O centenário do Celta de Vigo: em risco de terminar em desastre?

Ricardo LopesOutubro 16, 20238min0

O centenário do Celta de Vigo: em risco de terminar em desastre?

Ricardo LopesOutubro 16, 20238min0
O centenário do Celta de Vigo parece vir a ser marcado com uma marca negativa e com o perigo da descida a pairar sobre a equipa galega

O RC Celta tem em 2023/24 uma temporada muito especial. O emblema galego está a completar o seu primeiro centenário, o que deveria tornar esta época, em algo sensacional. Na teoria, o Celta prometia apresentar-se mais forte, já que era difícil fazer pior do que o ano passado. Carlos Carvalhal acabou por sair em 2023/24, após um trabalho não tão competente como o que se esperava, salvando a equipa da despromoção no último suspiro, algo que não estaria seguramente nos planos da direção e do conselheiro Luís Campos.

Com a saída do português, apostou-se forte para trazer um nome potente para o banco, de modo a que 100º aniversário fosse ainda mais assinalado. Rafa Benítez foi o técnico escolhido. Apesar de já não estar no auge da sua carreira, é um treinador com histórico, com passagens por gigantes europeus e com uma Champions no seu bolso (além de uma Taça UEFA). O seu último projeto fora o Everton FC, em 2021/22, que não correu de feição, mas foi recebido com alegria e que deixou os adeptos com confiança para o mercado de transferências.

Ainda encantados com o hino do centenário, produzido pelo famoso cantor C. Tangana (e que é um dos melhores hinos de um clube de futebol), os aficionados do Celta assistiam às semanas a passar e a poucos reforços a chegarem, quando era necessária uma remodelação parcial do plantel. Num total, assinaram oito jogadores aos Balaídos: Douvikas (por 12 milhões de euros, sendo a grande contratação do mercado), Carles Pérez, Carl Starfelt, Carlos Dotor, Mihailo Ristic, Jonathan Bamba (o melhor de todo o lote), Manu Sánchez e Vicente Guaita. Na teoria, praticamente nenhum destes elementos teria capacidade de ser titular num clube com aspirações para lutar por um lugar na Europa, o que revela que o plantel não subiu o nível.

Em certos pontos, a qualidade desceu, já que o Celta perdeu dois dos seus nomes mais importantes: Gabri Veiga e Javi Galán. Se o defesa esquerdo foi substituído por Manu Sánchez e Ristic, o médio, que foi em parte da época o grande protagonista do futebol do Celta, não viu chegar ninguém para o seu lugar, mesmo tendo rendido 40 milhões de euros, algo que iremos analisar em seguida. Ao nível financeiro, foi um verão muito positivo, com muito mais rendimentos (56,2 milhões de euros), do que gastos (26,7 milhões de euros), o que mostra que existe uma certa saúde pelas contas do clube. Em que lugar é que o leitor coloca o plantel do Celta de Vigo nesta edição de La Liga? É complicado dizer seis/sete equipas com menor qualidade, mesmo a equipa não jogando um mau futebol.

A crise do Celta de Vigo tem três pontos que se destacam e justificam o fenómeno, apesar de que somente dois dependem da direção desportiva.

O primeiro, é uma problemática que assombra Celta de Vigo nos últimos anos e que pode atingir o seu ápice em 2023/24. A dependência em Iago Aspas é por demais evidente. O ano passado, a mesma foi maquilhada por Gabri Veiga, que acabou por ir desaparecendo no final da temporada, o que fez com que o Celta andasse pela zona baixa da tabela, sem condições de poder afirmar que se iria salvar.

O avançado não fez uma má temporada de 2022/23, com 12 golos em 39 jogos. Porém, planear uma época centrada num jogador de 36 anos não parece correto. Com isto, não se quer dizer que Iago Aspas não possui qualidade, mas sim que os índices físicos do mesmo não permitem que continue a carregar a equipa sozinho, sem mais estrelas a seu lado. Os números refletem este fenómeno. São 0 golos em 9 partidas, embora tenha feito duas assistências.

Ao analisarmos os valores, o seu xG esperado é de 3,5, golos que poderiam ter dado muitos pontos ao Celta de Vigo. O melhor marcador é Jorgen Strand Larsen, com três golos, que se está a assumir a pouco e pouco como o verdadeiro avançado titular desta equipa, quando existe um elemento que custou 12 milhões de euros e deveria ser indiscutível, mas que ainda se está a integrar.

Há que respeitar o amor que Iago Aspas tem pelo clube, trata-se de um histórico que poderia ter estado mais anos em clubes de maior renome durante a sua carreira, mas optou por regressar cedo a casa. Os adeptos do Celta de Vigo aparentam ter algum receio de que o clube fique órfão de um líder, quando o avançado se retirar.

O desenvolvimento e crescimento de Gabri Veiga alimentou a esperança que estivesse ali o sucessor de Aspas, em termos de balneário, mas a sua saída provocou um certo abalo nos aficionados, que vêm um plantel incompleto e com poucos ídolos (Hugo Mallo também saiu, o que piorou a situação).

Um outro ponto que explica o insucesso da temporada do Celta de Vigo é a falta de sorte, que também conta para o jogo. Neste momento, o clube conta com uma vitória, três empates e cinco derrotas. Dos jogos que perdeu, apenas um não foi pela margem mínima. Contra o FC Barcelona e o UD Las Palmas, as derrotas foram vendidas somente nos minutos finais, sendo que no duelo contra os culés (e contra o Real Madrid CF), a turma de Rafa Benítez merecia um pouco mais. Os tais golos de Iago Aspas que as estatísticas esperavam, poderiam ter feito a diferença em certas partidas, dando três ou um ponto em vez de zero.

Por fim, o último tópico a analisar, e que eleva a falta de planeamento que existiu ao seu exponencial, foi a falta de um substituto para Gabri Veiga. Era fácil de adivinhar que a jovem promessa seria vendida ao longo do verão. O SSC Napoli apresentou uma proposta de 35 milhões de euros por ele, o Manchester City FC e o Real Madrid estiveram interessados, mas o Al Ahli acabou mesmo por bater a sua cláusula de rescisão, 40 milhões de euros. Sendo uma transferência tão fácil de adivinhar, como é que não se contratou um atleta com capacidade de suprimir a ausência de Gabri Veiga? Olhando aos nomes que chegaram, nenhum tem as suas caraterísticas. O único médio é Carlos Dotor, que estava na equipa B do Real Madrid e que ainda está muito “fresco” para ser titular num emblema da La Liga, mesmo que tenha tido um 2022/23 de elevado quilate, num terceiro escalão do futebol espanhol. Neste caso, a direção do Celta de Vigo não deveria ter tido medo de investir forte num nome para o miolo do seu terreno de jogo, tal como fez com Douvikas.

Como já foi dito, são 100 anos de história, daquele que é o clube mais importante da Galiza neste momento, o único na La Liga, numa região que é recheada de equipas com margem de crescimento e potencial. Porém, em termos territoriais, o Celta de Vigo não pode ignorar o “elefante na sala”, que é o RC Deportivo de La Coruña, seu eterno rival. Deverá mesmo evitar seguir os seus passos, de modo a não cair no abismo. 2023/24 deveria ser uma temporada de felicidade e festa, mas pode ser de lágrimas e tristeza, caso algo não mude. De quem é a culpa de tudo isto? Da direção desportiva. Rafa Benítez não pode fazer omeletes sem ovos (mesmo tentando alguns sistemas táticos) e o plantel não se completa por si mesmo.


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