2020 está a chegar ao fim e qual será o futuro-próximo do Judo?
2020 Será inevitavelmente um ano perdido para a maioria das modalidades desportivas. Apesar dos esforços das diversas federações desportivas, o facto é que o conjunto de restrições, condições e exigências para a retoma da prática competitiva no cenário pandémico a decorrer, desvirtua os resultados desportivos. O Judo, dadas as suas especificidades e características únicas, não será certamente a exceção.
Diário de uma pandemia
A vida de um atleta de alto rendimento, caracterizada pela rotina e a exigente disciplina, ficou mais condicionada devido ao confinamento imposto como resposta à pandemia de COVID19. Tem sido muito complicado manter os níveis de motivação destes atletas, que tentam não perder o ritmo, mantendo uma disciplina de treino diária, apesar dos constrangimentos associados a estar fechado numa casa que, na vasta maioria dos casos, não reúne as mínimas condições de treino para um atleta destas características.
Sem possibilidade de treinar em conjunto, no tapete de Judo, o ambiente ideal para qualquer Judoca, estes tiveram que se adaptar. Hoje, a vida de um Judoca de alta competição, na maioria dos casos, está condicionada aos treinos em casa, com o pouco equipamento possível de utilizar nestas condições e, por vezes, em grupo, mas irremediavelmente à distância, utilizando para isso as plataformas digitais.
Como tive oportunidade de referir, no último artigo, alguns clubes e federações conseguiram confinar alguns atletas num mesmo espaço físico e garantir o treino de tapete e em grupo dos mesmos. Atenta a possibilidade da realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, esta seria uma estratégia acertada, uma vez que não sendo a solução ideal, sempre permitiria minimizar os estragos e condicionalismos deste isolamento forçado. Contudo, foi um grande alívio, para os atletas, treinadores, patrocinadores, público, autoridades de saúde e governos, o adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021, apesar do eventual cancelamento em definitivo dos mesmos, dúvida que ainda paira no ar, ser uma hipótese, conforme declarações do presidente do comité organizador Jogos Olímpicos do Japão, Yoshiro Mori. Em entrevista, Yoshiro Mori afirmou que se a pandemia ainda estiver ativa “os Jogos terão de ser cancelados”.
À data, o sinais são encorajadores, as medidas de isolamento impostas estão a aliviar, uma vez que a situação, apesar de preocupante, parece estar controlada.
No final deste desafiante período, será importante aferir o estado psicológico dos atletas e demais agentes desportivos, pois ninguém ficará incólume ao que se está a passar, as implicações são brutais ao nível físico, motivacional, psicológico e económico.
Campeonatos da Europa de Judo
A pandemia de COVID19 e as alterações que implicaram a reestruturação do calendário de 2020, relançaram os Campeonatos da Europa de Judo de Lisboa, que estão confirmados e decorrerão entre 30 de Abril e 2 de Maio de 2021. Os campeonatos da Europa de 2021 serão mais do que uma importante competição do calendário de 2021, já que à importância prevista de decorrerem na ressaca dos Jogos Olímpicos de 2020, ficariam também marcados pela renovação e lançamento de novos talentos. Acresce que, agora, face a esta nova realidade, passaram a ser uma importante e decisiva etapa do circuito de qualificação para os Jogos Olímpicos, entretanto adiados para 2021.
Foi também confirmado o adiamento, e não o cancelamento, dos campeonatos da Europa de 2020, agendados para Praga, para os dias 8 e 10 de Novembro de 2020. Aproveito para deixar aqui os meus agradecimentos à Catarina Rodrigues, Diretora de atividades da Federação Portuguesa de Judo-FPJ e Diretora Desportiva da União Europeia de Judo -UEJ, que prontamente entrou em contacto e me prestou este esclarecimento.
Prémio Ética no Desporto e Ordem de Mérito atribuídos a Jorge Fonseca
Como nunca é tarde para felicitar um Campeão, temos a destacar a atribuição, no final de Janeiro, de duas importantes distinções ao Campeão do Mundo Jorge Fonseca. A Ordem de Mérito, por parte de Sua Excelência O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e a atribuição do Prémio “Ética no Desporto” de 2019, por parte do Instituto Português do Desporto e Juventude.
Entre outros momentos notáveis, Jorge Fonseca protagonizou um emblemático gesto de partilha com Teresa Santos, uma jovem fã institucionalizada num centro de acolhimento temporário infantil, atleta de 13 anos de idade e praticante de Judo no Judo Clube da Marinha Grande. Este gesto foi aclamado pela comunidade desportiva. Não indiferente à história de vida de Teresa Santos, o campeão ofereceu-lhe a sua medalha de ouro.
Repensar o Judo Pós Covid19
Vou agora escrever sobre os Judocas mais novos, escalões de formação e de aprendizagem, cuja atividade tem sido mantida através de aulas em direto através das plataformas digitais de tele conferência, com direito a alguns momentos épicos e que certamente ficarão para a posteridade. Tenho tido oportunidade de observar, por todo o nosso país, treinadores de Judo a tentar que os mais novos continuem a prática do Judo em casa, dentro dos constrangimentos inerentes à prática de um desporto de luta em divisões com áreas manifestamente pequenas para o efeito, e com muitos obstáculos como sofás, guarda-fatos e camas.
Reconheço o enorme mérito de quem faz tudo para que os jovens praticantes mantenham a ligação ao desporto e à prática desta modalidade. No entanto, fico bastante apreensivo na resposta à dúvida sobre se esta crise não será altamente penalizadora para a modalidade, especialmente no que refere às gerações mais novas. Ou seja, se não irá provocar um decréscimo substancial no número de praticantes, que acabarão por abandonar a modalidade por desinteresse, devido a este afastamento forçado, sendo que o regresso à normalidade se perspetiva difícil, desde logo por razões económicas, considerando as exigentes condições exigidas pelas autoridades de saúde e federações, quase impossíveis de colocar em prática para a vasta maioria dos clubes, para que se dê o reinício da atividade em segurança.
À semelhança do que se passa em tantos outros sectores da sociedade, também no Judo terá que se reinventar uma forma de assegurar o futuro. Será necessário um plano agregador de retoma da atividade, porque, se no alto rendimento as regras estão definidas e existem condições para as implementar, no que respeita à oportunidade de assegurar aos mais novos o acesso à modalidade poderemos ter pela frente um verdadeiro desafio no curto prazo.
TODOS os que gostamos do Judo, que estamos ligados a esta modalidade desportiva como praticantes ou ex-praticantes, familiares de atletas, colaboradores integrados na estrutura organizativa, árbitros, treinadores ou simplesmente simpatizantes, devemos refletir e perceber como podemos dar o nosso contributo para que seja possível ultrapassar este enorme desafio com um mínimo de estragos. Está na hora de pensar em conjunto e não de promover a divisão. Todos beneficiaremos com isso.