Masculinos – 4 Recordes Mundiais que podem estar sob ameaça em 2019
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2018 foi um ano fantástico para o Atletismo. Contra as expetativas de muitos arautos da desgraça que continuam a mostrar-se muito pouco fiáveis a nível de futurologia, foi um ano que nos trouxe recordes mundiais ao ar livre, recordes mundiais em pista coberta, uma série de recordes europeus, performances inolvidáveis ao longo de todo o ano e o aparecimento de grandes estrelas, que ainda possuem um potencial enorme para crescimento.
O fantasma de Usain Bolt andou muito pouco presente, a retirada de Mo Farah das pistas não impediu a existência de uma das melhores provas de sempre nos 5.000 metros e os Saltos e os Lançamentos provaram cada vez mais que merecem um lugar ao mesmo nível do “track” no nosso desporto.
Tudo isto aconteceu num ano sem grandes competições globais ao ar livre e, portanto, aproximando-se um ciclo de 3 anos de eventos globais (Doha 2019, Tóquio 2020 e Oregon 2021), é de esperar que a intensidade suba em alguns eventos e possamos ter mais grandes marcas a qualquer momento.
Confesso que, numa nota pessoal, sou uma pessoa que normalmente coloca vitórias/medalhas à frente de recordes. No entanto, é sempre algo especial ver uma melhor marca de sempre a cair.
É nesse âmbito que neste artigo, iremos destacar 10 recordes mundiais que acreditamos que poderão cair em 2019, ou que, pelo menos, poderão ser ameaçados durante o ciclo de eventos globais que se avizinha. Claro que não vão cair os 10. Claro que até podem cair recordes fora desta lista. Mas acreditamos que no próximo ano e no ciclo que aí vem, estas marcas estarão permanente sob ameaça.
400 metros barreiras (M)
Atual recorde mundial: Kevin Young (USA), 46.78 (Barcelona, 1992)
Há 1 ano atrás seria praticamente impossível colocar aqui esta prova. Acontece que este ano tivemos dois atletas a entrar diretamente para o top das melhores marcas de sempre, como o segundo e o terceiro mais rápidos de sempre! Na verdade, a marca de Rai Benjamin (47.02) surgiu primeiro. Foi a 8 de Junho deste ano, nos Universitários norte-americanos, que o atleta fez a marca que o colocava como o segundo mais rápido de sempre (igualado com a lenda Edwin Moses).
Há 26 anos, desde o recorde mundial de Kevin Young (46.78) em Barcelona, que não se corria tão rápido e o jovem fê-lo nos Campeonatos Universitários! Antes desta temporada, Benjamin nunca havia baixado dos 48 segundos. Este ano baixou duas vezes (a outra em 47.98), sabia-se do seu enorme potencial, mas nunca se esperaria que em Eugene tirasse quase 1 segundo ao seu melhor pessoal alcançado um mês antes em Sacramento.
Mas Samba reagiu. O atleta do Qatar dominara todas as atenções da distância antes de Benjamin brilhar em Eugene. Estava a ser totalmente avassalador na distância a nível mundial, com vários recordes de meeting e com marcas que lhe dariam Ouro em quase todos os mais recentes eventos globais. Abderrahman Samba respondeu de forma brutal ao tempo de Rai Benjamin. A 30 de Junho, em Paris, correu em 46.98 segundos, tornando-se apenas no segundo homem a baixar dos 47 segundos na história! Samba tem 7 dos 10 (!) melhores tempos do ano e baixou por 9 vezes dos 48 segundos. Para se ter uma ideia: de Janeiro de 2013 a Dezembro de 2017, só se baixou 11 vezes dos 48 segundos em todo o mundo. Samba baixou 9 vezes em um único ano.
E a juntar aos dois grandes candidatos mencionados, ainda temos que falar de Karsten Warholm, o norueguês campeão mundial (que este ano bateu vários recordes a nível nacional e continental e correu o seu melhor de sempre em 47.64) e o duplamente vencedor da Diamond League, Kyron McMaster (que melhorou o seu recorde para 47.54). As idades?
Rai Benjamin – 21 anos
Abderrahman Samba – 23 anos
Karsten Warholm – 22 anos
Kyron McMaster – 21 anos
Salto em Comprimento (M)
Atual recorde mundial: Mike Powell (USA), 8.95 metros (Tóquio, 1991)
Quando muita gente poderia pensar que Luvo Manyonga tinha caminho livre para dominar a disciplina e perseguir com alguma tranquilidade o seu sonho de bater o recorde mundial, eis que chega um miúdo de 19 anos que vem abanar com tudo.
Depois dos problemas pelos quais passou a nível de saúde e de toxicodependência, o sul-africano venceu o Ouro nos Mundiais de Londres, entrou na casa dos 8.6 em 2017 e parecia ser o grande nome da disciplina para os próximos anos. Mas é sempre um erro subestimarmos a escola cubana, que nos dá sucessivamente grandes talentos nos saltos, com a particularidade dos mesmos normalmente aparecerem bastante cedo.
Ainda assim, Juan Miguel Echevarría é do melhor que essa escola de elite já apresentou. Já fez os 20 anos, mas foi ainda com os seus 19 que causou o primeiro choque na temporada de pista coberta ao bater Luvo Manyonga e conquistar o Ouro dos Mundiais em 8.46. Mas ao ar livre, o cubano ainda foi maior: foram 5 marcas a 8.5 e 8.6, com o seu melhor pessoal a situar-se agora nos 8.68 metros! Mas a juntar a todas essas grandes marcas e a alguns saltos nulos verdadeiramente impressionantes, existiu um salto em Estocolmo que foi apenas ligeiramente acima do vento legal (o vento estava a +2.1), mas onde o cubano saltou 8.83 metros e enlouqueceu o mundo.
O salto de Echevarría foi o maior que o mundo viu nos últimos 23 anos e leva-nos a encarar a ameaça a recorde mundial de forma muita séria, apesar de Echevarría não ter competido nos últimos 2 meses da temporada por lesão. Para já, os 8.95 metros de Mike Powell, em Tóquio 91, ainda estão um pouco longe. Mas se tivermos Echevarría e Manyonga num nível consistente na casa dos 8.6, nunca saberemos o dia em que “O” salto poderá aparecer.
4×400 (M)
Atual recorde mundial: USA (Valmon/Watts/Reynolds/Johnson), 2:54.29(Estugarda, 1993)
Pode parecer o ponto mais estranho desta lista e compreendemos porquê. Talvez até esperassem o Salto Com Vara Masculino e confesso que poderia ser (bem( mais sensato. Afinal ninguém se aproxima, no momento, da estratosférica marca obtida em 1993, nos Mundiais de Estugarda. No entanto, 2017, deu-nos indicações bastante interessantes (com direito a mais do que um recorde mundial em ambiente indoor) e os EUA poderão apresentar em Doha uma formação praticamente toda nova, com muita ambição e muito rápida.
É claro que tudo dependerá da forma como os atletas chegarem aos Mundiais. Dependerá também, claro, dos muitos eventos que os atletas de 400 irão ter (400/4×400 misto/4×400 masculino), o que obrigará a que se gira com muita inteligência o esforço dos atletas. Ainda assim, se todos correrem próximo do seu melhor, poderemos assistir a algo histórico. E a razão para não verem uma marca destes meninos já no top de sempre é simples: nunca correram juntos!
Michael Norman, uma das grandes sensações da temporada 2018 e, possivelmente, o maior adversário que van Niekerk terá que enfrentar, terá – caso chegue saudável e a 100% – lugar garantido na equipa, com um melhor pessoal já (e ainda não completou os 21 anos…) já de 43.61 segundos, tendo sido o líder mundial de 2018. Fred Kerley, o vencedor da Diamond League, caso recupere os níveis do ano passado, quando correu em 43.70 segundos, também será carta garantida.
Rai Benjamin nasceu nos EUA, mas ainda compete por Antigua e Barbuda. Sendo um atleta nacional e nascido em território norte-americano, não é para já claro que o atleta tenha as mesmas dificuldades que hoje se verificam para a transferência de país.
Podendo competir em Doha, as hipóteses dos norte-americanos sobem exponencialmente. Sim, sem barreiras, apenas tem 44.74 (obtidos em Abril) como o melhor para mostrar. Mas alguém acredita mesmo que um atleta de 47.02 com barreiras e de 19.99 aos 200 metros, apenas vale isso? Além destes 2, possíveis 3, nomes, temos mais 2 atletas que fizeram uma época bastante interessante no circuito mundial.
Paul Dedewo entrou pela primeira vez na casa dos 44 segundos (44.43) e a evolução dos últimos anos poderá dar a entender que este tempo rapidamente deixará de ser o melhor. O jovem de 23 anos, Nathan Strother é outro que já entrou nesta casa (44.34) e que, provavelmente, até tem maior margem de progressão do que Dedewo.
São muitos “ses”, é verdade. Mas se dos 5 nomes falados, tivermos 4 ao seu melhor nível poderemos ver uma marca a entrar no top-10 e um ataque ao recorde mundial no ciclo de 3 anos que se aproxima. Recordamos que ter 3 atletas na casa dos 43 segundos chegou para obter o recorde mundial. Se Norman, Kerley e Benjamin (caso possa representar os EUA) estiverem ao seu melhor, podemos ver algo bonito.
Maratona (M)
Atual recorde mundial: Eliud Kipchoge (KEN), 2:01:39 (Berlim, 2018)
Não se pode dizer que o recorde tenha sido surpreendente. Afinal, Eliud Kipchoge há muito que o ameaçava, há muito que dominava a distância. Contando com a vitória em Berlim, o queniano tem 10 vitórias nas 11 provas disputadas na distância! Mas surpreendente foi a marca que fez, retirando 1 minuto e 18 segundos ao anterior recorde.
A seguir a essa prova, eu fui uma das pessoas que disse que essa marca demoraria muitos anos a ser quebrada – a não ser pelo próprio Kipchoge. E é precisamente por essa razão que coloco este recorde por aqui. Acredito que se alguém tem (ou terá num futuro próximo) capacidade de bater essa marca, esse alguém é o queniano. E ainda que seja uma marca do outro mundo, será durante os próximos 2/3 anos que considero que a mesma poderá estar mais sob ameaça de cair.
Claro que nomes novos podem aparecer a qualquer momento, mas olhando para a pista serão poucos os nomes que se consegue adivinhar que farão uma transição tão perfeita para a estrada (sim, Kejelcha, talvez tu). Também é verdade que durante a sua carreira em pista, poucos foram os que perspetivaram isso para Kipchoge, mas a máquina no momento está tão bem oleada que não vemos quem nos próximos anos possa fazer melhor. Assim resta-nos aproveitar um Eliud Kipchoge no máximo das suas capacidades e perceber até onde o queniano poderá baixar.
O seu sonho de baixar das 2 horas não esmoreceu e continua essa a ser a sua imagem de capa na página pessoal do Facebook. Essa ambição e sonho, sabendo da forma como o queniano é disciplinado e trabalhador, leva-me a colocar por aqui esta possibilidade.