O destino complicado do Sevilla

Ricardo João LopesAbril 30, 20256min0

O destino complicado do Sevilla

Ricardo João LopesAbril 30, 20256min0
Problemas desportivos, financeiros e humanos assolam o Sevilla FC e Ricardo João Lopes olha para o futuro do histórico emblema espanhol

O Sevilla está novamente a desiludir nesta temporada, encontrando-se atualmente na décima quinta posição da La Liga, numa fase em que ainda corre o risco de ser despromovido, com o Las Palmas (primeira equipa abaixo da linha de água) a apenas cinco pontos. O cenário não é positivo, já que o conjunto andaluz vive uma série negativa de uma vitória nos últimos nove encontros.

De resto, 2025 tem sido um ano terrível para o conjunto do Ramón Sánchez Pizjuán, que se mostra totalmente à deriva, no que ao termo projeto diz respeito. Víctor Orta, atual diretor desportivo, era visto como o sucessor ideal de Monchi, já que trabalhou com o dirigente do Aston Villa por várias temporadas, mas não está a cumprir com as expectativas, longe disso. Para a época 2024/25, a estrutura escolheu o nome de Javier García Pimienta para a posição de treinador principal. Embora lhe tenha dado um contrato de curta duração, rapidamente foi oferecida uma renovação do mesmo, mais precisamente em setembro de 2024, sem que o técnico tivesse demonstrado resultados para merecer tal oferta.

A chegada de Javier García Pimienta ao Sevilla já trazia consigo algumas dúvidas. O técnico tinha provas dadas na formação do Barcelona e no Las Palmas, mas o seu estilo de jogo (baseado no tiki taka) era uma antítese em relação ao que se tem praticado pelo Nervión nos últimos anos e o plantel não estava montado para o futebol de Javier García Pimienta. Conclusão: uma das partes teria que ceder, ou então seria obrigatório uma aproximação e adaptação das ideias, algo que demora tempo, certamente mais do que meia temporada.

Os resultados, como se esperava, ficaram abaixo do esperado, com Javier García Pimienta a acabar por ser despedido em abril de 2025. Se o Sevilla FC estivesse a lutar por algo, esta decisão teria feito todo o sentido. Assim sendo, não seria mais lógico esperar pelo final da temporada para se tomar tal decisão? O treinador era o mesmo com quem renovaram contrato em setembro e já sabiam que a sua acomodação à equipa não seria feita de um dia para o outro.

Joaquín Caparrós foi o eleito para o cargo, na esperança de que a sua experiência no clube conseguisse animar os jogadores para conseguirem melhores resultados nestas últimas jornadas da La Liga. Para já, o efeito tem sido contrário, com um empate e uma derrota, na sua quarta passagem pelo Ramón Sánchez Pizjuán. Contudo, o histórico espanhol é o menos culpado de toda a situação. Estava fora dos bancos de suplentes desde 2022, quando orientou a Arménia e já a sua passagem em 2018/19 tinha ficado a desejar. É cada vez mais complicado que os ‘medalhões’ consigam obter resultados positivos hoje em dia, porque o futebol não se trata apenas de saber cativar um balneário, tem muito mais alíneas e condicionantes.

Certo é que Joaquín Caparrós tem os seus dias contados no banco de suplentes, com a estrutura a procurar um novo treinador para a próxima temporada. Víctor Orta poderá ter no próximo mercado de transferências de verão o seu momento decisivo, com a sua continuidade em risco. Financeiramente o Sevilla FC vive um momento algo dramático e terá que vender algumas das suas melhores peças e obrigatoriamente apostar em elementos da formação, além de realizar contratações cirúrgicas, a preços adequados.

O diretor desportivo terá que escolher um novo técnico e ter em conta o seu estilo, de maneira a montar (novamente) um projeto realista para os andaluzes. Para já, dois nomes estão a ser falados para o cargo: José Bordalás e Míchel.

O primeiro orienta atualmente o Getafe e encaixar-se-ia muito mais no estilo dos últimos anos do Sevilla, com um futebol direto, sem grandes floreados, focado na arte de defender. O treinador está igualmente habituado a poucos recursos e a adaptar peças a várias posições, além das contantes promoções que realiza da equipa B.

Já Míchel segue muito mais o estilo de Javier García Pimienta, mas 2024/25 fez com que perdesse algum do crédito que tinha. Depois de ter levado o Girona à Champions League, está a realizar uma época muito abaixo das expetativas. No entanto, tal como José Bordalás, já provou que consegue alcançar vários objetivos com um orçamento curto e a olhar por vezes para a formação.

Víctor Orta terá que ser sincero com os adeptos e confessar que o Sevilla já não está no patamar de antes, quando conseguia conquistar a Europa League sem grandes problemas e marcar presença na Champions League. Hoje em dia, está inclusivamente alguns passos atrás do grande rival da cidade, o Real Bétis. Não deixando de ser um histórico, os andaluzes estão num terceiro degrau do futebol espanhol, onde a luta pela entrada na primeira metade da tabela é um cenário mais realista e que uma presença em uma competição europeia é uma façanha.

Obviamente que o Sevilha é um clube recheado de potencial e que tem uma margem de crescimento brutal, à semelhança do que acontece com o Valência, por exemplo. Contudo, a crise diretiva, os maus mercados e as escolhas de treinadores têm levado a um dos piores momentos do clube na sua história, sendo que está a ser complicado encontrar a resolução para tantos problemas.

A época 2024/25 era a indicada para o Sevilha não perder o comboio dos rivais, mas falhou novamente. A próxima temporada vai ser decisiva para os próximos anos da instituição, que terá que perceber que resultados imediatos serão impossíveis de se obter (pensar num top 7, por exemplo, é impossível), pelo menos sem consequências financeiras.

Existem seguramente várias equipas que vão apresentar quebras em 2025/26, tal como o Girona apresentou nesta época, por exemplo. Porém, para o Sevilha poder escalar alguns lugares na classificação, terá que fazer melhor do que aquilo que tem feito. Se noutros tempos os adeptos estavam habituados a passear pelos bairros de Sevilha a celebrar conquistas, é tempo de marcar presença nas bancadas para apoiar a equipa (embora sejam constantes as manifestações contra a atual direção) e perceber que vai ser impossível ganhar sempre. Resta saber é se Víctor Orta e companhia vão conseguir colocar a instituição no caminho correto.


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