O Rayo Vallecano, um clube feito para todos os gostos pt.1
A cidade de Madrid tem em Real Madrid e Atlético de Madrid os seus principais protagonistas, estando presentes constantemente na luta pela LaLiga e até mesmo pela Champions League (o Real Madrid é o grande tubarão desta competição, com o maior número de troféus, além de ser o atual detentor). Porém, um quinto das equipas que marcam presença na edição de 2022/23 da LaLiga são da cidade de Madrid. A juntar-se aos citados anteriormente, temos o Getafe e o Rayo Vallecano, equipas que se situam em bairros não tão centrais da capital espanhola, mas que ainda pertencem à mesma (o estádio do Atlético de Madrid não se situa no centro de Madrid, porém é um clube totalmente central, nunca mencionado como dos arredores).
O Rayo Vallecano está situado em Vallecas, um bairro tradicionalmente de classe baixa de Madrid, no sudeste da cidade, onde a esquerda política domina o espectro político e social (ao contrário da Comunidad de Madrid, historicamente ligada ao Partido Popular). O bairro ainda hoje em dia é recordado como o principal foco contra o Franquismo, durante a existência do mesmo e até antes, na Guerra Civil Espanhola. Ao ser um lugar tão perto do centro do Franquismo, transformou-se no bastião antifascista de toda a zona (e até mesmo do país) e naturalmente que os valores do clube acabam por se confundir com os da região e elementos que a compõem.
Podemos ver a clara afiliação do Rayo Vallecano à esquerda, através da sua principal claque, os Bukaneros, fundados em 1992. No próprio site da associação, os Bukaneros defendem que são contra o racismo, fascismo, repressão e transformação do futebol em negócio. Não é um ato isolado verificarmos que o Estádio de Vallecas é usado como grande megafone para causas sociais, existindo muitas bandeiras e tarjas a favor de certos movimentos originários de ideias de esquerda, que são apoiados pelos adeptos do Rayo. Mesmo nas camisolas de jogo o Rayo, embora mantenha o seu padrão, com uma lista na diagonal a dividir a camisola em dois, a mesma já assumiu diversas cores (inclusivamente o arco-íris), de modo a defender diversas causas. Existe uma união plena entre clube, pessoas e bairro naquilo que se defende, além de uma grande ideia de solidariedade entre todos.
Otra jornada más en la que seguimos creyendo y animando sin cesar.
El pasado jueves contra el Valladolid jugamos con valentía, cantamos con coraje y vencimos con nobleza. pic.twitter.com/3D44hC7vlb
— Bukaneros (@bukaneros92) May 11, 2023
O Rayo Vallecano é uma equipa que regressou à LaLiga na temporada de 2021/22, após conseguir a vitória no play-off de promoção na época anterior, ficando na sexta posição na fase regular. Ainda assim, é um clube que até tem algumas presenças no escalão máximo do futebol. São vinte participações até ao momento, o que faz deles uma personagem recorrente, embora longe dos protagonistas, não sendo um desconhecido. Ainda assim, o projeto que o Rayo Vallecano apresenta na atualidade, demonstra que é um dos clubes mais estáveis em Espanha no momento atual, conseguindo manter os ideais do clube.
O Rayo passou somente duas temporadas na LaLiga Smartbank antes de subir de novo, o que nos ilude a criar uma imagem de clube montanha russa, ou seja que está sempre a descer e subir de divisão no entanto, a partir de 2020/21 mostrou outra face, com um planeamento bem acima da média e que tem passado “entre os pingos da chuva” ao nível internacional, mais concentrado nas grandes equipas do nosso país vizinho.
Da equipa que subiu, onze jogadores mantêm-se no clube atualmente, sendo alguns deles protagonistas absolutos da equipa. Tal como vemos em Portugal, é difícil o clube sobreviver a manter tantos atletas na equipa, porém os jogadores cresceram de mão dada com o projeto, chegando a patamares aos quais não eram indicados. O maior exemplo deste fenómeno? Isi Palazón, extremo que aparentava ser mediano e que com o tempo (chegou a meio de 2019/20, oriundo do Ponferradina) se transformou no grande protagonista. Em 2022/23 soma oito golos e cinco assistências em trinta e cinco partidas realizadas, mas grande parte do jogo ofensivo do clube de Vallecas passa pelos pés do número sete.
Victoria que nos acerca al objetivo.
¡¡SEGUIMOS RAYO!! ⚡️
Que bonito es ganar… ???@RayoVallecano pic.twitter.com/VSGQJSWngH— ISI PALAZÓN CAMACHO. (@Isinhho) April 22, 2022
Ao analisarmos a avaliação que o Tranfermarkt faz ao plantel do Rayo Vallecano, esta situa-se próxima dos 95 milhões de euros, sendo o décimo quarto da tabela da La Liga neste aspeto, com números semelhantes ao Almería e Mallorca, clubes que o perseguem. Podemos considerar que o Rayo é o líder do conjunto de equipas com menos valor, já que existe uma diferença de 20 milhões de euros para o Espanyol, emblema que se situa em décimo terceiro lugar na avaliação do plantel, mas que na classificação que verdadeiramente importa está abaixo da linha de água.
Há três jogadores que valem dez milhões de euros (valor máximo) no plantel do Rayo Vallecano: Isi, Fran García e Camello (há um texto qualquer no site sobre ele, se quiseres ligar). Nota que Sergio Camello não pertence ao Rayo, está emprestado pelo Atlético de Madrid. O que vale claramente no emblema dos arredores de Madrid é o seu coletivo, pois não existem jogadores que sejam grandes estrelas ou que se tenham destacado em fortes emblemas (excetuando Falcao ou Diego López, que já estão em final de carreira).
Existe sim uma enorme progressão de atletas que eram considerados de Segunda Divisão/luta pela manutenção, que conseguiram dar o salto e estão a ser apontados a novos voos pelo trabalho realizado ao longo das épocas.
Santi Comesaña deverá ser jogador do Villarreal na próxima temporada, terminando contrato com o Rayo, porém está na equipa A desde 2016/17 e é um elemento fundamental para Andoni Iraola, assim como para os seus antecessores. Alejandro Catena, que termina contrato igualmente no final da época, transformou-se no patrão da defesa do Rayo com o passar dos anos, podendo até ser uma alternativa de qualidade para os Grandes portugueses, em caso de necessidade. Catena tem 28 anos e um valor de mercado de oito milhões de euros, mas antes de ingressar no clube de Madrid, em 2018/19, passou por equipas menos conhecidas, como o Reus, o Marbella ou o Navalcarnero. Fran García chegou desacreditado do Real Madrid em 2021/22, por uma módica quantia de dois milhões de euros.
O seu crescimento foi tão brutal que regressará aos merengues por 10 milhões de euros no final da temporada e está a ser associado à Seleção Espanhola, onde existem jogadores como Alba, Balde ou Grimaldo para essa posição. O próprio guarda-redes, Stole Dimitrievski, jogador oriundo da Macedónia do Norte, passou grande parte da sua carreira na equipa B do Granada, porém nas cinco temporadas em Vallecas, demonstrou que é um guarda-redes totalmente seguro para um emblema da La Liga. Aos 28 anos, ainda poderá dar mais um salto, contando com um valor de mercado de quatro milhões de euros.
Esta é a postura do Rayo no mercado: contratar elementos menos conhecidos ou que não passem por uma grande fase e transformá-los em bons jogadores. Longe de serem especialistas na formação (Miguel Morro pode ser o próximo grande nome a afirmar-se, estando emprestado ao Fuenlabrada), são dos melhores clubes que trabalham no rácio preço/qualidade.