Brighton – As Gaivotas do Sul
Recém promovidos à Premier League o Brighton, ou “seagulls”, como são conhecidos (gaivotas na língua de Camões), atravessam um belo momento no campeonato após um inicio titubeante, onde não conseguiram vencer nos três primeiros jogos, somando duas derrotas e um empate. O primeiro triunfo surgiria na 4ª jornada, com uma vitória convincente frente ao West Brom, seguido de derrota fora com o Bournemouth, nova vitória em casa diante do Newcastle, e nova derrota fora de portas frente ao Arsenal, até entrar na recente sequência de 4 partidas sem conhecer o sabor da derrota, com empates caseiros diante de Everton e Southampton e surpreendentes conquistas fora de portas contra West Ham e Swansea.
Orientados pelo irlandês Chris Hughton, um dos poucos treinadores com ascendência africana da história da Premier League, o Brighton vem de um fantástico segundo lugar na Championship, um ano após uma das maiores desilusões da história do clube, quando em maio de 2016 perdeu o playoff de acesso à Premier League após uma derrota por 2-0, frente ao Sheffield Wednesday – num jogo em que a equipa até justificava uma vitória.
Após o fantástico segundo lugar na época passada que colocou a equipa na Premier League sem ser necessário recorrer ao playoff, os homens da pesqueira cidade de Brighton & Hove tiveram tempo e calma para preparar a nova época e o novo plantel, adaptado à competitividade da mais exigente liga do mundo.
Com uma base interessante da época transata, composta pelo veterano capitão espanhol Bruno Saltor, pelos centrais Lewis Dunk e Shane Duffy, pelos médios Dale Stephens e Biram Kayal, os extremos Solly March, Jiri Skalák e Anthony Knockaert (que é uma mistura da magia de Mahrez com os movimentos interiores de Robben), e os avançados Glen Murray (4 golos nos últimos 3 jogos para o veterano ex-Palace) e Tomer Hemed, o Brighton conseguiu formar um plantel bastante equilibrado, com aquisições de qualidade para a maioria dos setores.
Para a baliza chegaram dois guarda-redes de créditos firmados, um internacional holandês e outro australiano, Tim Krul e Matthew Ryan, respetivamente. Para as laterais chegaram o ex-Sporting Ezequiel Schelotto e Markus Suttner, para o meio campo foram contratados dois enormes reforços (pegaremos neles em pormenor mais à frente), o internacional holandês Davy Propper e o talentoso alemão Pascal Gross, enquanto que para o último terço chegaram o rapidíssimo extremo colombiano José Izquierdo (contratação mais cara de sempre do clube) e o jovem Isaiah Brown cedido pelo Chelsea.
Com um plantel recheado de soluções, o técnico Chris Hughton tem apostado sempre num 4-2-3-1 bastante personalizado, que se transforma rapidamente num 4-4-2 ou num 4-1-4-1, dependendo das necessidades da equipa. Para esta capacidade tática são fundamentais dois elementos, que estiveram presentes nos 11 jogos que a equipa disputou na Premier League até agora. Falamos de Davy Propper e de Pascal Gross.
O primeiro é provavelmente mais conhecido, internacional holandês e um dos melhores jogadores do PSV nas ultimas duas épocas, Propper é um médio muitíssimo completo, com um pulmão inesgotável e uma notável capacidade de passe, capaz de jogar a 6 e a 8 com muita facilidade, o que faz variar o esquema da equipa do Brighton uma vez que o ex-PSV tanto se junta no duplo pivô a Dale Stephens como progride no terreno para ficar próximo de Pascal Gross nas costas do ponta de lança, permitindo à equipa funcionar de formas diferentes, de modo a condicionar e impor-se aos diferentes adversários.
Pascal Gross é certamente um nome incógnito para a maioria, mas não para os sérios acompanhantes da Bundesliga. O médio-ofensivo de 26 anos foi provavelmente o melhor jogador do Ingolstadt nas duas últimas épocas, não tendo no entanto conseguido evitar a despromoção a época passada. Porém, o criativo não seguiu para a segunda divisão alemã, ingressando no clube sulista pela “pechincha” de três milhões de euros.
Dotado de uma grande qualidade técnica e visão de jogo, Gross possui ainda uma excelente capacidade física e resistência, que lhe permite juntar-se ao avançado na pressão quando a equipa não tem a bola, ou muscular o meio campo juntamente com os dois outros médios. A isto, o jogador formado no Hoffenheim alia ainda uma boa finalização e um excelente ultimo passe, que já lhe valeram 2 golos e 5 assistências.
A estes dois jogadores fundamentais, o Brighton junta os influentes extremos Anthony Knockaert e José Izquierdo, fundamentais nos desequilíbrios e nas acelerações da equipa. Na defesa, os laterais Bruno Saltor e Markus Suttner (mais um ex-Ingolstadt) dão bastante segurança defensiva, não se coibindo no entanto de apoiar ofensivamente. Os centrais Duffy e Dunk formam uma das duplas mais fortes da Premier League até agora, sendo das duplas mais eficazes no desarme e nos duelos aéreos, que têm permitido alguns jogos calmos a Matthew Ryan, que já leva 4 “clean sheats”, algo assinalável para uma equipa que luta pela permanência.
Num fantástico 8º lugar, o Brighton já conseguiu, em apenas 11 jornadas, provar que tem equipa, jogadores e treinador para a primeira divisão inglesa, havendo já esperança num lugar na primeira metade da tabela.
Sendo uma equipa equilibrada, já provou ser forte em casa, somando apenas uma derrota. Contudo, a jogar fora o Brighton aproveita o maior pendor ofensivo do adversário para soltar os criativos e rápidos extremos, que lhes valeram duas vitórias nas duas últimas saídas.
Este Brighton é, portanto, uma espécie de gaivota, que sobrevoa o seu adversário durante o tempo necessário até lhe aplicar um golpe de criatividade ou velocidade individual que muda o jogo. As gaivotas gostam de peixes corajosos e destemidos, que vêm à tona, e se há coisa que há na Premier League são “peixes” que gostam de arriscar e de se agigantar, algo que os “seagulls” irão aproveitar e não irão perdoar.