2021 – Ano Olímpico. Será?
Os Jogos de Tóquio que se iriam realizar em 2020 continuam a chamar-se “Tokyo 2020”, mas serão realizados em 2021. Pode parecer uma estratégia de branding estranha, mas muito (ou tudo) terá a ver com dinheiro. Afinal já muito se tinha gasto na marca “Tokyo 2020”, marketing, camisolas, outdoors, material de suporte…e seria uma perda de dinheiro ainda maior caso tudo fosse agora alterado (o adiamento para 2021, por si só, resultará em mais 2 a 2.8 biliões de dólares na fatura final). Mas será que Tóquio receberá mesmo os Jogos Olímpicos entre Julho e Agosto deste ano?
Sim, de certeza. Bem, talvez. Ou seja, ninguém sabe.
As mensagens têm sido totalmente contraditórias, até dentro dos mesmos organismos. Thomas Bach, o presidente do COI, desde o adiamento, que tem dito que os Jogos se irão, “com certeza” realizar em 2021. Mais tarde, falou que a realização dos Jogos não se colocava em causa, mas que não poderia garantir que o público pudesse estar presente. Hoje, a sua mensagem é de que “mantém a confiança” de que os Jogos se possam realizar.
O presidente japonês tem dito que a realização de uns “Jogos seguros” está certa, mas esta semana um dos seus ministros afirmou que “dada a atual situação pandémica, tudo pode acontecer”. E é esse mesmo o ponto em que estamos.
A opinião pública japonesa não parece também estar convencida acerca da realização dos JO (segundo sondagem de uma agência noticiosa japonesa), com 80% da população a opor-se, hoje, à realização do evento este ano, preferindo o adiamento ou o cancelamento.
O COI tem tentado manter a sua mensagem de positividade e confiança, mas informações têm saído para o exterior, dando conta de que essa mensagem não é partilhada por todos na Organização. Richard Pound, um membro canadiano do COI, disse mesmo que “o elefante no meio da sala é o aumento do número de casos (…)”.
E os casos têm aumentado. Depois de um período em que parecia que a vacinação iria resolver todos os problemas em poucos meses, o aumento súbito de casos a nível global, associado a mutações do virus pode voltar a colocar tudo em causa.
Os Cenários em cima da Mesa
Há 5 cenários possíveis neste momento: jogos a 100% com público; limitação de público; sem público; adiamento dos Jogos Olímpicos para nova data; e cancelamento em absoluto dos Jogos Olímpicos 2020(2021)-
A possibilidade dos Jogos se realizarem com todas as comitivas e com a lotação máxima de espectadores é a preferida de todos. E cada vez menos provável. Os bilhetes estão vendidos e, apesar de algumas devoluções, praticamente todas as sessões estão próximas de esgotadas, contando com a lotação máxima. A lotação máxima dos recintos poderá ser impossibilitada pelas medidas de distanciamento social, pelo que a organização fica com uma batata quente nas mãos em caso de ter que devolver o dinheiro dos bilhete a alguns compradores ou…mesmo a todos. Nenhuma decisão está tomada sobre o assunto, numa altura em que até se fala que algumas comitivas podem ser proibidas de participar, dependendo do número de casos no seu país – coloca-se a questão: seriam mesmo Jogos Olímpicos?
O cancelamento parece um cenário catastrófico e ninguém quer pensar nisso. Nem a Organização, com todos os custos financeiros extra que isso ainda irá implicar, nem os atletas, que poderão passar oito anos (!) entre dois ciclos olímpicos. Para desportos onde os Jogos são a competição máxima, será um enorme factor desmotivacional.
Peguemos no exemplo de Mariya Lasitskene. A russa, absolutamente dominadora no Salto em Altura nos últimos seis anos, falhou os Jogos do Rio porque a Federação Russa estava suspensa e a IAAF não permitiu atletas russos (apesar do COI ter permitido atletas russos, como neutrais, noutras modalidades). Lasitskene foi sempre crítica das autoridades russas e da situação do desporto nacional, ameaçando mesmo abandonar o país. Ainda assim, isso não impediu que fosse metida lá para o meio do castigo. Caso os Jogos de Tóquio fossem cancelados, a atleta falharia as duas maiores oportunidades da sua carreira de conquistar a glória olímpica, sem que alguma tivesse tido a mínima culpa.
O cancelamento é, ainda assim, um cenário possível. Principalmente por tudo o que envolve um segundo adiamento.
Para 2022? Parece muito difícil. 2022 é ano de Jogos de Inverno e de Mundial de futebol e fica a questão se as televisões estarão dispostas a pagar a peso de ouro três eventos globais no mesmo ano, não sendo claro que retorno obterão daí, num ano em que talvez a maioria das pessoas não tenha muita vontade de ficar colada aos televisores, caso as restrições de circulação estejam ultrapassadas.
Por outro lado, a alteração dos JO para 2021 já fez com que fossem feitas alterações em todos os calendários anuais desportivos para os próximos anos e não parece minimamente viável que tal volte a acontecer. Uma hipótese que começa a circular nos corredores é a de um adiamento para uma fase mais tardia de 2021, falando-se em Outubro ou Novembro como hipótese.
O impacto que isso terá na planificação das épocas desportivas é enorme e, quanto mais tempo passa, menos provável parece que isso seja exequível. A juntar a tudo isto existem as palavras do chefe dos Jogos, Yoshiro Mori, em Abril do ano passado “Ou se fazem em 2021 ou são cancelados. É impossível manter uma estrutura deste tamanho por dois anos”.
Para já, não há respostas a ser dadas. Tudo depende, essencialmente, dos programas de vacinação nacionais e globais, do aumento/redução do número de casos e de eventuais mutações do virus. Até Abril, no máximo, uma decisão será tomada. Para já, o mundo mantém-se em suspenso.