O caso do Everton: a caminho do Championship? pt.1
O Everton Football Club é um emblema histórico do futebol inglês. Para quem começou a acompanhar o futebol no início dos anos 2000, o emblema de Liverpool era um frequente usuário do top 6/7 da Premier League. Não o considerando para os Big 4 da época, onde estavam o Manchester United, o Arsenal, o Liverpool e o Chelsea (após ter sido comprado), o clube entrava imediatamente na faixa seguinte, a da luta pela qualificação para a Taça UEFA. Se a expressão Big 6 que existe e se aplica hoje em dia, nascesse anos antes, o Everton faria parte deste exclusivo grupo, onde apenas os melhores e os mais competentes podem ousar integrar.
Everton e Liverpool representavam um dos derbies mais vistos ao nível televisivo, sendo um dos jogos de visualização obrigatória na Premier League, com um vencedor impossível de se adivinhar. O Liverpool apesar de não viver um momento mais glorioso da sua história, tinha uma equipa muito mais semelhante ao Everton (em termos de qualidade), que em comparação com hoje em dia, onde é um derby que perdeu a cor.
Nos últimos anos, nomeadamente com a chegada de Jurgen Klopp, a cidade de Liverpool tornou-se muito mais vermelha do que azul, com o clube de Anfield a conseguir voltar à senda de títulos e disputas internacionais, sendo indiscutivelmente um dos maiores emblemas do mundo do futebol e que a maioria das pessoas que segue o futebol acompanha o Liverpool. Já do lado de Goodison Park, praticamente o efeito contrário aconteceu. Se houve equipa que sofreu uma forte quebra no futebol inglês, esse clube foi o Everton (podíamos considerar o Newcastle, mas está num período de recuperação, além de um investimento criterioso por trás, até ao momento).
O Everton já não termina uma Premier League num top 10 desde 2020/21, conquistando esta posição nesta temporada muito devido ao seu treinador: Carlo Ancelotti. Desde 2013/14, que já não assegura um top 5 e o que assusta de verdade são as duas últimas temporadas. A verdade é que desde a chegada de Farhad Moshiri ao lugar de dono de clube, em 2016, o clube tem entrado numa quebra que mais tarde ou mais cedo irá terminar numa descida ao Championship, algo que muitos aficionados vêm como a grande solução para uma reconstrução do clube, que se deixou ultrapassar por emblemas historicamente menores, mas que são melhor organizados e têm um projeto com bases fortes, como no caso do Brighton e do Brentford, instituições elogiadas por todos.
Uma das causas para a quebra do Everton tem sido a falta de qualidade dos seus treinadores. Desde a saída de David Moyes, em 2013, para ser o sucessor de Alex Ferguson no Manchester United, o Everton não conseguiu ter estabilidade neste ponto. Se o escocês ficou em Goodison Park durante 11 anos, nestes últimos 10 anos, existiram 9 técnicos, descontando os interinos. O que teve mais sucesso foi curiosamente o atual Selecionador Nacional, Roberto Martínez, que se manteve no cargo por três temporadas /2013 a 2016). Ronald Koeman, Marco Silva e Carlo Ancelotti conseguiram estar mais do que uma temporada no cargo, mas o verdadeiro problema chegou quando o italiano regressou ao Real Madrid.
O escolhido para sucessor foi o espanhol Rafael Benítez, que já tinha passado por Liverpool no passado, mas pelo maior rival, onde é bastante respeitado, tendo feito em Anfield Road um dos melhores trabalhos da sua carreira. Isto faz com que seja odiado pelos adeptos do Everton, que vincaram que não queriam o castelhano no cargo, algo que a direção não fez grande caso, acabando por contratar Benítez na mesma. Aguentou 22 jogos, onde conseguiu somente 7 vitórias.
Para o seu lugar, entrou Frank Lampard, que não tinha somado uma boa passagem pelo Chelsea e que procurava um clube para poder reerguer-se. Os resultados produzidos não foram superiores aos de Benítez, com 8 vitórias em 21 partidas, alcançando um décimo sexto lugar. A pior classificação do Everton nos últimos anos havia sido a décima sétima posição de 2003/04, numa fase menos positiva do Everton, em parte comparável com a que se vive em 2023.
Apesar do fraco resultado, Lampard manteve-se para a temporada seguinte, o que se revelou um erro, já que apenas conquistou 4 vitórias em 23 jogos, deixando o clube na altura em décimo nono lugar, com uma equipa destroçada e a jogar um futebol fraco. Moshiri foi prático, contratou Sean Dyche, que ganhou relevância ao serviço do Burnley, num futebol muito pouco visto, mas com resultados na maioria dos anos (ao contrário do Burnley hoje em dia, que obtém resultados com boas exibições, embora em outro contexto). Com o objetivo a ser a manutenção, Dyche tornou-se de facto o nome ideal. A mesma fora alcançada na última jornada da Premier League, sendo que foi um dos piores jogos aos quais assisti na temporada, 1-0, frente ao Bournemouth, com os “toffees” a nunca terem o controlo do jogo a 100%, quando necessitavam dos três pontos obrigatoriamente.
Com esta vitória, o Everton conseguiu igualar a posição de 2003/04, mas a tendência é novamente a luta pela manutenção para 2023/24. Aliás, se formos a analisar as transferências do clube nas duas últimas temporadas, que colocaram a nu todas as dificuldades do Everton em montar uma equipa, verificamos que chegaram muito mais flops, do que elementos que acrescentaram uma mais valia.
Em 2021/22, chegaram Mykolenko e Nathan Ferguson que são jogadores com nível de Premier League, mas a aposta em jogadores livres foi um fiasco: Townsend, Dele Alli, Salómon Rondón ou Begovic não acrescentaram e os emprestados Donny van de Beek e El Ghazi foram um fiasco. Deixar sair Lucas Digne para um rival que deveria ser direto, não foi um bom movimento de mercado, soando a desespero para encher os cofres.
Na 2ª parte vamos olhar para o desastre de 22/23 e como 23/24 parece já se encaminhar para o mesmo fim…