Ninguém quer treinar o Bayern Munique. Porquê?

Ricardo LopesMaio 22, 20246min0

Ninguém quer treinar o Bayern Munique. Porquê?

Ricardo LopesMaio 22, 20246min0

O Bayern Munique é indiscutivelmente o melhor clube alemão, com um palmarés recheado de troféus. São seis Champions League, trinta e três Bundesligas, vinte Taças da Alemanha e dez Supertaças, só assim ao de leve, naquele que é um dos emblemas mais titulados da Europa. Contudo, os bávaros não vivem uma boa fase, longe disso. A problemática não é de hoje, nem de ontem. Podemos situar o arranque desta crise em 2022/23, época em que se demitiu Julian Nagelsmann e se contratou Thomas Tuchel, que ainda venceu o título da liga, o que maquilhou a má fase existente. Recordar que a equipa fez, na época passada, apenas 71 pontos, os mesmos do Borussia Dortmund, que teve o campeonato na sua mão, mas não foi além de um empate com o Mainz na trigésima quarta jornada.

Contudo, 2023/24 exibiu a crise do Bayern Munique no seu esplendor. Ainda que tenham chegado às meias finais da Champions League, caindo aos pés do Real Madrid (com a presença do Borussia Dortmund na final, poucos se irão recordar do que fez o gigante da Baviera), na Bundesliga fez apenas 72 pontos (mais um que em 2022/23), ficando no terceiro posto, atrás de Bayer Leverkusen e Estugarda. Na Taça da Alemanha foi eliminado frente ao modesto Saarbrucken, na segunda eliminatória. Até a Supertaça perderam, goleados por três bolas a zero pelo RB Leipzig.

Neste artigo, não queremos discutir as razões para o fracasso do projeto (ou se Harry Kane tem mesmo muito azar), mas sim fazer uma reflexão. O Bayern Munique não tem treinador, à data que se escreve este artigo e já levou várias negas ao longo dos últimos meses, quando aparentemente é um cargo bastante apetecível. Trata-se de um histórico, que já foi considerado um modelo de gestão de excelência e que não parece ser tão difícil de fazer regressar aos tempos áureos. Afinal, tem uma grande equipa, contratou um novo diretor desportivo, Max Eberl, habituado à modernidade e inovação do grupo Red Bull.

Podemos dividir as razões pelos vários candidatos, mas há uma que pode ser transversal: o amor de certas personagens por Thomas Tuchel. O balneário do Bayern Munique conta com várias peças fortes como Manuel Neuer, Thomas Muller ou Leon Goretzka, que têm poder no plantel. Alguns destes nomes não gostavam de Julian Nagelsmann por exemplo. Thomas Tuchel é um nome muito apreciado pelos mesmos, tal como por Harry Kane ou Jamal Musiala, que tentaram convencer o ex-Chelsea a ficar na Allianz Arena, sem qualquer sucesso. O seu sucessor, sabe que não terá tarefa fácil em lidar com todos os egos existentes, além de que terá que ter em consideração que o seu antecessor era adorado pelos notáveis, pese o fracasso ao nível dos resultados. Há vários técnicos que não têm o talento da gestão pessoal, de saber lidar com um grupo de seres humanos, que são diferentes entre si e têm personalidades totalmente distintas. Acredito que esta foi uma razão óbvia para certos treinadores terem rejeitado o convite.

O segundo motivo é o timing. O Bayern Munique tentou contratar treinadores com contrato com outras instituições e que vivem um bom momento nas mesmas. Xabi Alonso foi campeão no Bayer Leverkusen e tem a Europa do futebol completamente aos seus pés, com cada vez mais fanáticos pelo antigo médio, que também teve o Liverpool interessado nos seus serviços. Julian Nagelsmann, pese a boa relação com Max Eberl, podendo mesmo ser o candidato ideal, está na seleção da Alemanha, com quem vai disputar o Euro 2024 e tem um projeto em vigor até ao Mundial 2026, onde os germânicos poderão ter algumas chances. Oliver Glasner chegou recentemente ao Crystal Palace e mostrou capacidade de poder colocar os eagles num caminho positivo em 2024/25 (sair da zona Crystal Palace, ou seja, do décimo ao décimo quinto lugar da Premier League). Estes três nomes estão em lugares seguros, em equipas/seleções que lutam por objetivos positivos. O Bayern Munique está no começo deste processo.

A paixão do Bayern Munique por Xabi Alonso justifica mais algumas negas. É nítido que, caso o espanhol aceite rumar à instituição no verão de 2025, o clube está disposto a esperar e para isso contratar um treinador menos renomado para aguentar uma temporada. Porém, quem quer estar a prazo? Ralf Rangnick saberia perfeitamente que se deixasse a Áustria para assumir os bávaros, estaria somente um ano no banco e depois seria possivelmente “despachado” ou enviado para a direção de algum setor. Daí ter preferido ficar onde está. Nomes como Ole Gunnar Solskjaer e (mais recentemente, ainda sem ter rejeitado) Vincent Kompany situam-se neste setor. São treinadores medianos, que nunca fizeram trabalhos excecionais, ainda que o central belga tenha feito um grande Championship 2022/23. O antigo atleta do Manchester City levou inclusivamente o Burnley ao segundo escalão do futebol inglês novamente, mesmo que tenha sido algo expectável, dada a fraca qualidade do plantel e a teimosia de Kompany em não mudar o seu estilo de jogo. Até pode ser “promovido”, mas sabe que, se não fizer em 2024/25 absolutamente perfeito, num projeto ainda com pontas soltas, estará fora do Bayern Munique em maio, para que a instituição volte a insistir no seu velho amado.

Por fim, o desconforto de não ser a primeira opção. Neste caso, quem chegar não é a primeira escolha, nem a segunda, terceira quarta, quinta, sexta… O técnico que assuma o Bayern Munique no imediato, saberá que esteve longe de ser o primeiro nome a ser pensado pela direção do clube. Na teoria, não era o nome desejado, portanto ele jamais estará no centro do projeto, tendo que se adaptar ao mesmo. A ideia de Max Eberl era contar com um nome jovem, como Xabi Alonso ou Julian Nagelsmann e falhou rotundamente, não estando à espera disso. Possivelmente terá tentado outros nomes, que não foram a público, como Sebastian Hoeness ou Matthias Jaissle, mas rapidamente as primeiras alternativas se esfumaram. Nem Roger Schmidt, nem Hansi Flick, por exemplo, estão habituados a ser o substituto do substituto. E isto está relacionado com o primeiro ponto que foi falado. O balneário vai aceitar da mesma maneira um técnico que chega nestas condições?

O Bayern Munique tem tudo para ser apetecível, mas por culpa própria acabou por se meter neste “nó”. Sabe que não terá nenhum dos seus desejos, mas um timoneiro tem que se sentir desejado. Esta novela terminará em breve, mas será interessante verificar o trajeto do sucessor de Thomas Tuchel, que nem o mesmo quis ficar no clube.


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