Roberto Firmino, um novo tipo de formiga trabalhadora?
Hoje em dia é muito comum nas grandes equipas os homens da frente serem altamente competentes em várias vertentes do jogo, havendo cada vez menos avançados que se limitem a jogar dentro da área e que se destaquem apenas ao nível da concretização. Os grandes avançados da atualidade destacam-se pela forma como se envolvem na manobra ofensiva das suas equipas e pela forma como conseguem desgastar as defesas contrárias, seja através da pressão na primeira fase de construção ou da capacidade de arrastar os defesas e de desmontar as táticas mais agressivas.
Roberto Firmino encaixa que nem uma luva no perfil, fugindo ligeiramente à regra. O brasileiro de 27 anos transferiu-se com apenas 19 anos para o Hoffenheim, depois de ter feito carreira em clubes modestos do futebol brasileiro como o Tombense e o Figueirense. Firmino era, aquando da sua chegada, um dez puro, tal como muitos jogadores que chegam jovens dos campeonatos brasileiros.
Mas no futebol moderno, como se sabe. O clássico camisola dez caminha a passos largos para a extinção, sendo muito comum constatar a adaptação destes criativos a posições mais próximas das alas, ou evoluírem taticamente para se tornarem médios centro organizadores que pautam o jogo das suas equipas. No caso do brasileiro do Liverpool, a sua capacidade técnica e qualidade na finalização não faziam tanto sentido na ala, tendo evoluído por isso para aquilo que comummente apelidamos de “falso 9”.
O que é um falso 9? Ora, a descrição mais simples seria a de um avançado que não se limite a jogar na área, que apareça nas alas de quando em vez, que recue para pegar no e distribuir jogo. Mas a realidade é que esta descrição encaixaria bem em muitos avançados de topo hoje em dia, como Luís Suárez, Harry Kane ou Robert Lewandowski. Firmino é tudo isto mas mais um bocadinho. O brasileiro é literalmente um número 10 que joga mais adiantado, impressionando pelo toque de bola, a classe e a simplicidade com que joga e faz jogar os seus colegas, ele que devido ao seu passado no meio campo tem uma eficácia tremenda no passe. É peça fundamental do atual campeão europeu Liverpool, sendo o principal responsável pela ascensão quase meteórica dos seus colegas Mo Salah e Sadio Mané.
Porquê? Porque Firmino faz tudo em campo. Bobby, como é carinhosamente apelidado pelos apaixonados adeptos dos Reds, não se limita a perfumar o futebol da equipa, ou a contribuir com os seus golos e assistências. Firmino é uma autêntica formiga de trabalho, correndo quilómetros e quilómetros em todos os jogos, fazendo a diferença com a pressão inteligente que faz nos defesas contrários e nas desmarcações que múltiplas vezes abrem espaços para as setas Mané e Salah fazerem a diferença.
Firmino, que saiu do Brasil como um autêntico desconhecido, conseguiu já conquistar a exigente e crítica massa adepta e imprensa brasileira, que na sua maioria o considera o melhor jogador brasileiro da atualidade, ainda para mais numa fase em que Neymar de tem destacado por atividades extra campo.
Será Firmino o típico avançado do futuro? Só o tempo o dirá. Os avançados vivem de golos, e apesar do brasileiro de 27 contar com bons números (68 golos e 51 assistências em 199 jogos), acaba muitas vezes por ser ofuscado nos Reds, sobretudo por Salah. Ainda assim, o talento e abnegação de Bobby já lhe valeram comentários muito positivos de nomes míticos da Premier League como Thierry Henry ou José Mourinho, que o consideram neste momento o melhor 9 a atuar em terras de Sua Majestade, à frente de Kane, Aguero ou Aubameyang. Mas será Roberto Firmino mesmo um “9”? Deixamos a pergunta no ar. Seja um 9 ou não, a verdade é que o brasileiro, o que faz, faz de forma superlativa. E seja com ou sem a bola, Firmino faz muito.