as rivalidades com Senegal e Mali podem trazer surpresas. O nível técnico e tático enfim alcançaram o nível físico e a África tem apresentado boas seleções nas últimas competições internacionais. Ruanda e Camarões chegam com esperanças, sem contar as tradicionais Angola e Moçambique. A cada edição, o Afrobasket torna-se mais atrativo.


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