(Real) Madrid F.C. e a cidade na luta contra fascismo em 1936
1936 marca o início do das hostilidades da Guerra Civil de Espanha, onde recém formada República Espanhola havia conseguido eleger democraticamente a Frente Popular, uma coligação de socialistas e comunistas. Porém, numa Europa onde os fascistas conquistavam o poder político (Alemanha, Itália, Portugal, etc.), a jovem república com cariz de esquerda sofreu desde muito cedo ataques à sua soberania.
A 17 de Julho de 1936, as forças conservadoras e fascistas arrancam a sua tentativa de golpe de Estado, que se tornaria numa Guerra Civil que duraria 3 anos. Esse golpe de Estado era dirigido pelo General Franco, que tomou a decisão de atacar Madrid logo em Novembro de 1936.
A deputada comunista basca, Dolores Ibárruri (conhecida como a “La Pasionaria”) proclama no parlamento espanhol as palavras de ordem que aglutinariam aos milhares comunistas, socialistas e anarquistas para a luta contra o fascismo: “Se é para viver de joelhos, prefiro morrer de pé! Não passarão!”.
O mote para a defesa da capital estava dado. O bairro operário de Vallecas – local do gigante Rayo Vallecano – foi o principal reduto dos milicianos antifascistas. Fizeram inclusivamente, questão de lá colocar uma faixa com as palavras da “Pasionaria”.
Mas o futebol participou ativamente na auto-organização da defesa da capital espanhola: Félix Quesada, defesa do Real Madrid F.C. – que na altura apenas se designava Madrid F.C. -, liderou com outros atletas a ocupação e expropriação das propriedades do clube, com o intuito de preparar a formação do “Batalhão Desportivo para Defesa de Madrid”. António Ortega, Presidente do Real Madrid era militante do Partido Comunista Espanhol e foi comandante do III Corpo do Exército republicano, tendo sido fuzilado no final do conflito.
Os terrenos serviriam para aquartelar milicianos e fornecer preparação militar básica. Futebolistas, árbitros, boxeurs, ciclistas e outros atletas das mais diversas modalidades acorreram na luta heroica do povo espanhol. A sua ação foi decisiva para atrasar a entrada das forças fascistas na cidade, nomeadamente na defesa da zona de Chamartín.
A guerra civil espanhola, apesar do seu trágico desfecho, foi um dos mais belos momentos de internacionalismo pela defesa de um ideal democrático e inclusivo frente à barbárie, à opressão, ao racismo e à desigualdade. O nome de algumas brigadas milicianas o comprovam: Garibaldi, Thaelman, Louise Michel, Henri Barbusse, Comuna de Paris, etc. Onde grupos de pessoas com opções ideológicas diferenciadas, decidiram combater lado a lado, unidos pelo sentimento de solidariedade com o povo espanhol agredido pelo fascismo.
As proezas dos bravos atletas de Madrid e o seu esforço ecoa nos tempos que correm, com o Ultras Bukaneros do Rayo Vallecano a não permitirem que a sua bravura seja apagada da memória coletiva da sociedade espanhola.
Felix Quesada sobreviveu ao conflito, tendo abandonado momentaneamente o pais, mas regressado durante a segunda guerra mundial. Em 1951, foi selecionador espanhol. Atualmente, é recordado como um dos melhores defesas e “canteranos” (jogadores formados no clube), inclusivamente venceu uma bola de ouro da associação de jornalistas espanhóis no ano de 1926 – quando tinha apenas 24 anos de idade.