Um jogo especial: a história do dérbi basco entre Athletic e Real Sociedad

João FreitasJaneiro 24, 20225min0

Um jogo especial: a história do dérbi basco entre Athletic e Real Sociedad

João FreitasJaneiro 24, 20225min0
Um dérbi eterno, emotivo e apaixonante, fica a conhecer a história do affair basco entre Athletic Bilbao e a Real Sociedad

Dois clubes com uma aguerrida massa adepta disputam pela hegemonia desportiva numa das regiões mais carismáticas e aguerridas de Espanha: o País Basco.

A intensidade da rivalidade salientou-se logo nas primeiras disputas entre Athletic e Real Sociedad (na altura Club Ciclista de San Sebastian). Em 1909, a vitória dos Donostiarras – nome dos gentílicos de San Sebastian, que em basco é Donostia – nos quartos de final Copa del Rei de 1909, pós fim a pacifica coexistência entre ambos os clubes das duas principais cidades bascas. Em 1909, a Real Sociedad levaria o trofeu para casa, mas os bilbaínos ja tinham 2 copas no currículo.

Apenas em 1910 ocorreria o primeiro dérbi com ambos os clubes a apresentarem os nomes e os uniformes pelos quais agora os conhecemos. O encontro seria na final e o Athletic vingava a eliminação do ano anterior, tendo vencido o jogo por 1-0. Mostravam desta forma a pujança que o futebol basco detinha nesta fase inicial do futebol em Espanha.

Esse vigor devia-se sobretudo à importância dos portos de Bilbao e San Sebastian, onde vários navios ingleses atracavam e traziam o amor pelo desporto Bretão. Essa conexão é especialmente visível no equipamento do Athletic pelas suas semelhanças com o do Southampton FC. O presidente Alberto Zarraoa, que numa visita a cidade inglesa – esta tinha uma conexão por ferry a Bilbao – trouxe equipamentos do clube local.

E também nesta década que uma figura maior do futebol basco e espanhol desponta: Pichichi. Natural de Bilbao e craque do clube local – apenas jogou no Athletic – foi um dos mais prolíficos goleadores do futebol, tanto que o nome Pichichi é ainda hoje associado ao premio de melhor marcador da Liga espanhola. Pichichi morreria aos 29 anos, em causas ainda hoje desconhecidas, mas o seu legado ainda é um importante símbolo dessa pujança basca.

Na década de 1920, a rivalidade desceu de tom. A Real Sociedad perdeu algum destaque para outros clubes bascos, como o Real Union. Por seu turno, o Athletic era o porta estandarte da região basca disputando com Real Madrid e Barcelona os principais trofeus do país vizinho.

Pichichi (Foto: Athletic Bilbao)

Na época de 1928/29, os dois passaram a conviver na primeira, mas o Real Sociedade continuava a ficar uns furos abaixo do rival de Bilbau.

Com o estabelecimento da Republica Espanhola, houve uma maior expressão das diferentes nacionalidades. A rivalidade desportiva acabou por perder um pouco de espaço para a união em causa de um valor maior: a identidade e nacionalidade Basca. As duas equipas uniram-se para criar a seleção Basca. Que efetuou diversas excursos pelo mundo para recolher fundos para ajudar feridos, crianças orfas e o lado republicano da Guerra Civil de Espanha.

Com a vitoria das forças conservadoras/fascistas, houve uma supressão da identidade Basca (e de todas as outras), com repressão do Euskara (língua basca) e outros símbolos da região. Foi aí que o futebol assumiu o papel de bandeira de uma identidade suprimida. Athletic e Real Sociedad assumiram-se como últimos baluartes da identidade basca que o fascismo nao poderia retirar do povo Basco. Tanto que é nesta altura que os ambos os clubes limitam os seus planteis a jogadores nascidos no País Basco ou com origem Basca.

Na década de 1970, o Athletic perde um pouco do seu domínio, sendo por algumas vezes ultrapassado pelos rivais donostiarras. Mas em 1976, fase final da ditadura franquista, a 5 de Dezembro – dia de derbi basco – os capitães José Ángel Iribar e Inaxio Kortabarría entraram em campo no Estádio de Atotxa carregando a bandeira basca. Naquele momento, o símbolo regional era proibido, não só por questões nacionalistas, mas também pela relação com atos terroristas do ETA. A bandeira foi apreendida pela policia, mas o publico aplaudiu o momento com a efusividade dos adeptos dessa região. Apenas em 1978, os símbolos regionais deixariam de ser proibidos.

Os momentos mais espetaculares do dérbi vivem-se na década seguinte, quando Athletic e Real Sociedad disputam títulos da Liga Espanhola (as quatro temporadas, de 1980/81 a 1983/84). Os dois primeiros anos, a Real Sociedade foi bicampeã e nos seguintes o Athletic foi bicampeão.

Na década de 1990 a politica de contratações recrutamento de ambos os clubes começou a mudar, mas mantendo sempre um forte cunho da identidade Basca. A Real Sociedad começou por contratar jogadores estrangeiros e mais tarde nascidos em outras regiões de Espanha. Por seu lado o Athletic passou a aceitar atletas sem origem basca, mas que tenham nascido na própria região. Porém, os jogadores bascos ainda compõem a maioria dos planteis – o que revela a qualidade da formação de ambos os clubes.

Também foi nessa década que um dos principais “acordo de cavalheiros” dos dois gigantes bascos foi quebrado. Quando em 1995, o Athletic contrata o mítico Joseba Etxeberría, umas das maiores perolas da formação do Real Sociedad, pagando a clausula de rescisão. Etxeberría tornar-se-ia numa das mais míticas figuras dos leões de Bilbao.

Ambos os clubes são duas figuras de destaque da Liga espanhola, protagonizando uma intensa rivalidade que cola o espetador a qualquer minuto do jogo. 177 jogos, 485 golos, 44 empates, 76 vitorias do Athletic e 57 do Real. É esta a anatomia do dérbi basco.

Real Sociedad em 82/83 (Foto: Real Sociedad)

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