Helmut Klopfleisch – um fã do outro lado do muro

João FreitasDezembro 17, 20204min0

Helmut Klopfleisch – um fã do outro lado do muro

João FreitasDezembro 17, 20204min0
Quando nem um muro é suficiente para deter a paixão de um adepto... esta é a história de Helmut Klopfleisch, contada por João Freitas

A capital alemã é mundialmente conhecida pelo muro que a dividiu, contudo no “Desporto-Rei” a sua reputação está aquém do vibrante ritmo com que a História pulsa nas ruas e edifícios de Berlim. Apesar de estar longe da reputação das equipas Bávaras, do Norte ou da Renânia o futebol desempenha um importante papel e está muito presente nos bairros mais carismáticos da cidade.

Dos vários clubes que foram fundados no sec XIX na capital prussiana, o que maior espaço ocupa no nosso imaginário é o Hertha Berliner Sport-Club. O clube atual é uma fusão de duas equipas berlinenses no ano de 1920. Mas vamos por partes… O Berliner Fussball Club Hertha 92 é fundado em 1892 por 4 jovens de origens humildes – operários de fábrica. A escolha do nome ficou a dever-se ao facto de um dos jovens ter tido a oportunidade de fazer um passeio no Spree a bordo de uma embarcação azul e branca chamada Hertha. Essa é a origem das cores e do nome principal da equipa. Convém destacar que Hertha é uma derivação do nome da Deusa Nerthus, uma das mais devotadas deusas do paganismo germânico.

O BFC Hertha sempre foi – e é – uma das equipas mais adoradas nos meios operários de Berlim, mas as dificuldades financeiras levaram-no a fundir-se em 1920 com o Berliner Sport-Club, um clube de elite e com outras posses financeiras. Dessa fusão ficou acordado que seria formada uma secção de futebol independente chamada Hertha Berliner Sport-Club, que manteria as cores azuis e brancas.

Essa fusão transformou o Hertha numa das equipas mais poderosas da Alemanha, conquistando 8 titulos de Berlin-Brandemburgo e 2 titulos de campeão Alemão de futebol (1930-1931). O sucesso do clube aliado a sua implementação nos meios operários levou a que o clube fosse tomado de assalto pelo Terceiro Reich, tendo o nazi Hans Pfeizer como presidente.

Com a vitória das forças aliadas, a divisão de Berlin e a campanha de desnazificação da Alemanha, todas as organizações que tivessem ligações ao nazismo foram extintas. O Hertha ressurge em 1945 sob a designação de SG Gesundbrunnen – o estádio do Hertha na altura era o Stadion am Gesundbrunnen (nome de um bairro da capital alemã).

Hertha campeão em 1930 (Foto: Hertha Berlim)

Em 1949 a fronteira entre a Republica Democrática Alemã e a Republica Federal Alemã é estabelicida, também é o ano em que o Hertha recupera o seu nome. Como referi anteriormente, o Hertha era uma das equipas mais populares na capital, tanto que muitos dos jogadores da equipa na decada de 40 e inicio de 50 eram cidadãos de Berlin Leste

Com a construção do muro, na década de 60, muitos jogadores e sobretudo adeptos viram-se privados de acompanhar in loco a sua paixão. Por exemplo, um dos maiores goleadores da historia do Hertha, Klaus Taube, soube da contrução do muro a caminho de um jogo e foi impedido de atravessar a fronteira para Berlin Ocidental vendo a sua carreira no Hertha terminada naquele posto de fronteiriço.

Mas esta história tem como objetivo falar de um dos maiores adeptos do Hertha, Helmut Klopfleisch nascido em Berlim Leste em 1948 e com apenas 13 anos quando o muro foi erigido. Apartir do fatídico mês de Agosto de 1961, o jovem Helmut foi privado de ver os jogos do seu clube de coração, mas por morar numa zona muito perto do estádio do Hertha podia ouvi-los.

Helmut Klopfleisch (Foto: Der Bild)

Sempre que os azuis e brancos jogavam em casa, Helmut ouvia os gritos de alegria, os protestos, os cânticos e as lamentações dos “Herthaner”, sofrendo ou delirando com os sons da plateia do Gesundbrunnen.

Tamanha paixão valeu a Helmut uma vigilância da Stasi, no qual era designado com o nome de código “K.”. A perseguição da policia politica levou a que Helmut perdesse o seu emprego como eletricista. Assim como todos os seus pedidos para emigrar foram recusados pelas autoridades de leste. Inclusivamente, viu a sua televisão apreendida por ver jogos ocidentais.

Em 1989 Helmut e milhões de alemães tiveram a oportunidade de finalmente se reencontrar com a sua paixão, família e amigos das quais haviam sido separados por um muro ou fronteiras.

Klaus Taube (Foto: Wikipedia)

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS