2022 a todo o gás para o judo mundial e português
Depois do balanço do memorável ano de 2021, este artigo foca-se na antevisão de 2022, ano que ficará marcado pela entrada de Portugal no restrito grupo de países que organizam etapas do Circuito Mundial, pelo início de mais um período de Qualificação Olímpica e pela revisão de algumas das regras, revisão que já originou algumas críticas…
Aniversário da Federação Portuguesa de Judo
A Federação Portuguesa de Judo-FPJ comemorou o seu sexagésimo segundo aniversário. O Convento de São Francisco, em Coimbra, recebeu o evento, que celebrou esta data, e que ficou marcado pela distinção dos judocas, treinadores, árbitros e agentes que mais se distinguiram no último ano, com o óbvio destaque, dado o inquestionável mérito e qualidade dos Judocas Jorge Fonseca e Telma Monteiro.
Foi a celebração do Judo Português, num ano memorável, não só no que refere aos resultados, mas também no que respeita à superação e resiliência de toda a “família” do Judo em Portugal, que, sem dúvida, está de Parabéns! Contudo, em minha opinião o evento ficou inevitavelmente marcado por um momento desastroso e pouco prestigiante que foi a decisão da FPJ em graduar, a título póstumo, o Mestre Kiyoshi Kobayashi para 11.º Dan.
Não está em causa o reconhecimento do papel decisivo e do enorme contributo que o Mestre deu ao Judo Português. É inegável e evidente a marca que deixou, o que fez pelo Judo em Portugal e o facto de ser uma das maiores referências deste desporto no nosso País. Só que tal graduação não existe, não é reconhecida pelas principais organizações ligadas ao Judo, nomeadamente o Kodokan (Instituo do Judo, fundado pelo criador do Judo, Jigoro Kano), a Federação Internacional de Judo e a União Europeia de Judo.
Tal decisão é incompreensível e, sem dúvida, a merecida homenagem deveria assumir outra forma, por exemplo, refletir-se num galardão com o seu nome a distinguir uma entidade ou individualidade.
Nunca neste registo que, ao que sei, tem provocado algum embaraço e gerado comentários pouco abonatórios, nomeadamente no Japão, em que a estupefação foi total. Fica a ideia que a Federação, ainda que pretendendo distinguir o “Pai do Judo Português” e enaltecer o importante e decisivo papel do Mestre, enveredou por uma solução pouco pensada, escolheu o caminho mais fácil, sem ter em conta as consequências de tal decisão, o que acabou por ter um efeito perverso, exatamente contrário ao que era pretendido.
Circuito Mundial 2022 e qualificação Olímpica
O Circuito Mundial arranca já no final do mês de Janeiro com o Grand Prix de Odivelas. Como tive oportunidade de referir no último artigo, a sua realização em Portugal constitui uma grande conquista e a prova cabal do papel de destaque que o nosso País tem vindo a assumir no panorama do Judo Mundial.
O Circuito Mundial de 2022 promete muita emoção, a janela de qualificação para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, terá início em Junho, e no início de Agosto, teremos os Campeonatos do Mundo, que este ano decorrerão em Tashkent, no Uzbequistão.
Portugal irá contar com algumas caras novas, não tantas como eu gostaria, confesso, mas até Paris 2024 iremos assistir a 2 anos de grande intensidade, com uma prova do Circuito Mundial a acontecer todos os anos no nosso País e, creio, sem ser eufórico, estar ao alcance da nossa equipa igualar ou superar a memorável participação e prestação nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Ano novo…novas regras.
A Federação Internacional de Judo-FIJ anunciou a revisão de algumas das regras de arbitragem, a acontecer já no ciclo Olímpico que culminará nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Se é de enaltecer o facto de a FIJ estar atenta e constantemente implementar regras que ajudem à promoção do Judo, estas revisões, por vezes, têm-se revelado um pouco desadequadas e mal sustentadas. Desta vez, destaco, pela positiva, a preocupação em definir um protocolo mais lógico e esclarecedor, na atribuição da vantagem de Wazari, na continuidade do movimento, sem interrupção, que leva à vantagem, a perpendicularidade do contacto, independentemente se o braço de quem é projetado (UKE) está ou não alinhado com o tronco, desculpem os menos entendidos!
Pela negativa, destaco a dupla penalização para quem, para evitar a projeção, apoia as mãos ou os cotovelos no tapete, o que é compreensível na medida em que é importante proteger a integridade física dos atletas, mas não faz sentido o judoca ser penalizado com a vantagem do adversário e com um castigo. Também as situações de apoio da cabeça para projetar o adversário serão escrutinadas com mais atenção, e serão penalizadas com a desqualificação, mas este critério não é novo, logo é surpreendente este reforço, será porque alguns judocas usaram e abusaram desta situação, sem qualquer tipo de penalização? E se aconteceu quem foi conivente com este branqueamento?
Com mais ou menos polémica, a FIJ está empenhada em que o Judo se torne, cada vez mais, uma modalidade que o “comum dos mortais” entenda, simplificando algumas regras, tirando complexidade na análise, chegando ao ponto de abdicar de alguns dos fundamentos ancestrais deste desporto, o que tem originado um enorme debate com muita polémica à mistura. No entanto, continua a cair no erro de deixar algumas decisões na mão dos “supervisores”, que com frequência erram e lançam desorientação, pois não aplicam um critério uniforme. Isto com a agravante de a maior parte destes supervisores não terem, imaginem.., qualquer experiência de arbitragem, o que no mínimo é ridículo e descredibiliza a modalidade…
Vamos entrar em 2022 com muitas incertezas, parece que estamos a reviver a passagem de 2020 para 2021, com o número de casos de Covid a explodir, com a ameaça de confinamentos e restrições de novo a pairar no ar. Mas, ainda que preocupado, estou mais otimista do que há um ano atrás! Hoje sabemos muito mais que há um ano. Inclusivamente já conseguimos implementar um conjunto de protocolos de segurança, de testagem, que permitiram o regresso da atividade, a realização de competições.
Além disso temos vacina, comprovadamente eficaz, temos profilaxia, e temos muita vontade de não voltar atrás, a um período que marcou as nossas vidas, pelas piores razões, ainda que tenha tido a virtude de nos ajudar a reinventar, a superar e a valorizar o que temos.
Venha 2022, venha o Judo, que nós tratamos do resto!