Catarina Costa de prata mas soube a pouco o Europeu de Judo em Sofia
A participação da equipa portuguesa nos Campeonatos da Europa de Sofia arrancou com uma notável prestação de Catarina Costa, que brilhantemente conquistou a medalha de prata da categoria dos 48Kg. No entanto, no rescaldo desta participação neste Europeu, foi evidente que os resultados finais ficaram muito longe do potencial destes judocas e da prestação de 2021, em Lisboa, em que Portugal terminou com uma medalha de ouro e três de bronze.
Campeonatos da Europa de Sofia.
Os Campeonatos da Europa de Sofia decorreram entre os dias 29 de Abril e o dia 1 de Maio. O primeiro dia da participação da equipa portuguesa, terminou com a medalha de prata de Catarina Costa, na categoria dos 48Kg. Catarina foi derrotada na final pela Francesa, líder do ranking mundial desta categoria de peso, Shirine Boukli.
Catarina esteve irrepreensível, um exemplo de que o trabalho, a determinação e inteligência, são características que elevam a excelência da prestação desportiva. Catarina seria derrotada quando já faltava menos de um minuto para o final do combate, quando estava empatada com a francesa, sem vantagens técnicas e com dois castigos (shido) para cada uma. Catarina confirma o estatuto de uma das atletas mais fortes desta categoria, depois do brilhante 5.º lugar nos jogos Olímpicos de Tóquio.
Destaque também, pela positiva, para a prestação de Patrícia Sampaio, que chegou às meias-finais da categoria dos 78Kg. Um percurso muito sólido em que acabaria por ser uma lesão que a afastaria da luta pelas medalhas, pois foi obrigada a abandonar, terminando derrotada no combate da meias-finais e no combate que atribuía a medalha de bronze. Votos de rápidas melhoras e de uma recuperação que lhe permita chegar aos Mundiais de Tachkent na melhor forma.
A prestação dos restantes judocas da equipa portuguesa foi muito aquém do real valor destes e do que já conquistaram no passado. Jorge Fonseca, que à partida era o mais sério candidato a vencer a sua categoria de peso, já que é o atual bicampeão do Mundo e bronze Olímpico de Tóquio, seria surpreendido por um judoca recém-chegado à categoria dos 100Kg, o Polaco Piotr Kuczera, que acabou por conquistar a medalha de prata.
Jorge dominava completamente o combate e parecia ter garantido a passagem aos quartos de final, estava na frente com um wazari, quando foi contra-atacado e depois de uma demorada análise do vídeo árbitro veria ser atribuída a vantagem máxima de ippon ao seu adversário. É a “ingratidão” do Judo, que não permite recuperar de uma desvantagem de ippon e que, neste caso, pois ainda estávamos na fase de eliminatórias, colocou de imediato o Campeão do Mundo fora da competição. Certamente Jorge irá analisar esta derrota e regressará mais forte, atento e sólido na gestão do combate, área onde, por vezes, comete alguns erros.
Depois de uma enorme prestação nos Europeus de Lisboa de 2021, em que conquistou o título de Campeã da Europa (o seu 6.º!!!!), Telma Monteiro lutava em Sofia por mais um pódio, mas acabou surpreendida, logo no seu primeiro combate, frente à jovem alemã Pauline Starke. Telma acabou eliminada e pela primeira vez, nas 16 participações em campeonatos da Europa, não conquistou uma medalha.
Anri Egutidze e Barbara Timo, dois judocas que, na minha opinião, reuniam condições para chegar à luta pelas medalhas, seriam também derrotados precocemente. Nos 90 Kg Anri evidenciou alguma falta de ritmo e que o processo de adaptação a esta nova categoria de peso ainda decorre.
Anri teve pela frente o experiente judoca turco, Mihael Zgank, ainda marcou um wazari, vantagem que não conseguiu segurar por muito tempo, vindo a sofrer passados 30 segundo um wazari e acabou derrotado já no Golden Score, com um 3.º castigo. Barbara, que também mudou de categoria, neste caso desceu dos 70 para os 63Kg, defrontou no seu primeiro combate a atleta que conquistaria o título de Campeã da Europa, a Britânica Gemma Howell, também recém-chegada a esta categoria vinda dos 70Kg. Foi claramente uma final antecipada, pois as duas judocas eram candidatas às medalhas, e foi já perto do final do combate que a britânica resolveu o combate com uma brilhante ação de ne-waza (trabalho no solo).
Os restantes judocas Portugueses em ação foram Joana Diogo, nos 52Kg, que depois de derrotar a italiana Castagnola seria derrotada na segunda ronda pela líder do ranking mundial desta categoria, a Francesa Amandine Buchard; Rodrigo Lopes e Francisco Mendes participaram nos 60Kg, tendo sido eliminados na 1.º e 2.ª ronda, respetivamente; João Crisóstomo, que subiu para os 73Kg, tinha no seu currículo o bronze brilhantemente conquistado um ano antes, ainda nos 66Kg, no Europeus de Lisboa.
João ainda está a adaptar-se a esta nova, e muito competitiva, categoria, e não conseguiu surpreender o experiente Italiano Fábio Basile, Campeão Olímpico no Rio de Janeiro em 2016, na categoria dos 66Kg. Por último João Fernando, que também subiu para os 81Kg e apesar de já ter resultados de destaque nesta categoria de peso, com o bronze conquistado no Open Europeu de Praga, ainda denota algumas dificuldades numa das, se não a mais, competitivas categorias de peso da atualidade.
Os resultados ficaram claramente muito aquém das expectativas- e eu tinha muitas- especialmente depois dos resultados conquistados nos últimos anos. Apesar da prata conquistada por Catarina Costa, e sem pôr em causa todo o destaque que o feito dela merece, o potencial desta equipa é muito superior aos resultados obtidos. Há que continuar a trabalhar, os objetivos estão bem definidos, há condições de trabalho, e o que correu menos bem terá de ser analisado de modo que não se repita. Nunca é demais relembrar que a contagem decrescente para os Mundiais de Tachkent, calendarizados para o início de Outubro, já começou e a janela de qualificação Olímpica terá inicio no dia 24 de Junho!
Circuito Mundial regressa no início de Junho
Dois meses separam os Grand Slam de Antalya e Tbilisi, confirmados para acontecerem entre os dias 3 e 5 de Junho. Portugal não deverá levar atletas até à capital da Geórgia, pois também é necessário dar algum descanso aos atletas que se prepararam, e trabalharam muito, para os campeonatos da Europa. Será uma etapa onde o país anfitrião irá dominar as categorias masculinas e onde teremos o regresso da equipa masculina japonesa, o que, desde logo, será um motivo adicional de interesse.
Calendário nacional
No que respeita às competições nacionais, o calendário está a decorrer como planeado. No entanto, noto algum descontentamento, em virtude da excessiva concentração de competições, campeonatos nacionais e estágios de concentração das seleções na região de Coimbra, mais concretamente em Cernache.
É do conhecimento público que o atual presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), Jorge Fernandes, desenvolveu o seu percurso de atleta, estudante, treinador e dirigente na região de Coimbra, e que a presidência, durante vários mandatos, da Associação Distrital de Judo de Coimbra, lhe permitiu desenvolver a capacidade de organizar e alocar recursos que, na altura critica da pandemia, foram decisivos para que a atividade de preparação das seleções não fosse abruptamente interrompida, e mais tarde fosse possível uma retoma gradual da atividade competitiva.
Tive oportunidade de elogiar a FPJ pela capacidade de resolver o enorme desafio com que se deparou, mas também tenho de criticar o que atualmente está a acontecer, numa fase em que já não há praticamente restrições sanitárias e em que já regressámos a uma quase normalidade, é inexplicável que a vasta maioria dos atletas sejam obrigados a deslocar-se para Coimbra para participar em estágios e competições nacionais. Creio que está na altura de refletir se esta “romaria” defende o superior interesse do nosso desporto.