O caso Valencia CF: um clube sem rumo pt.1
A Comunitat Valenciana é uma das regiões mais importantes de Espanha. Sendo uma das maiores em termos territoriais e populacionais, a existência de bons clubes de futebol não se vê com estranheza (embora exista a ausência de projetos de qualidade em outras Comunidades Autónomas com vários quilómetros quadrados, algo que pode ser matéria para um outro artigo). A sua capital é Valência, uma cidade moderna e cada vez mais importante para o país, estando na costa do Mediterrâneo. É precisamente na capital que joga o maior clube da região, o Valencia CF. Para quem cresceu no final dos anos 90 e início dos anos 2000, era uma constante ver este clube a ganhar títulos.
Apesar de ser um histórico e ter vencido troféus no passado, a grande época do Valencia coincide com as presenças de Héctor Cúper e Rafael Benítez ao comando do emblema “ché”. Durante este período a equipa conseguiu chegar a duas finais de Champions League, caindo em ambas: 1999/00 contra o Real Madrid, perdendo por 3-0, e 2000/01 contra o FC Bayern, nas grandes penalidades, após um 1-1. Após estas duas derrotas, ainda com Cúper ao leme, o Valencia partiu para uma nova fase com Rafa Benítez, que obtivera grande sucesso em Tenerife. Venceu duas LaLigas em três possíveis, acabando com uma seca que durava desde 1970/71. Pars completar, somou na época 2003/04 uma Taça UEFA, juntando-se a Supertaça Europeia em 2004. Este foi o período mais vencedor da equipa do Valencia que no seu total tem 25 troféus, 18 nacionais e 7 continentais.
? Hoy es el cumpleaños de Héctor Cúper
? Campeón de la Supercopa de España y dos veces subcampeón de la @ChampionsLeague con el @valenciacf
¡???????????❗ ?#ADNVCF ? pic.twitter.com/hq6N88aJ6U
— Valencia CF (@valenciacf) November 16, 2022
Durante este percurso, vários jogadores representaram o clube, ficando na história e na memória do adepto futebolístico como David Albelda, David Villa, Cañizares, Mendieta, Vicente, Baraja, Aimar entre muitos outros. O Valencia estava entre as equipas importantes de Espanha e da Europa. Com a exceção de 2004/05 e 2007/08, as classificações da equipa até à sua aquisição foram satisfatórias, num campeonato onde participam gigantes como Real Madrid e FC Barcelona.
Peter Lim, empresário originário de Singapura e dono da Meriton, adquiriu o clube em 2014, com a promessa de realizar investimentos fortes no mesmo, além de saldar a dívida do clube. A sua relação com o empresário Jorge Mendes, levou a que uma série de jogadores portugueses e/ou do campeonato português fossem apontados e comprados pelo emblema “ché”. Analisemos a lista, somente de jogadores oriundos da Liga Portugal:
Verificamos que houve um investimento brutal de Peter Lim em Portugal, principalmente nos primeiros anos, especialmente em jogadores que na altura eram bastante jovens. Se analisarmos a listagem completa de jogadores a chegarem a Valência, há mais nomes que estão ligados a Portugal e a Jorge Mendes, como Gonçalo Guedes ou Mangala, por exemplo.
Na maioria dos anos apuramos que existe um prejuízo na balança de transferência, além de constantes mudanças no plantel. Peter Lim pagava demasiado caro pelos atletas, especialmente pelos que eram representados por Jorge Mendes. Um dos casos é Aymen Abdennour, que atuava pelo AS Mónaco, com um valor de mercado de dez milhões, mas foi transferido por 22. Era um bom jogador, mas não valia o investimento. Mas existem muito mais exemplos que o leitor poderá investigar.
Nos anos mais recentes assistimos a um desinvestimento gigante. Nas últimas duas épocas, nem trinta milhões de euros foram gastos, mesmo com boas vendas como a de Ferrán Torres e a de Carlos Soler. Isto podia ser encarado como um sinal de estabilidade, porque o plantel teria qualidade. Porém o que acontece na realidade é uma grave crise. O plantel é fraco e no “reinado” de Lim somente venceu um Copa del Rey e por apenas três vezes ficou nos quatro primeiros classificados. Com o investimento realizado, esperava-se muito mais.
Fabián e provavelmente Carlos Soler a preços bem acessíveis por estarem em fim de contrato em seus clubes. PSG finalmente começou a usar critérios mais técnicos e inteligentes no mercado.
— Leonardo Bertozzi (@lbertozzi) August 30, 2022
O magnata soma polémicas atrás de polémicas, comprando jogadores por valores absurdos para o rendimento que dão e deixando sair elementos importantes como Dani Parejo, um histórico do clube, que foi brilhar para o rival Villarreal CF.
Peter Lim contratou muitos “flops” para dentro de campo, mas na situação dos treinadores a atitude não muda. Nuno Espirito Santo e Marcelino Toral conseguiram produzir resultados, no entanto houve vários técnicos que fracassaram como Prandelli, Celades, Gary Neville e mais recentemente Gattuso. Não existe nenhuma estabilidade que permita ao clube poder crescer, muito menos qualidade no banco para tirar proveito do que existe.
Nas últimas três temporadas, a equipa alcançou dois nonos lugares e um décimo terceiro, estabelecendo-se como uma equipa de meio de tabela. Mais polémicas com Peter Lim e seus familiares adensaram a má situação. A filha do dono do clube referir que o “clube é deles e eles farão o que quiserem” não foi de bom tom. Os adeptos detestam Peter Lim e sentem que o mesmo só o prejudica, havendo cada vez mais manifestações.
Em Maio de 2022 destituiu o presidente Anil Murthy, depois de áudios polémicos que envolviam o magnata, que abordava jogadores, futuro de treinador, estádio, etc. Francisco Roig, antigo presidente do Valencia, criticou duramente Lim em 2019, dizendo que as comissões dos negócios deveriam ser reveladas e que o natural de Singapura ficou com o clube de borla.
Despedir Marcelino foi mais uma das decisões ridículas, já que apresentou um bom trabalho, colocou a equipa em quarto lugar e retirou dos jogadores o melhor que tinham. Os adeptos ficaram do lado do técnico espanhol, porque Lim voltou a falhar de novo, não pensando no que era melhor para a equipa. Correu inclusivamente a informação de que o magnata pediu a Marcelino para não vencer a Copa del Rey e que o grande motivo para o seu despedimento foi esse. O treinador refere que foi felicitado pela qualificação para a Champions League e não pelo triunfo da competição tradicional, o que nos leva a pensar que é mais importante a entrada de capital no clube (sem explicações para onde o mesmo vai) do que vencer troféus.
A resposta da filha de Peter Lim aos torcedores do Valencia: "Eles não entendem? O clube é nosso e podemos fazer o que quisermos e ninguém pode dizer nada". https://t.co/4EBM4sWx2k
— Leonardo Bertozzi (@lbertozzi) July 2, 2020