O Santos realmente parou uma guerra?

Thiago MacielJunho 27, 20204min0

O Santos realmente parou uma guerra?

Thiago MacielJunho 27, 20204min0
Que o futebol sempre se misturou com política sabemos que é uma realidade, mas será que esse esporte seria capaz de parar uma guerra? Aqui nesse artigo você descobre o dia que o Santos de Pelé supostamente parou um conflito.

Nos anos 60 era muito comum o Santos sair pelo mundo em excursões. Isso levava o nome do clube além das fronteiras, trazendo mais torcedores, e fazendo com que todos conhecessem aquele que viria a ser o Rei do futebol, Pelé.

E em uma dessas excursões o Santos foi à África, mais precisamente em Benin City, Nigéria. País que passava por uma guerra civil e que pra realização do jogo faria um armistício. Bem, foi o que se acreditou por meio século.

Versão oficial do Santos F.C

Das arquibancadas da Vila Belmiro é possível escutar uma música de sua torcida, onde um dos trechos fala “O Santos é sensacional, só o Santos parou uma guerra…”. A versão do clube santista relata que o Santos fez dois amistosos no Congo, quando foi convidado pelo governo da Nigéria para a realização de uma partida numa cidade conhecida como Benin City. O que se comentava entre os jogadores era que eles iriam fazer essa partida para resolver o problema da guerra. O único jornalista brasileiro no local à época, Gilberto Castro do jornal “A Tribuna”, relatou que fora decretado feriado no país por conta do jogo.

O Santos venceu a Seleção do Meio Oeste por 2 a 1, com gols de Edu e Toninho Guerreiro. A equipe que foi a campo era formada por Gilmar (Laércio); Turcão, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo (Oberdan); Lima e Negreiros (Marçal); Manoel Maria, Toninho (Douglas), Pelé (Amauri) e Edu (Abel). O técnico era Antônio Fernandes, o Antoninho.

E logo após o jogo a guerra prosseguiu normalmente. Ainda segundo o site oficial do clube, o ex-goleiro Gilmar afirmou que tão logo o time subiu a bordo do avião as hostilidades reiniciaram na região.

Pesquisador desmente o mito

O pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) José Paulo Florenzano, que estudou os registros da partida, discorre em seu artigo que o Santos foi utilizado como um instrumento de manobra política do governo nigeriano. A hipótese do artigo é que Biafra, a cidade centro do conflito, já estava controlada e mesmo que houvesse resquícios de guerra civil se localizava a 130km de Benin City, local que ocorreu a partida, ou seja, não havia nenhum conflito onde jogo estava sendo realizado.

Para Florenzano o governo da Nigéria usou o Santos como propaganda de governo, para mostrar ao povo que a região já estava sob controle e que a situação era pacífica a ponto de poder receber o time do melhor jogador do mundo como atração.

O professor também conta que o Santos era tido como trunfo, para melhorar a imagem do país frente a opinião pública mundial. Estima-se que a Guerra de Biafra provocou a morte de 2 milhões de pessoas.

Os estudos de Florenzano sobre o tema foram desenvolvidos através de evidências encontradas de viagens que fez para África, depoimentos de testemunhas e estudos de materiais de correspondentes internacionais que acompanhavam a guerra. Ele faz pesquisas sobre o tema há 10 anos.

Ao menos, conta Florenzano, a equipe da Baixada Santista foi responsável pela negociação entre os dois Congos para que o time fizesse a travessia do rio entre os dois países, que estava proibida em razão do conflito diplomático. Um fato relevante, proporcionado pelos santistas.

 

Conclusão

O que temos é o uso do futebol mais uma vez como forma de agradar a população e mudar o foco do cenário político local. Cenário que encontramos inclusive em dias atuais, vide o retorno do campeonato Carioca em tempos de pandemia do Coronavírus.

Se o Santos parou uma guerra? Hoje não temos certeza, mas que o time santista do Rei Pelé encantou o planeta naquela época, isso não podemos questionar.


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