Skënderbeu e a República Popular Albanesa
Nota: Este texto foi elaborado pela Enciclopédia do Desporto em Português, no âmbito da parceria com o Fair Play. Estreia-se, assim, uma nova rubrica no nosso website, denominada de “Histórias de Futebol”.
A 5 de novembro de 2015, o KF Skënderbeu – clube albanês da cidade de Korçë, na região fronteiriça da Albânia com a Grécia – tornava-se conhecido entre os portugueses ao derrotar, em sua casa, o Sporting CP por 3 bolas a 0.
O nome do clube pode dizer pouco aos desconhecedores da história da região balcânica, mas Skënderbeu é uma das mais importantes figuras do imaginário albanês. O nome da figura histórica é Jorge Castrioto, um senhor feudal da Albânia do século XV, o nome Skënderbeu é uma adaptação albanesa do nome turco Iskander Bey “Príncipe Alexandre” – numa referência a Alexandre, o Grande. Nessa altura toda a península balcânica era parte integrante do Império Otomano. Skënderbeu, apesar de ser natural da zona sul da Albânia, foi criado desde novo na corte otomana. Voltando aquando da morte de seu pai para sua terra natal, onde se dedicou a combater o exército otomano, conseguindo, durante cerca de 25 anos, manter boa parte do território que futuramente viria a ser a Albânia, sem ocupação otomana.
A Albânia seria parte integrante do império Otomano até 1912, de seguida foi sitiada pelos membros da Tríplice Entente (França, Reino Unido e Rússia) durante a I Guerra mundial e durante a II Guerra Mundial foi ocupada pela Itália. Geopoliticamente falando a Albânia é uma plataforma de acesso à península italiana daí ser um território tão apetecível ao longo da história, seja por otomanos no século XV, seja por italianos ou jugoslavos no século XX.
Apenas em 43/44 é que a Albânia atingiria a sua independência, quando os partisans comandados por Enver Hoxha expulsaram as forças fascistas da região. Mas qual a ligação entre a figura histórica do Skënderbeu e da Albânia Hoxhaista? A política de Enver Hoxha caracterizou-se por uma ideia de autossuficiência e independência, e Skënderbeu simbolizava historicamente isso, pois foi primeiro príncipe albanês e alguém que havia lutado face a um invasor externo. Convém perceber que a Albânia por se situar no ponto estratégico era bastante disputada por potências externas, como a Itália, a Grécia, a Jugoslávia e a Turquia. Ao se encontrar rodeada de pretendentes dos seus territórios, a República Popular Albanesa adotou um política cultural que era muito assente numa ideia mitológica de Skënderbeu – à semelhança da política cultural portuguesa com D. Afonso Henriques.
Mas falando de futebol, o KF Skënderbeu foi fundado em 1909 e foi o único clube que não mudou de nome no período Hoxhaista. Fundado numa cidade perto da fronteira grega, nenhum outro nome seria mais apropriado para um clube de futebol fundado por um grupo de jovens estudantes nacionalistas albaneses, liderados pelo político e poeta albanês Hilë Mosi – que seria um dos fundadores da Comissão Literária Albanesa, entidade responsável pela estandardização da língua albanesa, da sua ortografia, gramática e da produção de manuais escolares visando a formação de uma consciência nacional. Desportivamente, apenas na fase recente de 2010 para frente é que o Skënderbeu começou a apresentar resultados mais positivos, entre os quais 6 campeonatos, 2 Supertaças e 2 Taças. Porém, o título referente à época 2015-2016 foi-lhes retirado pela Comissão de Ética da Associação de Futebol Albanesa, devido à viciação de resultados.