Guarda-Redes à Moda Antiga
No regresso da rubrica Futebol Popular, o Fair Play vai homenagear alguns guarda-redes mais ou menos famosos que nunca abandonaram um dos adereços cada vez mais incomum no futebol moderno atual, as calças pretas (ou cinzentas). Recorde nomes como Bernard Lama, Helton Arruda ou Gábor Király que utilizaram as calças como ferramenta de trabalho e amuleto futebolístico.
Bernard Lama
À luz dos estereótipos do futebol moderno atual, dificilmente o Desporto Rei tinha conhecido o gardien de but Bernard Lama. Com “apenas” 183 centímetros de altura e fiel utilizador de calças pretas, este francês feito adulto na América do Sul foi um dos maiores nomes do futebol gaulês na década de 90, especialmente no Paris Saint-Germain. Bernard Lama era sobretudo um guardião excêntrico, ora na sua tenacidade fora dos postes ora nos seus reflexos felinos perto da linha de golo. Às performances lendárias, Lama juntou ainda conquistas memoráveis como a Ligue 1 em 1994, a Taça de França em 1993 e 1995, a Taça das Taças em 1996, o Campeonato do Mundo em 1998 e o Campeonato da Europa em 2000.
Essam El-Hadary
O mundo árabe do futebol é plenamente unânime em dar a Essam El-Hadary o trono de melhor guardião africano da história. O egípcio de 44 anos continua a perfumar os relvados mundiais com a sua voz de comando e indumentária inconfundível, no entanto, os anos dourados de El-Hadary são recordados por muitos fãs do Desporto Rei como verdadeiros marcos na história do futebol árabe. Ao serviço da sua pátria, El-Hadary conquistou 4 CANs (1998, 2006, 2008 e 2010), ao mesmo tempo que no seu clube do coração, o Al-Ahly, colecionou mais de duas dezenas de troféus, entre eles, 8 campeonatos egípcios e 4 Champions de África. Em suma, Essam El-Hadary é uma espécie de museu ambulante do futebol árabe moderno.
Gábor Király
O goalkeeper magyar mantém-se como o principal resistente da moda dos calções no futebol. Desde sempre que os adeptos do Desporto Rei conheceram Gábor Király como o guarda-redes das calças cinzentas, ao ponto do húngaro ser apelidado por “Pijama Man” nos corredores dos estádios mundiais. Calças cinzentas à parte, Király sempre foi um guarda-redes seguríssimo, frio e certinho como um relógio magyar, nesse sentido, a carreira sólida que o húngaro fez na Bundesliga alemã e na Premier League são corolários de um senhor guarda-redes que, depois de ser considerado o melhor guarda-redes do futebol húngaro, tornou-se ainda o goalkeeper mais velho de sempre a disputar um Campeonato da Europa com 40 anos e 2 meses.
Helton Arruda
Personagem mais do que emblemática dos últimos 10 anos do FC Porto, Helton foi um dos goleiros mais talentosos e carismáticos já passou por Portugal. O brasileiro nunca esteve imune a alguns “frangos”, porém, aquilo que realmente é por todos recordado são os notáveis reflexos, a incrível agilidade, a frieza a jogar com os pés e o Fair Play inexcedível de um guardião que muito raramente abandonava as suas calças pretas. Após quase 15 anos em Portugal, o brasileiro juntou à sua galeria mais de 15 títulos nacionais e internacionais, o que dizem bem da dimensão icónica que Helton Arruda conseguiu construir com base no seu carisma, na sua qualidade futebolística e.. nas suas fiéis calças pretas.
Ivica Kralj
Em termos de prestígio futebolístico, Kralj é talvez o guardião menos cotado e respeitado desta listagem, contudo, o jugoslavo teve o mérito de ter sido um dos primeiros guarda-redes internacionais a importar a moda das calças pretas para Portugal. Ivica Kralj realizou a maior parte da sua carreira desportiva no seu país, nomeadamente ao serviço do Partizan, porém, o gigante de 197 centímetros teve ainda passagens fogazes pela Eslováquia, Rússia, Holanda e Portugal. No nosso país, Ivica Kralj rubricou exibições anedóticas ao ponto de ter jogado apenas 7 partidas pelo FC Porto, no entanto, ficaram sempre por saldar as saudades das calças pretas capazes de fazer esquecer as temerosas saídas aos cruzamentos do jugoslavo.
Massimo Taibi
Os adeptos do Desporto Rei dificilmente se lembrariam das calças pretas de Massimo Taibi caso o Man United não tivesse tido a brilhante ideia de, nas ausências por lesão de Mark Bosnich e Raimond van der Gouw, contratar este guardião italiano ao modesto Venezia. Com uma carreira totalmente realizada em Itália, à exceção da fugaz passagem pelo Man United, Taibi nunca foi um guarda-redes de elevada craveira tendo ficado mais conhecido pelo “frango” em 1999 frente ao Southampton do que propriamente pelas suas qualidade futebolísticas, porém, fica aqui a nossa homenagem recheada de Fair Play a Massimo Taibi pelas suas sempre fiéis calças pretas.
William Andem
O imaginário dos adeptos boavisteiros jamais esquecerá uma das figuras mais respeitadas que já passou pelo seu clube, William Andem. O camaronês esteve durante 10 longos e frutuosos anos ao serviço do Boavista, onde presenciou e participou de perto nos momentos mais históricos do clube portuense. William Andem não era de todo um guarda-redes extremamente seguro, no entanto, era dono de uma flexibilidade e elasticidade invulgares capazes de realizar paradas de “outro mundo”. Personalidade respeitada nos Camarões e em Portugal, o guardião jamais abandonaria a sua indumentária essencial e despediu-se dos relvados com uma Liga Portuguesa, uma Supertaça Cândido de Oliveira e várias defesas categóricas.
Uma menção honrosa ainda para 3 nomes das balizas mundiais. Ao excêntrico colombiano René Higuita que nunca conseguiu ser convenientemente fiel às calças pretas, ao soviético Dimitri Kharine pelas notáveis exibições no Reino Unido e a Pegguy Arphexad pelos inúmeros títulos conquistados com pouquíssimos minutos de utilização.