Os eventos de Track mais aguardados dos Mundiais de Doha 2019 pt.2
A segunda parte dos eventos mais aguardados de Track de Doha 2019! Já leste a primeira parte? Podes lê-la aqui:
5 – 400 metros (Feminino)
A distância feminina da volta a pista sem barreiras é uma das que mais sofre com os recordes altamente duvidosos obtidos na década de 80. Apenas duas atletas na história baixaram dos 48 segundos e as duas fizeram-no nessa mesma década.
Ainda que falar de recorde é um assunto proibido e por muito tempo será (caso não exista a eliminação de recordes obtidos antes de testes mais completos, provavelmente nunca cairá), a verdade é que os 400 metros receberam um novo impulso nos últimos anos.
Depois do abandono de um dos grandes nomes da distância – Sanya Richards-Ross – os norte-americanos viram a atleta mais medalhada da história a fazer sucesso também nos 400 metros. Allyson Felix (33 anos) ganhou o Ouro nos Mundiais de Pequim e depois nos Olímpicos do Rio ficaria com a Prata, descendo para o Bronze nos Mundiais de Londres.
Apesar de em termos cronológicos parecer que a norte-americana tem descido gradualmente um degrau, a verdade é que até Londres sempre entrou em prova como uma das favoritas e isso pode mudar agora em Doha. Felix foi mãe em Novembro, gravidez que escondeu de toda a gente, o que explica os seus maus tempos do início da temporada – quando já se encontrava grávida. No entanto, voltar da gravidez, recomeçar a treinar e voltar aos tempos de antigamente nunca é fácil, ainda menos com 33 anos e com concorrência de peso.
A favorita – pelo menos, a 9 meses do evento – deverá ser Shaunae Miller-Uibo (25 anos), a atleta das Bahamas que curiosamente nunca foi campeã mundial (2ª em 2015 e 4ª em 2017, onde parecia que disparava para o Ouro) mergulhou para o Ouro na frente de Felix no Rio e quererá em Doha voltar a conquistar um título global, desta feita apenas focada nesta distância, depois de em Londres ter dobrado distâncias.
Em 2018 não perdeu uma única prova, correu em 48.97 no Mónaco, o tempo mais rápido no mundo em 9 anos, marca que a coloca no top-10 de sempre. A grande rival deverá ser a atleta do Bahrein, Salwa Eid Naser (21 anos), Prata em Londres, vencedora da Diamond League 2018 e que tem demonstrado uma evolução impressionante, tendo já como recorde pessoal o tempo de 49.08!
Entre outros nomes a considerar está a 3ª mais rápida do ano, a norte-americana Shakima Wimbley (24 anos); a norte-americana atual campeã mundial que não teve um 2018 especialmente bom, Phillys Francis (27 anos) e, quem sabe, Caster Semenya (28 anos), caso a sul-africana opte por fazer a distância. Atenção a duas jovens promessas norte-americanas: não se sabe se os objetivos de Lynna Irby (20 anos) e Kendall Ellis (23 anos) passam por Doha, mas acreditamos que, pelo menos, os de Ellis passarão. E ambas já correram abaixo de 50 segundos no desporto universitário em 2018…
4 – 100 metros (Masculino)
É inevitável falarmos de Usain Bolt naquele que será o primeiro evento global sem o astro jamaicano. O facto de Bolt ter perdido a sua última final da carreira até poderá ser “positivo” para esta fase da disciplina, uma vez que desaparece o fantasma “se Bolt aqui estivesse, ainda venceria”.
Em 2017 perdeu a final dos 100 metros, alcançando apenas o Bronze e os dois primeiros lugares do pódio foram para norte-americanos. O primeiro, Justin Gatlin (37 anos) é uma total incógnita – teve um 2018 de baixo nível, onde muitos veem um sinal que finalmente deixou de entrar em disputas de medalhas, mas o mesmo já tinha sido dito antes de Londres.
O segundo, Christian Coleman (23 anos) é provavelmente, o grande favorito. Coleman em 2018 fez uma fantástica temporada indoor com direito a recorde mundial e título mundial nos 60 metros.
Depois, ao ar livre, lesões afetaram a maioria da sua temporada, o que, ainda assim, não impediu de ir a Bruxelas vencer a Diamond League em fantásticos 9.79 (-0.3), a melhor marca no mundo desde a final de Pequim em 2015 e marca que o coloca como o 7º mais rápido de sempre.
Durante esta época, os maiores rivais foram norte-americanos e um deles, Noah Lyles (22 anos), poderá até vir a ser maior do que Coleman, mas para já as suas fracas partidas, tornam-no bem mais forte nos 200 metros (apesar dos 9.88 nos 100 metros serem um excelente cartão de visita).
De qualquer forma, já disse que irá tentar a dobradinha 100/200 e é um nome a ter muito em conta. Outro norte-americano que quer o Ouro é Ronnie Baker (25 anos), que teve um ano muito rápido logo em pista coberta (tornou-se no 3º mais rápido de sempre nos 60 metros), correu mais rápido do que nunca nos 100 metros (9.87), bateu Coleman e Lyles, mas depois perdeu a final da Diamond League para Coleman. Quer a sua primeira grande medalha global.
Tirando a armada norte-americana de fora da equação, normalmente seria este o espaço para falar dos jamaicanos, mas acontece que não parece existir um substituto para Bolt. Apesar de 3 jamaicanos terem baixado dos 10 segundos em 2018, 2 deles ainda muito precisam de mostrar em grandes palcos e, aos dias de hoje, Yohan Blake (29 anos) ainda parece o nome mais forte, apesar de longe dos seus dias de maior glória, que fizeram dele o 2º homem mais rápido de sempre. Ainda vai a tempo? Talvez.
Enquanto a situação de Andre de Grasse (24 anos) continua a ser de enorme incerteza, depois da lesão que se arrasta desde Julho de 2017, o chinês Bingtian Su (30 anos) tem ganho cada vez mais protagonismo e já anda perto de entrar na casa dos 9.8. Por fim, atenção à comitiva britânica – Zharnel Hughes (24 anos) foi o campeão europeu e já correu em 9.93 (+0.1) em 2018; Reece Prescod (23 anos) também já correu em 9.94 e obteve importantes vitórias no circuito internacional; por fim, CJ Ujah (25 anos) foi o surpreendente vencedor da edição 2017 da Diamond League.
3 – 100 metros com barreiras (Feminino)
Utilizamos as palavras do recordista mundial do evento equivalente masculino (Aries Merritt) para descrever o estado atual deste evento: “Em qualquer prova com Kendra Harrison e Briana McNeal presentes, o recorde mundial pode cair”.
Não podíamos concordar mais. Kendra Harrison (27 anos) é a atual recordista mundial do evento, depois de em 2016 ter ido a Londres bater um recorde (em 12.20) que durava há 28 anos, apenas duas semanas depois de ter falhado a qualificação nos Trials norte-americanos, o único evento que não venceu nesse ano ao ar livre.
No entanto, o registo de Kendra em grandes eventos não inspira muita confiança: a atleta era uma das favoritas nos Mundiais de Pequim, mas embateu nas barreiras na meia-final e ficou de fora da final; em 2016 além de incrivelmente ter falhado o apuramento para os Jogos Olímpicos num ano em que dominou todos os rankings, já havia falhando em ambiente indoor ao perder surpreendentemente o título norte-americano e depois ao ser apenas 8ª na final, ao embater também contra uma barreira; Em 2017 tudo parecia correr de forma perfeita até chegarem os Mundiais de Londres e tremer nas meias-finais (apurada ao limite) e falhar completamente na final, sendo 4ª.
2018 atenuou a sua fama de falhar em momentos decisivos com um percurso irrepreensível indoor, tornando-se campeã mundial da distância de 60 metros em pista coberta com recorde dos campeonatos. Ainda assim, a temporada outdoor foi intermitente – se é verdade que foi a mais rápida do ano, também é verdade que voltou a falhar nas duas finais da temporada: em Bruxelas na Diamond League e em Ostrava na Continental Cup.
Briana McNeal (28 anos), por outro lado, tem do seu lado a vantagem de já ter conquistado dois eventos globais (Mundiais de Moscovo 2013 e Olímpicos do Rio 2016), sendo a 4ª (igualada) mais rápida de sempre.
Em 2017, um problema administrativo na passagem de informação de localização para o controlo anti doping obrigou-a a parar por um ano, mas em 2018 já mostrou que essa paragem pouco a afetou, sendo a segunda mais rápida do ano a nível mundial, vencendo importantes meetings pelo mundo fora, incluindo a final da Diamond League. Serão as duas grandes favoritas, mas não estarão sós num evento com uma profundidade incrível.
Existem duas outras norte-americanas no top-10 das mais rápidas de sempre – Jasmin Stowers (28 anos) e Sharika Nelvis (29 anos) – e, caso alguma das 4 norte-americanas vença a Diamond League, até podem as 4 conseguir o apuramento para Doha.
Nomes como Christina Manning (29 anos) – Prata nos Mundiais Indoor de Bimingham – e Queen Harrison (31 anos) podem entrar na discussão interna, mas quem as americanas mais temem em Doha será a sempre batalhadora australiana Sally Pearson (33 anos) que nos Mundiais de Londres, quase que renascendo das cinzas, voltou a conquistar um evento global, 5 anos depois dos Jogos de Londres.
Esteve desaparecida em 2018, mas deverá voltar a ser uma ameaça em 2019, onde uma outra ex-campeã mundial, a jamaicana Danielle Williams (27 anos) pode ser candidata às medalhas depois de um muito interessante 2018 com direito à melhor marca da sua carreira e à vitória na Continental Cup de Ostrava.
No meio de uma série de promessas jamaicanas, nigerianas ou até bielorrussas, devemos tomar especial atenção ao nome de Jasmine Camacho-Quinn (23 anos), que representa Porto Rico (que escolheu com alguma controvérsia, em detrimento dos EUA, seu país de nascimento). Camacho-Quinn fará o seu primeiro como atleta profissional, mas já no ano passado correu em 12.40, sendo a terceira mais rápida do ano e entrando já no top-15 da história.
2 – 400 metros (Masculino)
Wayde van Niekerk (27 anos) parecia ser o novo menino-bonito da velocidade mundial e o título ficava-lhe bem. Afinal, o sul-africano dá prioridade a uma distância que evita comparações com Bolt (o jamaicano nunca quis experimentar os 400 como sénior), é o atual duplo campeão mundial, campeão olímpico e recordista mundial, depois de bater o famoso recorde de Michael Johnson que durava há quase 17 anos.
Acontece que pouco depois dos Mundiais de Londres, van Niekerk lesionou-se enquanto jogava rugby e passou todo o 2018 no estaleiro. Se regressar ao seu melhor nível, pode muito bem revalidar o seu título, mas deve ter especial atenção a concorrência nova.
Entre os adversários, o maior rival poderá ser Michael Norman (21 anos), o jovem norte-americano que surpreendeu o mundo no ano passado com o tempo mais rápido de sempre na distância indoor e depois ao correr em 43.61 ao ar livre na final dos Universitários, a marca mais rápida em todo o mundo em 2018! Será o seu primeiro ano como profissional e o primeiro frente-a-frente com van Niekerk será, certamente, de parar o mundo.
Steven Gardiner (24 anos), das Bahamas, já foi Prata em Londres e tem vindo a evoluir consideravelmente, já com um recorde pessoal de 43.87, que até poderia ser já melhor, não fossem as lesões que afetaram parte importante da sua temporada. Não podemos esquecer, ainda, que o norte-americano Fred Kerley (24 anos) correu em 2017 em 43.70 e que em 2018 o jamaicano Akeem Bloomfield (21 anos) voou na Diamond League de Londres em 43.94, entrando na lista restrita de atletas abaixo dos 44 segundos, o que faz dois dois atletas legítimos aspirantes ao pódio.
Além do atleta do Botswana Isaac Makwala (34 anos), que pareceu mais fraco em 2018, mas que continua a querer mostrar ao mundo que ainda pode alcançar um título em eventos globais, as grandes incógnitas são dois ex-campeões mundiais e olímpicos. O norte-americano LaShawn Merritt (33 anos) poderá até ter muito difícil o seu apuramento para Doha tal a concorrência interna; já o atleta de Granada, Kirani James (27 anos) parece ter superado totalmente a doença que lhe afetou e caso faça um 2019 completo, não sabemos que nível poderá atingir.
1 – 400 metros barreiras (Masculino)
Foi o evento mais entusiasmante de 2018 e pode muito bem voltar a sê-lo em 2019. Os ingredientes estão todos cá. Abderrahman Samba (24 anos) foi a grande estrela do ano que agora terminou, correndo por 9 vezes abaixo dos 48 segundos!
Não perdeu qualquer prova e o mais rápido que o fez foi em 46.98 segundos em Paris, tornando-se apenas no segundo atleta da história a correr abaixo dos 47 segundos. Terá ainda o aliciante extra de correr os Mundiais em casa, uma vez que representa o Qatar (apesar de ter nascido e ter crescido na Arábia Saudita).
À partida, terá como grande rival um atleta que ainda nem sequer fez a estreia profissional na distância! Será em 2019 que o mundo irá ver pela primeira vez o norte-americano Rai Benjamin (22 anos) no circuito internacional nesta distância, mas é muito difícil não colocar já o atleta como um dos grandes favoritos, depois de em 2018 ter corrido nos Universitários Norte-Americanos em 48.02, marca que o coloca (igualado com Moses) como o terceiro atleta mais rápido da história. Em 2018 fez a sua estreia no circuito europeu, mas apenas nos 200 metros, sendo que os 19.99 (-0.6) corridos no Mónaco dão enormes indicações do que Benjamin tem na caixa e da sua versatilidade.
Numa segunda linha, mas não muito distante, existem 3 outros atletas que este ano baixaram dos 48 segundos, tendo todos eles alcançado também recordes pessoais. O primeiro é Kyron McMaster (22 anos) das pouco conhecidas Ilhas Virgens Britânicas.
A marca de 47.54, feita em Paris, coloca-o já no top-20 da história e apesar da sua idade, já tem dois troféus da Diamond League em sua posse. Em 2017, em Londres, era o favorito, mas incrivelmente viria a ser desqualificado logo nas eliminatórias. Quem aí aproveitou para surpreender foi Karsten Warholm (23 anos), o norueguês que foi campeão mundial na capital inglesa. Este ano melhorou os seus tempos e alcançou os 47.64 em Berlim para o título europeu, mas teve também duras dificuldades para vencer nos meetings internacionais devido à concorrência acima mencionada.
O terceiro atleta que este ano baixou dos 48 segundos foi o experiente Yasmani Copello (32 anos), o turco que este ano correu em 47.81 em Berlim, dificilmente conquistará a medalha de Ouro, mas se o virmos no pódio não será, de todo, surpreendente.
A grande incógnita é o campeão olímpico, o norte-americano Kerron Clement (33 anos). Depois da desilusão de Londres (onde se teve que contentar com um Bronze), praticamente não andou por cá em 2018 e não se sabe bem se em 2019 terá o que é necessário para entrar nas contas de um evento que para ser vencido em Doha deverá precisar de uma marca próxima de, ou mesmo de, recorde mundial.