Serão os erros iniciais da Académica decisivos na luta pela subida?

Francisco IsaacSetembro 20, 20188min0

Serão os erros iniciais da Académica decisivos na luta pela subida?

Francisco IsaacSetembro 20, 20188min0
Três pontos conquistados em doze possíveis serão um problema de maior para a Académica de Coimbra? Será uma terceira época de insucessos para a Briosa?

Quatro jornadas já passaram e a Académica de Coimbra não entrou com a confiança e qualidade que se espera de um candidato à subida de divisão. Três empates e uma derrota é o registo de arranque de época da formação treinada por Carlos Pinto. O técnico, que foi um dos responsáveis pela subida de divisão do CD Santa Clara, tem tido dificuldades em encontrar estabilidade e consistência não só no onze mas também no plantel.

Contudo, quatro jogos em trinta e quatro não podem ser entendidos como o final da época, muito pelo contrário… estão em jogo ainda 90 pontos e a Briosa tem capacidade de recuperar dessa má entrada. Mas porquê o mau início de época? O plantel terá falta de protagonistas e/ou jogadores com experiência?

A verdade é que se isolarmos todos os factores que compõem o clube de futebol profissional da Académica de Coimbra encontramos bons e suficientes pormenores para colocar o maior emblema da cidade de Coimbra no topo da classificação da Ledman LigaPro. Vejamos alguns dos tais detalhes que compõe esta Briosa:

EXPERIÊNCIA A MAIS OU JUVENTUDE EM FALTA?

O treinador Carlos Pinto é um conhecedor das dificuldades da segunda liga e de como ultrapassar essas mesmas adversidades, como aconteceu no CD Santa Clara. Moldou a forma de jogar dos açorianos e depois de duas experiências no emblema de São Miguel, garantiu a subida à divisão tão deseja.

Tem uma boa capacidade de liderança, conseguindo extrair o melhor dos seus comandados, onde o tal de moldar a equipa para um futebol de posse e contra-ataque faz a diferença.

Todavia, o problema é que o futebol de Carlos Pinto não parece estar a encaixar no plantel que tem ao seu serviço para 2018/2019, e essa será a montanha a subir do técnico. A realidade dos conimbricenses é muito diferente do Santa Clara, um emblema que jogou sempre no contra-ataque e na surpresa, do que ser afirmadamente um contender pelos primeiros lugares, em que se espera um bom futebol ou pelo menos de domínio expansivo dentro das quatro-linhas.

No meio deste mau arranque, há um factor importante que pode aliviar a carga de maus resultados: nas duas últimas épocas da Académica na segunda liga, o arranque tem sido sempre terrível na conquista de pontos.

4 pontos em 2106/2017 e 3 pontos em 2017/2018. Isto prova que a situação classificativa da Briosa melhora claramente após a fase inicial, subindo de rendimento e até ombreando pelos lugares de topo da classificação. Porém, na época passada aqueles 9 pontos iniciais perdidos podiam ter feito toda a diferença no final das contas, falhando a promoção por quatro pontos.

É uma faca de dois gumes, se por um lado há garantias “históricas” de uma recuperação pós início de época, também está provado que a fraca entrada na segunda liga é símbolo de não-subida no final da época. Directamente, o futebol dos conimbricenses está longe de encantar, sendo notável a falta de consistência na comunicação entre-linhas, a ausência de preponderância no ataque (se falarmos então da ocupação da grande-área é um claro “fosso”) e a instabilidade defensiva nestes primeiros 360 minutos de Ledman LigaPro.

Observando esses três elementos, que estão a tornar a Académica numa formação pouco eficiente, há que perceber se o problema provém de um plantel de fraca qualidade ou se é uma questão de sub-rendimento.

Foto: Diário de Coimbra

Na baliza há Peçanha, um lendário e “antigo” guardião do futebol português, que chegou para colmatar a saída de Ricardo Ribeiro (partiu para servir o Paços de Ferreira de Vítor Oliveira)… infelizmente, não tem sido de todo um bom início de época para o brasileiro, tanto pela expulsão sofrida (levou Hugo Almeida a calçar as luvas) como pela pouca eficiência com os seus colegas da defesa.

Peçanha traz experiência ao bloco defensivo, mas até a este momento não conseguiu substituir Ricardo Ribeiro e a falta de um guardião mais agressivo e rápido em condicionar as jogadas dos seus adversários está a fazer falta ao plantel. A defesa também não recebeu as novidades necessárias, depois das saídas de Luisinho (regressou ao Académico de Viseu), Pedro Empis (era suplente, mas ainda assim jogou mais de uma dezena de encontros), Yuri (foi relegado para os sub-23, depois de uns bons 15 jogos na época passada) e a ausência estranha de José Castro (o central não parece contar para Carlos Pinto).

A Académica de Coimbra precisava de um reforço fenomenal para a defesa, com calejo mas sem ter uma idade demasiada avançada, com possibilidade de liderar o eixo defensivo ao lado quer de Estevam ou João Real (que esteve afastado da equipa tendo acabado por ser adicionado ao plantel na falta de novidades)… William, central com passagens pelo SC Braga e Gil Vicente, ainda começou a titular mas a lesão sofrida contra o Paços de Ferreira forçou a sua retirada do onze.

As laterais deixaram de ter tanta versatilidade, especialmente a da direita onde subsistia Luisinho, e a própria dupla de centrais não parece ter a sintonia do ano passado, faltando claramente mais uma opção. Porém, o grande do problema vai para a criação de jogo onde ocupava outro “inho”, de seu nome Chiquinho. Francisco Machado era quem carregava a batuta de motivar o ataque, de originar bons lances de perigo iminente, sempre pronto para decidir e a mudar os ritmos de jogo.

A perda do número 10 foi símbolo de perda de agilidade, velocidade e engenho no ataque, e a própria estratégia de Carlos Pinto está assente num duplo pivô com Fernando Alexandre e Guima (com Ricardo Dias no banco) como recuperadores e gestores das movimentações no “miolo”. Faltando o tal 10, o técnico optou por apostar em dois extremos mais dois avançados de área, com Hugo Almeida a ser um ponta-de-lança à antiga e Djoussé mais destacado na combinação entre-linhas, assente mais num papel de velocista do que goleador de área.

Estas combinações todas juntas resulta numa equipa que destrói medianamente bem o jogo do seu adversário, que tenta ocupar o meio-campo com eficiência mas que denota sérios problemas na construção e criação de jogo ofensivo, para além de não conseguir perceber a utilidade de ter Djoussé e Hugo Almeida a actuar na frente do ataque.

A somar a esta falta de coordenação e coerência do 11 titular, há ainda o problema de não existirem soluções no banco de suplentes que possam garantir sucesso ou dar pelo menos uma ajuda de ponta imediata. Romário Baldé ainda não se estreou, Júnior ex-União da Madeira ainda não apareceu com a mesma vivacidade com que agraciou a sua antiga equipa, Diogo Ribeiro ainda não agarrou a oportunidade, entre outros.

A ida ao mercado de transferências por parte da direcção da Académica de Coimbra foi também fraca tanto nos reforços ou, melhor, na falta deles, para além da má leitura que se fez do plantel. Reforçou-se a equipa com Carlos Pinto, um bom técnico do futebol português, mas não se garantiu contratações de qualidade para além de Hugo Almeida (traz experiência, capacidade de choque e agressividade nas disputas aéreas), Guima, Joel e Djoussé.

Os três pontos da Académica de Coimbra neste arranque de época são preocupantes para um emblema que está constantemente a adiar o seu regresso ao convívio dos maiores de Portugal, mas perante a falta de equilíbrio financeiro da SAD, os problemas estruturais do clube e o plantel curto e desajustado, pode ser que seja preciso mais um ano na segunda liga para criar outra estabilidade que garanta não só sucesso como também coesão.

Hugo Almeida Foto: Diário de Coimbra

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