João Félix no Al Nassr- um passo que já se adivinhava

Ricardo João LopesAgosto 3, 20256min0

João Félix no Al Nassr- um passo que já se adivinhava

Ricardo João LopesAgosto 3, 20256min0
Al-Nassr é o destino de João Félix, uma mexida que não surpreende Ricardo João Lopes como explica o nosso cronista neste artigo

João Félix foi um dos nomes mais badalados deste mercado de transferências. Em Portugal falou-se de um namoro com o Benfica, que poderia culminar com um regresso a casa por parte do internacional português. Na teoria, seria uma movimentação com algum sentido para o lado do atleta. Seria bem recebido numa instituição que bem conhece, com o treinador que melhor retirou rendimento do próprio. Ainda assim, com um possível custo de 25 milhões de euros (por metade do passe), Os encarnados estariam obrigados a fazer com que João Félix produzisse desde o primeiro minuto. Caso contrário, falaríamos de um flop dentro de meses.

A verdade, é que João Félix viajou para bem longe da Luz, ‘vendendo-se’ ao sonho do Médio Oriente, recheado de petrodólares. Com a grande ajuda de Cristiano Ronaldo, o Al Nassr conseguiu vencer a corrida por João Félix, contratando o jogador em definitivo ao Chelsea, por um valor que pode chegar aos 50 milhões de euros, o que pode impedir os londrinos de terem prejuízo com o avançado.

No futebol existe uma franja de jogadores que sabemos que a partir de X tempo somente terão lugar nos mercados periféricos, com a Turquia e a Arábia Saudita a serem os exemplos maiores. A carreira de João Félix estava a cozinhar-se para integrar este lote de elementos, acabando o destino por cumprir-se. O jogador perdeu completamente o lugar numa Big 5 (em clubes importantes) e esperava-lhe este passo, caso rejeitasse um regresso a casa. O contrato do luso é de dois anos e um regresso à Europa não se descarta, mas rumar a uma equipa de topo será algo complicado.

João Félix pode olhar para o exemplo de Gabri Veiga. O espanhol trocou o Celta de Vigo pelo Al Ahli, numa fase em que estava ser apontado ao Nápoles e ao Real Madrid. No seu regresso ao velho continente, apenas o FC Porto lhe abriu a porta, O médio ainda é jovem e em caso de sucesso pelo Dragão, poderá conseguir dar o salto. João Félix não deverá ter tal sorte.

O internacional português chegou em 2019 ao Atlético Madrid carregado de expectativas, depois de ter custado 127 milhões de euros. Era visto como a futura estrela do clube, uma espécie de ‘novo Paulo Futre’. Não conseguiu singrar no Metropolitano. João Félix continuou a ser um ‘menino bonito’ e a maioria das culpas do seu insucesso foram apontadas a Diego Simeone, cujo estilo não encaixava com as caraterísticas do jogador. Eram poucos a entender que o técnico argentino não era o principal culpado da situação.

O avançado foi cedido ao Chelsea a meio da temporada 2022/23. O empréstimo não ficou na história como um dos melhores, mas tampouco foi um insucesso gritante. Ainda assim, foi insuficiente para os londrinos avançarem para a contratação em definitivo.

No verão de 2023, João Félix tratou de se oferecer ao Barcelona, mostrando um desespero gritante por vestir a blaugrana, assumindo que com esse dorsal atingiria o apogeu. Causou entusiasmo nos adeptos culés, que conseguiram que o mesmo chegasse por empréstimo, num acordo que fez com que João Félix reduzisse o seu salário. Pelos catalães mostrou a irregularidade já habitual. Brilhou em partidas frente ao Atlético Madrid, mas durante a maioria da época foi somente um elemento de rotação para Xavi Hernández.

A este ponto, já eram poucos os defensores de João Félix, que ainda contou com duas novas oportunidades para relançar a sua carreira. Esta expressão utiliza-se para jogadores mais velhos, relembrando que falamos de um jovem que atualmente tem 25 anos de idade. O Chelsea quis novamente receber João Félix (envolvido num negócio com outras peças) e pagou 50 milhões de euros pelo jogador. O internacional português está longe de estar talhado para a Premier League e Enzo Maresca rapidamente se apercebeu da situação, cortando-o dos planos em janeiro. Foi o penúltimo golpe no atleta.

O último chegaria de alguém que bem conhece, de uma pessoa que frequentou a sua casa, de um amigo de família. Sérgio Conceição era a grande esperança de João Félix. O antigo técnico do FC Porto chegou ao San Siro para recuperar os rossoneri em janeiro de 2025, mas a missão falhou. João Félix entusiasmou com o seu primeiro jogo, mas passou novamente ao lado do ‘golo’. Pouco a pouco deixou de entrar nas contas e mostrou novamente o tipo de jogador que é: inconstante.

O viseense falhou na La Liga, na Premier League e na Serie A, com treinadores com estilos totalmente diferentes, sendo que um conhecia na perfeição do extra-futebol. Estamos num ponto em que não podemos acusar os técnicos de não conseguirem retirar o melhor de João Félix. A culpa é maioritariamente dele. Tem todo o talento do mundo, mas não consegue sacar proveito disso. É pouco esforçado e claramente necessita de várias chamadas de atenção, algo que não lhe cairá bem. Jorge Jesus é o próximo treinador a ter a oportunidade de o treinar. Habituado a conseguir retirar do melhor dos atletas, o amadorense terá aqui uma missão complexa, mas que faz parte da sua aventura no Al Nassr.

João Félix ‘desistiu’ do futebol. Não foi algo que aconteceu de um dia para o outro, mas que se foi desenvolvendo ao longo do tempo. O passo para o Al Nassr é o culminar de um caminho que estava a ser construído, mas houve uma série de episódios que ditaram tal fim. O internacional português continua a ter vozes de defesa, mas cada vez são menos, numa fase em que o próprio também aparenta pouco importar-se. Terá o prazer de jogar semanalmente com Cristiano Ronaldo, que rumou à Arábia Saudita depois de ter conseguido o sucesso na La Liga e na Premier League, brilhando ao nível individual na Serie A. Talvez um dos melhores jogadores da história consiga ‘abrir os olhos’ a João Félix. Contudo, parece-me tarde demais.


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