“Underrated” ou simplesmente “esquecíveis”? – Jakub Blaszczykowski
Permitam-me começar este artigo com um pedido de desculpas. Desculpas porque daqui para a frente vou referir-me ao polaco Jakub Blaszczykowski por “Kuba” como é carinhosamente conhecido no mundo do futebol (o facto do seu nome ser tão difícil de pronunciar e escrever também muito contribui para o uso do seu diminutivo).
Nascido em Truskolasy em 1985, começou a jogar aos 8 anos no Częstochowa, onde ficou até 2002, quando se mudou para o Gornik. No entanto, passou apenas 3 meses no novo clube, até de mudar para o Stradom, onde estaria dois anos até surgir a oportunidade de jogar pelo clube do coração, o Wisla Krakow. A sua subida a pulso levou-o até ao gigante adormecido Borussia Dortmund, gigante que ele próprio ajudaria a acordar de novo. Esta chegada ao topo torna-se ainda mais marcante quando verificamos o terrível passado pessoal de Kuba, que muito jovem viu o seu pai assassinar a sua mãe. Mas isso não o impediu de triunfar, e de apontar para o céu sempre que fazia balançar as redes, dedicando cada golo à sua mãe.
Mas porquê underrated? Kuba chegou ao Dortmund no Verão de 2007, a uma equipa, de certo modo, em crise. Os homens da Westfalia não venciam um campeonato desde 2002, e não voltariam a vencer até 2011, já sob o comando de Jurgen Klopp. Nesta jovem equipa do Dortmund, destacavam-se vários elementos que até hoje se mantêm no topo do futebol europeu, mas se pedirmos para enumerar alguns elementos desta grande equipa de Klopp, muitos deixarão Kuba de fora. Algo que de certa forma, compreendemos. Não é fácil colocar Kuba no mesmo patamar de Lewandowski, Gotze, Reus, Gundogan ou Hummels, não esquecendo o pequeno genial japonês Shinki Kagawa, o potente extremo crotata Ivan Perisic, ou os experientes Weidenfeller ou Kehl.
No entanto, achamos injusto não falar sempre de Kuba quando se aborda o super Borussia de Klopp. Ao todo, foram 8 época na Alemanha, onde somou uns impressionantes 253 jogos, onde apontou 32 golos e fez 52 assistências. Mas o que Kuba dava à equipa era muito mais que números e estatísticas. Um extremo direito que tratava cada partida de igual forma, dono de uma entrega e competitivade fora do normal, capaz de realizar arrancadas pela direita ao longo dos 90 minutos, nunca descurando a ajuda defensiva (talvez esta sua versatilidade e vontade de defender tenham sido chave para os jogos que fez a lateral na Fiorentina e no Wolfsburgo). Dois campeonatos, uma taça da Alemanha, e uma final da Champions perdida para o rival Bayern em 2013, num jogo que nos deixou colados à cadeira.
Desde a sua chegada, em apenas uma época não ultrapassou a marca dos 25 jogos, o que revela bem a importância que Kuba foi tendo com os diferentes treinadores que teve no clube alemão, que raramente prescindiam do polaco que se conseguia destacar, para além da enorme velocidade, através dos seus cruzamentos venenosos e da sua perigosa meia distância.
Ao serviço da sua seleção, marcou presença em dois Europeus e um Mundial, somando mais de 100 internacionalizações pela competitiva Polónia.
No entanto, Kuba não é um elemento underrated apenas como futebolista. O extremo de 34 anos é também um ser humano extraordinário. Não obstante de ter recuperado de forma inspiradora da tragédia familiar que abalou a sua infância, Kuba regressou em 2018, ainda plenamente capaz de jogar ao mais alto nível, ao seu Wisla Krakow. Mais que isso, assinou um contrato em branco.
No início de 2020, depois de já ter investido bastante do seu próprio bolso, Kuba resolve assumir a presidência do clube para impedir o histórico polaco de entrar em falência, nunca deixando de ajudar também dentro de campo. Um grande jogador, mas sobretudo um grande homem. Porque é que tiveste de ser tu a falhar aquele penalti no Euro 2016 Kuba?