Portimonense e Sr. Vítor Oliveira estão a 9 pontos da permanência!
A Ledman Liga Pro está ao rubro e com 8 candidatos claros a lutar pela subida de divisão, algo sensacional para uma liga secundária e profissional… mas isso só está a acontecer porque falta um macho alfa ou, se quisermos, um Tyrannosaurus Rex a espalhar o terror, o domínio e o controle por entre os seus homologos já que nos últimos cinco anos promoveu cinco equipas diferentes.
Mas onde anda o Professor/Mister/Sr. Vítor Oliveira? Bem, por mais estranho que pareça o treinador voltou à Liga NOS com o Portimonense, uma das tais equipas que ajudou a subir de divisão e, até, de somar o título de campeão da Liga Pro. Algo minimamente impensável, não o ser campeão e subir mas o de se manter fiel a um projecto e não se ficar, mais uma vez, na segunda divisão portuguesa.
O retorno do treinador sexagenário à principal divisão de futebol portuguesa deveu-se, em grande parte, ao projecto que o Portimonense montou, em que há um investimento sério na equipa principal e que traz possibilidades de continuar a “ganhar”. Numa entrevista dada ao Diário de Notícias em 2016, Vítor Oliveira tinha explicado que o indicador de sucesso no futebol são as vitórias.
“futebol é para quem ganha”, por isso, continuar na II Liga dá-lhe “possibilidades de ganhar mais vezes” do que no escalão máximo do futebol português. “Provavelmente é um dos fatores determinantes para as minhas decisões”
Para além disso, na mesma entrevista, tinha feito referência que a fórmula para o sucesso passava por ter uma boa estrutura, um plantel com qualidade, uma direcção que não falhe os compromissos, trabalho e “alguma sorte”. Ao ver que se manteve em Portimão, percebemos que essas condições foram garantidas para mais uma temporada e, agora, no escalão máximo em Portugal.
E o regresso à Liga NOS tem corrido da melhor forma? Até ao momento podemos dizer que tem sido interessante ver a experiência do treinador a funcionar do Portimonense, sendo o quinto ataque mais prolífico da competição, com 31 golos. Lembrar que desde 2008 que o treinador não constava nos bancos de suplente da Primeira Liga, depois de uma má experiência no União Desportiva de Leiria, com a formação do rio Lis a sofrer a despromoção para a Liga de Honra.
Ao fim de 9 anos nas divisões inferiores, onde treinou e promoveu com sucesso o Arouca, Moreirense, União da Madeira, GD Chaves e o Portimonense, tendo deixado boas bases nestas formações. Mas vamos então tentar responder a duas perguntas: porquê é que ficou em Portimão? E o que tem feito o Portimonense na Liga NOS?
Uma nota adicional… o leitor sabia que Vítor Oliveira tinha jogado no clube algarvio? E que retirou-se de seguida tendo assumido o cargo de treinador em 1985-86? Meras curiosidades que podem ser importantes para perceber o que liga Vítor Oliveira ao Portimonense.
PORTIMONENSE É SINÓNIMO DE SERIEDADE?
Recuemos até ao ano de 2010, altura em que o Portimonense tinha regressado à Primeira Liga após mais de vinte anos fora dessa divisão, com a equipa de Litos a conseguir uma promoção como o segundo melhor classificado nessa temporada de 2009/2010. A viagem até à Liga NOS correu da pior forma, já que somaram 17 derrotas em 30 jogos, ficando um registo pobre de seis vitórias e 28 golos marcados.
O tombo foi grande, já que na época seguinte voltaram a cair para a despromoção, com o “fantasma” da 3ª divisão a ser agora uma realidade. Todavia, a descida consecutiva não aconteceu, uma vez que o Varzim SC recebeu “ordem de expulsão” da Liga de Honra, recebendo o Portimonense um convite para se manter na segunda-liga. Desde então o clube algarvio tem tentado mudar a sua rota com a promoção a ser meramente um “sonho”.
Mas o “sonhar” tornou-se realidade quando Vítor Oliveira chegou ao clube algarvio em 2016, após ter dado mais uma “ajuda” ao subir o Grupo Desportivo de Chaves passado 17 anos da sua última prestação em terreno dos “gigantes” de Portugal.
O mote estava dado… o “Rei das Subidas” optou por ir para o sul de Portugal e agora era altura de começar olhar para os primeiros lugares… não há espaço para o “talvez”… ou é ou não é.
A temporada 2016/2017 na Liga Pro foi quase como um passeio, já que a diferença entre o 1º lugar (Portimonense) e o 3º (União da Madeira) era de 19 pontos no final da competição, diferença essa que acentuou-se a partir do fim da primeira-volta do campeonato. Com 25 vitórias em todo o campeonato, Vítor Oliveira preocupou-se em construir uma defesa sólida q.b, como dotar o seu ataque de uma qualidade excepcional de forma a que conseguissem responder sempre nos piores cenários.
Os 70 golos marcados foram sinónimo de qualidade, com o Portimonense de Oliveira a ser a equipa que melhor futebol jogou, tendo no Desportivo de Aves um “rival” extraordinário (a equipa da Vila das Aves também terminou com 17 pontos de distância do 3º lugar), ultrapassando com facilidade o recém-despromovidos de então da Académica e União da Madeira.
O que é que Vítor Oliveira encontrou em Portimão que ditou este sucesso? Uma estrutura capaz e consolidada que apoiava todas as decisões e desejos de um treinador lendário, com a direcção Fernando Rocha e Rodiney Sampaio (ganhou as eleições para a SAD em 2017, substituindo Fernando Rocha nessa posição) a construir uma equipa de qualidade, sem entrar em devaneios loucos, ouvindo Vítor Oliveira no momento de ir ao mercado.
A equipa foi excelentemente bem idealizada, com todos os sectores a terem ou líderes ou jogadores de classe superior. Na baliza Ricardo Ferreira, um guardião de categoria, que demonstrou o seu melhor durante essa temporada. Na defesa Lumor (sim, o reforço do Sporting CP em 2018) ascendeu com Luís Mata a somar quase os mesmos jogos que o ganês, com Ricardo Pessoa do outro lado. No eixo Jadson, Possingolo e Nicolau a rodarem entre si no centro da defesa (comum prática pelas equipas que Vítor Oliveira passou).
Pedro Sá era o trinco da ocasião e que ainda hoje subsiste no plantel de Vítor Oliveira, assumindo um papel categórico na saída com bola e no espoliar das acções de ataque dos seus opositores, dotado uma excelente leitura de jogo algo que o treinador aprecia bastante.
No ataque o maestro Paulinho foi “roubado” ao Farense, sendo o brasileiro um dos maiores fantasistas da Liga Pro da altura, com 9 golos e 10 assistências no decurso da temporada, jogando com Tabata, Wilson Manafá ou Ewerton.
E no ataque o veterano Pires, que foi o bombardeiro de serviço da equipa com 23 golos em 43 jogos, assumindo-se como um dos principais destaques da Liga Pro na temporada passada.
Melhor que tudo eram as soluções de banco de Vítor Oliveira, com Gustavo, Zambujo, Amílton, Fabrício, Gleison ou Mata, que correspondiam às necessidades da equipa algarvia.
Outro mito que deve cair sobre os plantéis de Vítor Oliveira é de que são demasiado “velhos” e que só joga com experiência… veja-se que o plantel do Portimonense em 2016/2017 tinha uma média de idades de 23 anos, algo impressionante perante uma equipa que dominou a Liga Pro (no GD Chaves tinha um plantel com médias a rondar os 26 anos e no União com 25).
Mas terá o Portimonense mudado muito o seu plantel nesta temporada que está a decorrer?
A festa de subida do Portimonense
EM PORTIMÃO MORAM UNS BOMBARDEIROS IRASCÍVEIS
Tomemos só com base da comparação o plantel que começou em Agosto… ou seja, não vamos contar com as saídas de Lumor, Paulinho, Buba e Stanley, todos jogadores que constaram no plantel da temporada passada.
Observando bem, só de Zambujo (ficou-se pelo Algarve, ao serviço do Farense), Gustavo (o médio está emprestado ao Penafiel), Ivo Nicolau (o central veterano está no Olhanense), Edward Sarpong (emprestado também ao Farense), Brendon Estevam, e pouco mais. Não houve revolução e Vítor Oliveira só quis reforçar cirurgicamente a equipa, de forma a manter parte do equilibrio conquistado.
O onze titular tem sido muito similar ao do ano passado e vale a pena compararmos: na baliza tudo igual, com Ferreira a manter-se como máximo titular; Lumor resistiu à vinda de Inácio e susteve a sua titularidade com raça e velocidade; Ricardo Pessoa até começou bem, mas uma lesão complicada promoveu ao onze outro jogador, Hackman emprestado pelo Boavista; Possingolo ficou em Portimão (agora não como emprestado, mas como contratação) e tem feito uma boa dupla com Rúben Fernandes (proveio do Sint-Truidense); Pedro Sá é o tal trinco que está a encantar e Paulinho continuou a ser o mágico de serviço; Ewerton e Fabrício (máximo goleador) conseguiram ter a titularidade (já a perderam, mas foi por pouco tempo), com Dener a surpreender (o ano passado mal jogou com Vítor Oliveira); Tabata tem jogado a espaços e Pires já meteu 4 golos nesta temporada.
Ou seja, pelo menos 9/10 jogadores do onze titular da temporada passada têm o sido também este ano ou jogado bastante, algo que não costuma ser comum nas equipas que ascendem à Liga NOS (caso do CD Aves por exemplo). Melhor que tudo é que Vítor Oliveira adicionou alguns reforços de alta categoria que têm sido a “cara” do clube algarvio.
Falamos de Shoya Nakajima (o japonês é uma formiga “atómica” com um drible desconcertante e uma velocidade fulminante), Wellington Carvalho (reforço veio do Penafiel e tem tido notas positivas sempre que joga a titular ou entra do banco), Oriol Rosell (o espanhol estava finalmente o seu espaço na Liga NOS mas acabou transferido para o Orlando City dos EUA), Hackman, Felipe Macedo (o reforço brasileiro proveio do Goiás e é um central a seguir com muita atenção) e Ruben Fernandes.
Desta forma o plantel ganhou outra versatilidade e, surpreendentemente, não andou a viver de excessivos empréstimos das suas congéneres de divisão… até este Mercado de Inverno só constavam empréstimos três do Boavista, Sporting CP e FC Porto (um de cada).
Com Janeiro e as saídas de Paulinho (está a conquistar o seu espaço no Dragão), Lumor (foi preencher o lugar de Jonathan Silva), Rosell (vendido pela equipa da Alvalade) e Stanley (pouco jogava), houve necessidade de reforçar o plantel.
Fede Varela, Galeno, Rui Costa e Rafa Soares (a custo zero, deverá ter vindo por meio do negócio Paulinho) chegaram a Portimão e vão dar outra versatilidade a equipa, com o argentino-espanhol a ser um jogador criativo e fantasista que pode dar algo mais saído do banco (tem várias parecenças com Paulinho, não sendo tão combativo).
Galeno e Rui Costa estavam a ser até então dois dos melhores matadores da Liga Pro e podem dar outra correspondência ao ataque dos algarvios.
Observando bem, Vítor Oliveira manteve um plantel jovem (24 anos de média de idades), equilibrado e bastante ágil, evidenciando-se isso nos jogos contra o FC Porto, SL Benfica e Sporting CP. O Portimonense é uma flecha no ataque, apostando em perfurações que nascem do seu meio-campo, com a frente de ataque a desequilibrar por completo a defesa contrária, com Nakajima, Fabricio e Tabata/Pires a dar uma resposta positiva lá na frente.
A vitória por 3-0 contra o Marítimo SC, no Estádio dos Barreiros, foi uma demonstração de que a equipa começa a estar mais preparada para estes jogos da Liga NOS, sentindo-se mais segura, capaz e experiente em campo.
O meio-campo do Portimonense é um dos mais interessantes da Liga NOS, com Dener–Ewerton-Sá a serem de uma amalgama de agressividade na recuperação de bola, na gestão da mesma ao primeiro toque e lançamento de jogo em profundidade.
O cunho de Vítor Oliveira neste Portimonense está a fazer-se sentir e as duas últimas vitórias ante dois candidatos à Liga Europa (Rio Ave e Marítimo por 4-1 e 3-0 respectivamente), são um aperitivo para o que ainda falta jogar desta temporada.
Com 13 jogos ainda pela frente (três dos quais em casa frente aos Três Grandes), o Portimonense conta com 24 pontos e, tomando a época passada como elemento comparativo, faltam 11 pontos para garantir a manutenção.
Neste momento estão bem acima da linha de água, na véspera de receber os tetra campeões portugueses… será possível a manutenção? E Vítor Oliveira conseguirá ultrapassar o seu melhor registo na sua primeira passagem por Portimão, na época de 1985-1986, com um excelente 7º lugar conquistado?
Para já fica o tal 10º lugar e o 5º melhor ataque do campeonato, só atrás do SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e SC Braga, com 31 golos somados.