A nova reconstrução do Liverpool de Jurgen Klopp
O Liverpool FC ergueu pela última vez o troféu da Premier League na temporada de 2019/20, num trabalho espetacular de Jurgen Klopp. Atingiu os 99 pontos, deixando o rival Manchester City FC a 18. Porém, nem tudo eram rosas na chegada do treinador germânico. Aquando da sua chegada, em 2015/16, o plantel dos reds era incapacitado para lutar pelo primeiro posto da tabela classificativa (estaria mais próximo do meio da classificação), procedendo-se a uma remodelação a médio/longo prazo, que culminou nas temporadas de 2018/19, com o triunfo da Champions League, a sexta da história do emblema de Anfield, além do referido campeonato. Podemos afirmar que foi o apogeu daquele plantel, que tinha qualidade em todas as posições. A partir daí existiu uma certa regressão, algo usual em todas as equipas.
Não existe nenhum clube que se consiga manter no topo do topo durante várias épocas seguidas. O Real Madrid CF conseguiu-o de 2015 a 2018, o maior exemplo do futebol moderno, mas é um clube à parte, que muda o chip quando compete pela “orelhuda”. Voltemos ao Liverpool, tema central deste artigo. Jurgen Klopp e a direção desportiva dos reds viram-se obrigados a fazer uma reconstrução para chegar ao sucesso. Estamos a viver novamente um período semelhante, com a substituição de vários protagonistas em campo. O Liverpool está a realizar uma remodelação por estratos do campo, algo bem pensado e divisível por diversos mercados.
Quem foi a primeira pedra desta mudança? Luis Díaz. O antigo atleta do FC Porto aterrou em Anfield Road por 47 milhões de euros, em janeiro de 2022, deixando os dragões órfãos do seu craque. O colombiano representa o começo da desconstrução do mítico trio Salah-Firmino-Mané, que encantou o futebol inglês e mundial e que parecia ser eterno. Luis Díaz é extremo esquerdo e passou a ganhar ainda mais relevância nas ideias de Klopp com a saída de Sadio Mané para o FC Bayern, no verão de 2022. O atleta com agora 26 anos, obteve meio ano para ganhar as rotinas necessárias para fazer esquecer o senegalês, algo que a pouco e pouco tem conseguido. A quebra de Mané e a sua ida para a Arábia Saudita pode ter influenciado a opinião dos adeptos face a esta substituição. Porém, a destruição do trio nãos e ficou pelo veloz extremo esquerdo.
Roberto Firmino também já não vive em Liverpool. Terminou contrato e seguiu para o Al Hilal. Jurgen Klopp veio buscar o seu substituto igualmente a Portugal. Darwin Núñez aterrou no Reino Unido no verão de 2022, por 80 milhões de euros, transferência massiva que colocou as expectativas sobre o uruguaio muito elevadas. Não teve uma adaptação fácil, acumulando erros nas partidas iniciais, acusado de ser um flop. Temos que recordar que Darwin vinha de um contexto totalmente diferente. Não é fácil para um ponta de lança transferir-se de Portugal para a Premier League. Casos como o de Hélder Postiga ou de Islam Slimani são demonstrativos do mesmo. Klopp ainda contou com Firmino nessa temporada, embora já não estivesse na mesma forma do passado, mas o brasileiro e a sua competição pela posição ajudou o ex-“encarnado” a “atinar”. Não nos podemos esquecer que Roberto Firmino, jogava algo recuado, como um falso 9, formando muitas vezes uma linha reta com os extremos, com capacidade inclusivamente de vir atrás receber jogo pero dos centrocampistas. Nem todo o ponta de lança se acostuma a tais gestos.
O Liverpool aproveitou 2022/23 para contratar o elemento que fechou esta remodelação, mais parecido com Firmino em certos aspetos. Cody Gakpo estava a brilhar ao serviço do PSV Eindhoven e o Liverpool contratou-o em janeiro, por 42 milhões de euros. Na teoria, o atleta neerlandês pode jogar a ponta de lança, médio ofensivo, extremo e segundo avançado, sendo muito móvel e com caraterísticas evidentemente diferentes de Darwin ou Luis Díaz. Passámos de Salah-Firmino-Mané, para Salah-Darwin/Gakpo/Jota-Díaz, num ataque que está a carburar. Esta foi a primeira fase de construção, tratada por Julian Ward.
A segunda parte arrancou este verão, após a chegada de Jorg Schmadtke ao cargo de diretor desportivo, muito virado para o mercado alemão, algo que acabou por se refletir em certas contratações. O meio de campo foi o grande alvo das mudanças. Era totalmente público que iriam ocorrer três saídas: Naby Keita, James Milner e Oxlade Chamberlain (excluindo Arthur, que estava emprestado). A grande surpresa, que a direção do Liverpool não estaria decerto à espera, foi a emergência do mercado árabe, que levou de uma rajada dois elementos fundamentais no miolo do terreno dos reds. Fabinho, médio defensivo indiscutível de Klopp foi para o Al Ittihad, enquanto que Jordan Henderson, capitão e sucessor de Steven Gerrard, juntou-se à ledao do clube no Al Ettifaq. Eram peças a mais do que aquilo que se estava à espera que abandonassem, o que levou a que o Liverpool agitasse o mercado.
Alexis Mac Allister foi o primeiro a chegar, por 42 milhões de euros, depois de uma super temporada ao serviço do Brighton and Hove Albion FC e pela Argentina. Em seguida, Dominik Szoboslai foi confirmado, proveniente do RB Leipzig (uma mudança com influência de Jorg Schmadtke), por mais 70 milhões de euros. Se não tivessem ocorrido as ditas saídas para a Arábia Saudita, o mercado do Liverpool estaria fechado para esta posição. O problema é que um meio campo com Mac Allister como homem mais recuado, acompanhado por Szoboszlai e Gakpo é demasiado ofensivo e não existe um 6, um homem com capacidade de defender e ocupar bem os espaços na zona mais recuada do triângulo, mesmo com Thiago, Curtis Jones e Harvey Elliott no banco e Bajcetic ainda não tinha/tem a pujança necessária para ser titular numa posição tão importante no esquema tático.
A solução foi voltar ao mercado e Klopp foi prático, pensando no curto e longo prazo. Tendo gasto 110 milhões de euros em apenas dois jogadores, o Liverpool teria que analisar bem as hipóteses que tinha e regressou à Bundesliga para fechar com Wataru Endo, médio experiente de 30 anos, que pertencia ao Stuttgart, por 20 milhões de euros. É um jogador útil, não indiscutível, sendo o reforço com o perfil mais próximo de Fabinho. Pode ser fundamental em jogos em que o Liverpool necessite obrigatoriamente de um individuo mais defensivo. Para encerrar o mercado, uma aposta a longo prazo. Ryan Gravenberch não se habituou ao FC Bayern, mudando-se para Anfield no último dia de transferências. 40 milhões de euros por um jogador que pode atuar em todas as posições do centro de campo. Com somente 21 anos de idade, pode vir a ser moldado para qualquer uma delas e Klopp já não terá tanta urgência em contratar quando Thiago sair, algo que deverá ocorrer no final da temporada (termina contrato).
O verão de 2023 marcou esta segunda fase de reconstrução. Qual o próximo passo? A defesa parece ser o ponto mais lógico. Virgil van Dijk e Joel Matip estão com 32 anos, Trent Alexander-Arnold está cada vez mais a virar centrocampista, Joe Gómez tem feito uma carreira aquém do esperado. É natural que a partir de 2024, o Liverpool se foque na chegada de um central, que fará dupla no futuro com Ibrahima Konaté, além de um jogador para a lateral direita, fora elementos para o banco de suplentes.
Quando esta mudança estiver completa, voltaremos a ver o emblema da cidade dos Beatles a atingir de novo o apogeu e a ser capaz de lutar pela Premier League e pela Champions. O Liverpool é a prova viva que as mudanças são necessárias e que quando bem organizadas e com o apoio dos adeptos, têm tudo para resultar.