O futebol e as lutas de independência no norte de África

João FreitasAbril 15, 20195min0

O futebol e as lutas de independência no norte de África

João FreitasAbril 15, 20195min0
O papel do futebol na política de certos países é bem conhecida! Descobre aqui os casos do CR Belouizdad (Argélia) e do Raja Casablanca (Marrocos)!

É sobejamente conhecido o papel desempenhado pelo futebol e por figuras ligadas a este na luta de independência argelina e marroquina contra domínio colonial francês. Neste texto vamos falar das origens de dois clubes destes países que tiveram um papel fulcral neste momento histórico do século XXI: o CR Belouizdad e o Raja Casablanca.

O caso argelino: CR Belouizdad

Começando pela Argélia, a Frente de Libertação Nacional (FLN) é um partido político fundado a 23 de Outubro de 1953 – ainda ativo – com o objetivo de iniciar a luta armada e política contra a França Colonial e criar um Estado Democrático Popular Argelino. Um dos seus 9 líderes históricos era Ahmed Bem Bella (primeiro presidente da Republica Argelina). Bem Bella fora, na sua juventude, jogador do Olympique de Marseille e, durante a Segunda Guerra Mundial, centro-campista na equipa militar francesa. Um triste acontecimento que marca toda a história argelina ocorreu no dia 8 de Maio de 1945.

Exatamente no mesmo dia em que todo mundo rejubilava com a rendição da Alemanha Nazi aos aliados, nas cidades argelinas de Sétif, Guelma e Kherrata são massacrados 20.000 argelinos pelas forças coloniais francesas.

Mohammed Belouizdad (da o nome ao clube argelino)

Perante tão trágico acontecimento, um grupo de jovens argelinos compreende a necessidade de iniciar a luta armada contra o estado colonial francês. Um desses jovens era Mohammed Belouizdad. Por conta das suas atividades contra o regime colonial, Belouizdad será preso e enviado para Paris, onde morre de Tubercolose em 1952 – mais tarde, o seu corpo seria transladado para o seu bairro de Argel, o Belcourt.

Apenas em 1962 a Argélia conseguiria a sua independência, após anos de duros combates, prisões e tortura. E foi, precisamente, nesse ano que nasce o Chahab Riadhi Belouizdad (15 de Julho de 1962). Este clube é uma fusão de duas equipas do bairro de Belcourt, o Widad Riadhi Belcourt e o Belcourt Athletic Club. Atualmente, o bairro de Belcourt se denomina Belouizdad, numa homenagem ao seu corajoso “filho”. O C.R. Belouizdad é um dos clubes mais populares e destacados do campeonato Argelino (nunca desceu de divisão). Tem no seu palmarés 6 campeonatos nacionais, 7 taças argelinas e 3 taças dos Campões do Magreb.

O jogador do CRB que mais se popularizou em Portugal foi Islam Slimani. O grupo ultra do CRB, os Fanatic Red Boys, escolheram como seu símbolo Mohammed Belouizdad, mantendo viva a memória do guerrilheiro do seu bairro. Sobre a nobre luta do povo argelino pela sua independência existe um excelente filme, A Batalha de Argel (realizado por Gillo Pontocorvo, de 1966). Para além de ter sido realizado em Argel e recriar na exatidão as operações da FLN e dos paraquedistas franceses, muitos dos atores envolvidos são militantes da FLN, que vivenciaram em primeira mão as ações em causa. O filme esteve, inclusivamente, proibido de ser exibido em França durante 5 anos.

Equipa dou Belouizdad da década de 70

O caso dos marroquinos do Raja Casablanca

Já o Raja Casablanca catapultou-se para a ribalta em 2013, aquando da vitória sobre o Atlético Mineiro na meia final do Mundial de Clubes. Porém, a sua história é bem mais interessante do que qualquer crónica de um feito desportivo. O clube foi fundado na maior cidade marroquina (Casablanca) a 20 de Março de 1948 – convém salientar que, até 1956, Marrocos era um protetorado Francês.

A sua fundação está ligada diretamente aos sindicatos marroquinos, a maioria dos seus fundadores esteve presente e foi voz ativa na elaboração do “Manifesto da Independência”. Publicado a 11 de Janeiro de 1944, este manifesto apelava a uma mobilização nacional de todos os trabalhadores marroquinos para lutarem pela conquista da independência do seu país. O primeiro presidente do Raja, Moulay Sassi Aboudraka foi um dos fundadores e o primeiro presidente da União dos Trabalhadores Marroquinos, fundada em 1955.

Presidente do sindicato de trabalhadores marroquinos e residente honorário do Raja Casablanca

Foi durante a sua presidência do Raja, que o sindicalista tunisino Farhat Hached foi assassinado pelas autoridades francesas (5 de Dezembro de 1952), como forma de protesto Moulay Aboudraka organizou em conjunto com sindicalistas marroquinos, tunisinos e argelinos uma greve conjunta, que adquiriu contornos de uma revolta de todo o Magrebe contra a metrópole colonial francesa.

O apelido dado pelos torcedores do Raja ao seu clube (“O Verde Nacional”), ilustra bem esse papel do clube na história do país. O Verde, por ser a cor do islão e do nacionalismo pan-arabista e o “nacional” pelo motivo dos seus fundadores serem ainda hoje considerados heróis nacionais marroquinos, estando inclusivamente sepultados no panteão nacional de Marrocos.


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