Mundial da Rússia 2018: Trio de seleccionadores sem mistérios
Dá-se início com este artigo, os contributos deste autor com a cobertura do Mundial de futebol. Vos escrevo do outro lado do Atlântico, especificamente o lado sul do oceano que Portugal e Brasil compartilham, não tão longe do estuário do Prata. A Copa do Mundo por cá é o evento desportivo mais aguardado por todos e faz muita parte da identidade nacional.
Em se tratando de seleccionadores que estarão na Rússia, esta introdução sugere um pelo qual quero começar: o oriental Oscar Tabárez. O seleccionador uruguaio é o que está há mais tempo na função, desde 2006. Desde quando assumiu, o Uruguai não esteve ausente dos grandes torneios e conquistou a Copa América pela décima quinta vez (maior vencedor de sempre) em 2011. Reinventou e redescobriu o futebol deste pequenino país de pouco mais de 3 milhões de habitantes. “El Maestro” esteve à frente no processo de renovação do futebol de rendimento no Uruguai e devolveu a identidade da “Garra Charrua” (de muita força, toques e carácter ofensivo) tão característica dos uruguaios bicampeões em 1930 e 1950.
Tudo bem, a geração de bons futebolistas uruguaios permitiu grandes equipas nacionais, mas sem um comandante capaz de fazê-los render, seria desperdício. Seu desempenho o faz ser o décimo treinador mais bem pago dentre todos que irão à Rússia. Portador da síndrome de Guillain-Barré (que afecta o sistema nervoso ao provocar fraqueza muscular e paralisia), muito provável que seja o último trabalho de Tabárez, sempre lembrado pela sua tranquilidade e eficiência.
Por falar em geração de grandes atletas, é preciso mencionar a Bélgica e seu treinador, o espanhol Roberto Martínez. Depois do fracasso no Euro de 2016, a federação belga contratou o mister que conduziu o Wigan para o título da Copa da Inglaterra (“FA Cup”) em 2013. Ao trabalhar em equipas pequenas, conseguiu passar para elas uma identidade vencedora e é isso que tem transmitido aos diabos vermelhos: “é preciso ser uma equipa muito forte mentalmente, para justamente adaptar-se a qualquer tipo de jogo”, é o que diz Martínez.
Um cenário de uma Copa do Mundo muda rapidamente e, de azarões, uma selecção pode ser considerada a favorita. Para isso é preciso ter controlo da situação e adaptar-se ao momento. Ter uma identidade de jogo conduz a isto e é o que Roberto Martínez tem feito. Como curiosidade, Martínez ganha 918 mil euros/ano no comando dos belgas. De desacreditada no início, para uma campanha invicta no apuramento ao Mundial: a Bélgica pode fazer muito bonito.
Por fim, seleccionador de grande destaque é Gareth Southgate. O inglês assumiu o posto em lugar de Sam Allardyce e conseguiu algo bem raro com o “English Team”: estabilidade. Não apenas no cargo, mas da equipa, que fez uma grande campanha no apuramento. Em semelhança a Roberto Martínez, trabalha bastante com a parte mental da equipa, a destacar valores como o espírito de entrega e lealdade. Algo bastante levado em consideração é o facto de há não muito tempo ele haver disputado Mundiais, nomeadamente os de 1998 e o de 2002, além de estar nas comissões técnicas das categorias de base da selecção da Inglaterra desde 2013.
Com as pérolas que possui em mãos, da liga mais competitiva do planeta, o palmarés que possui é importante para obter o necessário respeito e o controlo do grupo. Conhecer os futebolistas desde a base é certeza de trabalho contínuo, cuja chance de sucesso aumenta muito.
Tabárez, Martínez e Southgate. Três misters de destaque, que fazem um trabalho sem tanto barulho e têm sido bastante eficientes. De três selecções que não são amplas favoritas, mas que podem surpreender na Rússia!