Nottingham Forest, o clube que veste o vermelho de Garibaldi

João FreitasDezembro 13, 20184min0

Nottingham Forest, o clube que veste o vermelho de Garibaldi

João FreitasDezembro 13, 20184min0
O histórico Nottingham Forest veste de vermelho, o vermelho Garibaldi. Descobre aqui o porquê!

Nottingham é, essencialmente, conhecida por duas figuras: Robin Hood – ou Robin dos Bosques – e Brian Clough – o homem com o toque de midas que conseguiu conduzir o Nottingham Forest ao bicampeonato Europeu em 1979 e 1980. Ao mesmo tempo, esta pequena cidade das East Midlands é a casa do Notts County, que é conhecido como o clube profissional mais antigo do mundo.

Porém, este artigo incidirá sobre o seu rival e concidadão Nottingham Forest e das suas curiosas ligações ao processo de unificação italiana – o Rissorgimento (1815-1871) – que deixou marcas visíveis nos dias de hoje no futebol italiano e inglês.

Antes de decorrer sobre essas ligações, será pertinente abordar o panorama político da península Itálica pré-unificação. A atual Itália era composta por 8 reinos, em 1815, nos quais a dicotomia entre as regiões Norte e Sul eram bem visíveis. O norte apresentava, de longe, um maior grau de industrialização, um maior peso demográfico e sofria uma maior influência das ideias revolucionárias francesas. Por seu turno, o sul mantinha a sua atividade económica assente no sistema agro-pecuário, manifestando em muitos dos reinos relações feudais.

Por esses motivos, é compreensível o por que de a ideia de unificar o território peninsular italiano num único reino tenha-se maturado na região Norte – mais especificamente no Reino Sardo-Piemontês, que albergava os três pólos urbanos de Turim, Génova e Cagliari. As elites económicas urbanas desejavam uma unificação do território visando dois objetivos: garantir a continuidade do desenvolvimento interno através da criação de um mercado “nacional” e aumentar a sua capacidade competitiva no recém formado mercado global.

Dentro dos projetos políticos do Rissorgimento houve dois que adquiriram um maior destaque, o Monárquico, que visava a unificação sob a casa de Saboia (Rei da Sardanha e Piemonte) sob uma monarquia constitucional,  e os Republicanos Sociais, no qual os nomes de Guiseppe Garibaldi e Guiseppe Mazzini assumiam destaque e pretendiam a formação de uma republica.

(Foto: Getty Images)

Apresentado este cenário inicial, o leitor, certamente, perguntar-se-a «mas como entram os ingleses nesta história?».

De uma forma sintética, o futebol chegou a Itália através dos navios mercantes e de guerra ingleses que atracavam nos portos de Génova, Livorno e Nápoles. Com a abertura do canal do Suez (1869), um grande número de estabelecimentos comerciais britânicos estabeleceu-se definitivamente em Itália, especialmente nas cidades de Turim e Génova. Sendo os têxteis a principal mercadoria comercializada pelo Império Britânico, foram vários os cotonifícios britânicos que se sediaram na região do Piemonte. Dado que Nottingham era uma regiões britânicas onde a indústria algodoeira era um setor importante da economia, a maioria das empresas que estabeleceu ligação com o reino Sardo-Piemontês era oriunda dessa cidade.

Foram os empregados da Thomas Adams Textile Company – sediada em Nottingham – que formaram o primeiro clube de futebol em Turim. Edoardo Bosio, um desses empregados, traz de uma viagem à empresa-mãe duas bolas de futebol. Nascendo assim o Torino Football and Cricket Club (1886).

Por seu lado, o Nottingham Forest foi fundado em 1865 e definiu que as suas cores seriam “the Garibaldi Red” (“o vermelho de Garibaldi”). O motivo prende-se com uma homenagem à “Expedição dos Mil”, que foi organizada por Garibaldi em 1860, na qual um grupo de 1000 voluntários – na sua maioria estudantes, proletários e artesãos – deslocou-se de Génova até à Sicília para conquistar o Reino das Duas Sicilias ao Reino Espanhol.

Durante os seus primórdios, o Nottingham Forest era apelidado de “The Garibaldis”.

A ação política de Garibaldi e da sua companheira – a catarinense e “Heroína de Dois Mundos”, Anitta Garibaldi – não só atravessou o oceano, como a História. Presentes na Revolução Farroupilha (Brasil), Uruguai, Argentina e Itália, o legado dos Garibaldi percorreu o tempo chegando à Guerra Civil de Espanha – através da Brigada Internacional Garibaldi – e à Segunda Guerra Mundial – com os Partigianos a usarem a imagem de ambos como símbolo de Liberdade.

(Foto: Getty Images)

A figura-chave para todo o sucesso internacional do Nottingham FFC, Brian Clough, comungava do espírito rebelde do casal Garibaldi. Clough era membro da Anti-Nazi League, doou largas quantias de dinheiro para os Sindicatos em Greve contra Margaret Thatcher e chegou a participar em vários piquetes durante a Greve dos Mineiros (1984).

Finalizando, foi desta forma que o Nottingham Forest se tornou no primeiro clube a usar o equipamento vermelho em Inglaterra, inspirando o Arsenal e, após uma tour à América do Sul em 1905, o Club Atletico Independiente.


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