O “Pirlo croata” e o futuro do futebol italiano – 9 nomes a seguir na Serie A

Tomás da CunhaAgosto 18, 20179min0

O paradigma do futebol italiano tem vindo a mudar nos últimos anos. O calcio já não é aquele futebol ultra-defensivo, sem espaço para magia, e o facto de ter sido a liga das top-5 com maior número de golos marcados é prova disso mesmo. A renovação está em curso e o elevado número de jovens talentosos que vão ganhando espaço nas diversas equipas é também um sinal das diferenças em relação ao passado. Muitas dessas promessas são aqui apresentadas, para que não se percam de vista.

Alex Meret (SPAL) – Já é conhecido o potencial formador da Itália no que diz respeito aos guarda-redes. Nos últimos anos, a qualidade não parou de surgir e a concorrência promete ser apertada nos próximos tempos. Alex Meret é um dos nomes mais talentosos da nova geração e um candidato firme a assumir a baliza da Squadra Azurra. Formado na Udinese mas sem espaço no Friuli, o jovem de 20 anos foi cedido ao SPAL e brilhou na subida de divisão da equipa de Ferrara. Um guarda-redes sereno e maduro, evoluído no posicionamento e com uma agilidade impressionante entre os postes, parecendo voar para cada bola com relativa facilidade. Este ano terá a oportunidade de jogar na Serie A, campeonato mais desafiante e que exponenciará as suas qualidades. No SPAL, será posto à prova com bastante frequência, o que até lhe permite mostrar-se aos responsáveis dos zebrette, onde acabará por regressar em breve. Aí, terá a concorrência de Simone Scuffet, outro futuro monstro das balizas. Só podendo jogar um, veremos quem vencerá a corrida.

Andrija Balic (Udinese) – Numa liga que tem saudades de Pirlo, um regista de classe mundial, o pé direito de Balic, um predestinado, pode servir de recordação. Pela visão de jogo invulgar, pela precisão no passe longo e até pela cabeleira, o diamante formado no Hajduk Split não vai passar despercebido cada vez que estiver em campo. Aos 20 anos (sim, são apenas 20 anos, apesar de parecer que anda cá há muito tempo), o médio ignorou vários convites de emblemas de topo e escolheu a Serie A para prosseguir a carreira. Terminou a temporada como titular, e este ano tem tudo para ser de afirmação definitiva. Podendo actuar em qualquer posição do meio campo, é um jogador que gosta de ter a bola e que transborda confiança sempre que a tem sob controlo. Alto mas com muita habilidade, constrói a partir de zonas recuadas com imenso critério. É um “lançador” de excelência e um exímio marcador de bolas paradas. Se for bem protegido (isto é, se não for sobrecarregado com tarefas defensivas), vai fazer a diferença no meio campo da Udinese.

Rolando Mandragora (Crotone) – A abundância de médios no plantel da Juve dificulta bastante a afirmação dos mais jovens. Mandragora, tal como Bentancur, pode vir a impor-se no futuro mas, por enquanto, terão de dar provas de valor noutras paragens. Em Crotone, o jovem italiano será provavelmente uma das figuras da equipa e uma das principais esperanças para conseguir o objectivo da manutenção. Pode jogar à frente da defesa, mantendo a posição, ou um pouco mais adiantado, ligando-se aos homens do ataque com facilidade. Com um pé esquerdo excepcional, resiste bem à pressão e constrói com critério, de cabeça levantada. Tem várias soluções no seu jogo, mas a qualidade no passe longo – notória no último Mundial sub-20 – promete fazer estragos na Serie A.

 

Sem espaço na Juve, Mandragora terá mais tempo de jogo em Crotone [Foto: Signoria Mia Calcio News]
 

Filippo Romagna (Cagliari) – Para um jogador jovem é altamente complicado ganhar espaço num dos melhores plantéis do mundo. Romagna, apesar do enorme potencial, deixou a Juventus em definitivo, passo que lhe valerá mais tempo de jogo. O Cagliari está longe de ser uma equipa consistente do ponto de vista defensivo, mas vai certamente beneficiar da presença do jovem de 20 anos. Com todas as características de um central moderno, o italiano poderá ser o líder do quarteto defensivo rossoblu, ocupando a vaga do português Bruno Alves. Não é um jogador tão agressivo nos duelos, mas compensa com um posicionamento inteligente e uma velocidade acima da média. Depois, apresenta um nível técnico muito razoável, que lhe permite assumir a saída de bola com relativa facilidade. Sente-se confortável nesse papel e consegue desequilibrar através do passe. Vale a pena seguir a sua evolução.

Riccardo Orsolini (Atalanta) – Nos últimos anos, a Juventus tem adoptado a “política do eucalipto”, garantindo grande parte das jovens promessas que actuam no país. Se resultarem, o clube terá proveitos desportivos e financeiros. Se não evoluírem como se perspectivava, pelo menos não foram parar aos rivais. Tendo de apostar, não hesitaria em colocar as fichas em Riccardo Orsolini. Depois de brilhar na Serie B, ao serviço do Ascoli, e no último Mundial sub-20, o extremo esquerdino terá a oportunidade de demonstrar o seu talento numa das melhores equipas da temporada anterior. Partindo da direita, de forma a explorar as diagonais para o espaço interior, cria desequilíbrios com facilidade e tem um perfil de decisão bastante evoluído para a idade e, sobretudo, para o estilo que apresenta. Um jogador que gosta de ter a bola, sem problemas em assumir o 1×1 ou mesmo a finalização (marcou 8 golos na última época). Candidato indiscutível a revelação da Serie A.

Pol Lirola (Sassuolo) – O espanhol já foi uma das revelações da última época mas, por ainda ser algo desconhecido, tem lugar nesta lista. Emprestado pela Juventus ao Sassuolo pelo segundo ano consecutivo, é um dos laterais-direitos mais interessantes do campeonato italiano e ainda tem imensa margem de progressão. Destaca-se essencialmente pela facilidade com que se integra no ataque, fazendo um vaivém constante durante os 90 minutos. Ainda assim, está longe de ser um jogador que sobressaia pela capacidade física; é muito evoluído tecnicamente e aproveita para criar desequilíbrios em zonas interiores. Caso Berardi não seja colocado na zona central, a sociedade entre o espanhol e o italiano no flanco direito vai ser bem interessante de seguir.

Pol Lirola é um dos laterais-direitos mais interessantes da Serie A [Foto: goal.com]
Nicolò Barella (Cagliari) – Não faltam médios talentosos nesta Serie A e o jovem do Cagliari é mais um com potencial elevado. Os 28 jogos que realizou no último campeonato levaram-no ao Mundial sub-20, de onde uma lesão inesperada o afastou prematuramente. Ainda assim, mostrou valor no tempo que esteve em campo e esta época deverá fazer com que a sua cotação dispare. Terá lugar garantido no meio campo rossoblu, seja como 6 ou como 8, e a sua qualidade com bola dificilmente vai passar despercebida. Sempre com um papel activo na construção, é um jogador bastante resistente à pressão e procura entregar com critério, de preferência verticalizando. Quando joga como segundo médio arrisca mais no transporte, queimando linhas adversárias com facilidade. Apesar de ser mais forte nas tarefas ofensivas, não só pelo nível técnico mas também pela capacidade de decisão, é igualmente disponível no processo defensivo. Um médio completo.

Daniele Verde (Hellas Verona) – O potencial ofensivo do Hellas Verona é deveras assustador para um clube recém-promovido. Ao lado dos experientes Pazzini e Cerci estará Daniele Verde, um jovem irreverente e com um estilo de futebol bastante atractivo, que faz lembrar Ezequiel Lavezzi. A facilidade que tem em jogar com os dois pés, apesar de ser canhoto, coloca-o como uma opção válida para ambos os flancos, embora beneficie quando parte da direita. Atrevido e imprevisível, desequilibra no 1×1 e aparece bem nas zonas de finalização. Depois de se destacar no Avellino, marcando 8 golos, terá uma oportunidade de se mostrar de forma consistente num escalão mais competitivo. Em Roma, onde já se estreou, esperam por ele.

Dawid Kownacki (Sampdoria) – No último Europeu sub-21 foi um dos poucos destaques positivos da Polónia, selecção da casa, confirmando as credenciais que já tinha apresentado ao serviço do Lech Poznan, onde marcou 11 golos na temporada anterior. A Sampdoria tem descoberto talentos em diversas paragens, e a contratação do jovem avançado de 20 anos enquadra-se na política recente do clube genovês. Kownacki, que não deu um passo maior do que a perna, pode valer benefícios desportivos e financeiros, caso a adaptação corra como é expectável. Não sendo talhado para jogar como única referência do ataque, pode actuar em qualquer posição da frente e será sempre garantia de alguns golos. Melhorando os índices de eficácia terá números ainda melhores, já que aparece com facilidade em zonas de finalização e não lhe falta poder de remate com ambos os pés. Móvel mas com uma presença forte nas imediações da área adversária, dá-se bastante ao jogo e cria condições vantajosas para si e para os colegas. Ainda com enorme margem de progressão, vai acabar por ganhar o seu espaço na Sampdoria e pode tornar-se – ainda mais – um valor seguro do futebol polaco.


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