Euroliga 2024/25: grupos, rivalidades e o que esperar

Lucas PachecoOutubro 3, 20246min0

Euroliga 2024/25: grupos, rivalidades e o que esperar

Lucas PachecoOutubro 3, 20246min0
Lucas Pacheco traça os caminhos até à Euroliga 2024/25 e os destaques principais deste arranque da maior competição europeia de basquetebol

Chegada a hora do texto anual sobre a Euroliga, o torneio mais antigo e charmoso de basquete feminino de clubes no mundo. Disputado a mais de sete décadas, o principal campeonato de clubes da Europa terá um formato novo em 2024, em decisão da organizadora FIBA. A fase de grupos foi desmembrada: as 16 equipes, antes divididas em dois grupos de 8, foram separadas em 4 grupos de 4. Mantem-se a disputa interna a cada grupo, com todos contra todos, em ida e volta; ao final dessa fase, as três primeiras colocadas de cada grupo avançam para um novo agrupamento, enquanto as quatro lanternas seguem para a Eurocopa.

Essa segunda fase de grupos é uma das novidades no formato e as 12 equipes restantes serão divididas em dois grupos de 6, juntando-se o grupo A com o B e o C com o D. A partir daí, por mais atrativo que seja, fica difícil explicar sem apoio gráfico. As duas primeiras dos novos grupos avançam no confronto (primeiro de um grupo contra segundo do outro) – as vencedoras avançam direto para a semi-final (ou Final Six, na terminologia da FIBA). As terceiras e quartas colocadas de cada grupo avançam e disputam um duelo, quem vence avança e quem perde é eliminado.


Apesar de muito tradicional, a FIBA (organizadora da competição) optou por embaralhar o sistema, ampliando a fase final (para 6 equipes) e visando mais aleatoriedade. De fato, o formato anterior deixava o cenário muito previsível e a mudança chega para possibilitar mais surpresas.

Porém, a desigualdade financeira permanece e tende a anular mudanças no formato. Como dito todos os anos, a Euroliga é um torneio em que o investimento pesa sobremaneira, a ponto de você apontar no início do torneio, com amplas chances de acerto, três dos quatro finalistas. O novo formato não deve mudar o ranking de forças, encabeçado pela potência turca Fenerbahçe.

Atual bi-campeão, o clube vem forte em busca do tri. Depois de superar as adversidades e conquistar o título em 2023, a praga virou pelo avesso e hoje parece praticamente impossível alguma equipe destronar as toda-poderosas turcas. Para isso, o time manteve a técnica francesa Valerie Garnier e a principal jogadora não-estadunidense da atualidade, a pivô belga Emma Meesseman. A equipe deve contratar norte-americanas de primeira prateleira, como faz todo ano, ainda não anunciadas; novidade importante é a companheira belga de seleção de Messeman, a armadora Julie Allemand. Aguardemos a movimentação do mercado; independente disso, liste o Fenerbahçe como grande favorito.

Logo atrás, a segunda grande favorita é a equipe turca de Mersin, Çukurova. Novo rico, o time carece de tradição e vem batendo na trave nas principais competições. Ano após ano, porém, o dinheiro não falta e grandes elencos são montados, com grande rotatividade de jogadoras e comissão técnica. A ver como será esta temporada: grande avanço se o técnico Victor Lapeña (vice pelo Fenerbahçe em 2022) encerrar o ano no comando. Ele terá à disposição um esquadrão europeu, com a chegada de Marine Fauthoux, Yvonne Anderson, Marine Johannes, Iliana Rupert e Regan Magarity. Some as estadunidenses que devem ser contratadas e temos um time para bater de frente contra qualquer outro – no papel, ao menos.

O tradicional e constante USK Praga manteve sua base, responsável por atingir o Final Four na temporada passada. Caso adicione uma estadunidense de elite (Alyssa Thomas? Brionna Jones?), coloca-se como favorita às fases finais; já o Villeneuve D’Ascq, surpreendente finalista da temporada passada, reformulou-se completamente, dificultando qualquer previsão. Vai depender do tempo que o ótimo técnico Rachid Meziane levará para entrosar um elenco novo.

No grupo A, esperemos muito equilíbrio. Um blend intrigante: aos tradicionais Schio (Itália), Landes (França) e Avenida (Espanha), some o ascendente DVTK Miskolc (Hungria), com um resultado imprevisível. Qualquer prognóstico no grupo sujeita-se ao erro. A equipe húngara cresce gradativamente ano após ano, tendo alcançado a inédita quarta-de-final com praticamente o mesmo elenco do atual; verdadeira prova de fogo para o bom técnico Peter Volgyi – se ele elevar ainda mais o patamar de um bom elenco, sem grandes estrelas, poderá sonhar alto. Do outro lado, o espanhol Avenida tenta retomar um lugar de respeito, perdido com a queda no investimento e as contratações mais modestas; veremos a estreia de um prospecto de elite, a armadora de 18 anos Iyana Martin, que desconheceu obstáculos no circuito de base. Schio e Landes são fortes, ainda que longe do primeiro nível da competição.

Realidade oposta ao grupo B, onde o Mersin desponta acima dos demais. Bourges (França) será a segunda força do grupo e Zabiny Brno (Tchéquia, oriundo da etapa preliminar, quando superou o húngaro Szekszard) e Olympiacos (Grécia) brigarão pela última vaga. No grupo C, abaixo do Fenerbahçe, três equipes de boas campanhas recentes na Euroliga: Villeneuve (França), Zarazoga (Espanha) e Polkowice (Polônia). Três técnicos excelentes com elencos novos, sem muito tempo para se adaptar devido ao equilíbrio do grupo. A alemã Leonie Fiebich não retornará a Zaragoza e estará disponível no mercado, muito valorizada após a olimpíada e a excelente temporada na WNBA. Briga de foice no grupo!

No grupo D, espera-se que o húngaro Uni Gyor sobre. Valencia (Espanha), Veneza (Itália) e USK Praga (Tchéquia) devem avançar – como as campanhas serão carregadas adiante, convem não perder jogos fáceis e competir desde a estreia. O Valencia renovou com seu poderoso e extenso perímetro, tendo cambiado as peças de garrafão; Raquel Carrera, única remanescente, retornará de contusão durante a temporada, e brigará por posição com Bernadett Hatar, Kayla Alexander e Stephanie Mavunga. As espanholas almejam subir mais um degrau continental nessa temporada, após dominar o cenário nacional. O italiano Veneza regressa à Euroliga com um elenco mediano, com outra estreia esperada, a armadora Matilde Villa de 19 anos, protagonista na seleção adulta da Itália. Ela terá um importante desafogo ofensivo na ala Kamiah Smalls, uma das responsáveis pelo Villeneuve chegar à final passada.

Muita coisa ainda vai acontecer durante os próximos sete meses; a Euroliga é marcada por contratações inesperadas e troca de técnicos. Jogadoras destaque de equipes menores podem ser contratadas por favoritas e mudar o status de alguns clubes. Por mais que torçamos por surpresas, elas não chegam do nada na Europa e costumam dar indícios; ou seja, vale a pena acompanhar projetos modestos que apostam na continuidade. Não é uma receita exata de sucesso mas rendem bons frutos.

A fase de grupos começa na próxima semana, com partidas disponibilizadas no youtube da FIBA, de forma gratuita (ao menos no Brasil). Entre terça (08) e quinta-feira (10), todas as equipes estreiam e poderemos ter um gostinho do que nos espera.


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