Um Boavista na rota da decadência

Luís MouraJulho 20, 20254min0

Um Boavista na rota da decadência

Luís MouraJulho 20, 20254min0
O fim de um clube que já esteve no topo do futebol nacional... Luís Moura reflecta a situação actual do Boavista e até onde podem ir os problemas

Num final já anunciado, os últimos dias, marcaram uma rota para o clube centenário da cidade invicta: a decadência. O Boavista está a escassas horas de se tornar uma equipa distrital. Para os mais despercebidos parece que tudo aconteceu num ápice.  Para os boavisteiros de coração é um desfecho pelo qual há muito temiam.

Nos primeiros anos do século XX, os irmãos Lowe fundaram o Boavista Futebol Clube. Os britânicos Harry e Dick assumiram os desígnios do clube de 1903 até 1909, com o apoio do empresário William Graham e de um conjunto de trabalhadores portugueses que operavam na área têxtil. Depois de divergências religiosas, os fundadores afastaram-se dos axadrezados e deixaram o controlo da instituição apenas aos membros portugueses. Uma prática de gestão nacional que se manteve até 2020.

Destacam-se neste período, presidentes como Valentim Loureiro e, mais tarde, seu filho João, o timoneiro há época da conquista do campeonato nacional português, em 2001. A viragem de milénio ficou marcada por uma supera equipa liderada por Jaime Pacheco. Petit e Ricardo- recém treinador dos pantera e o guarda-redes das mãos de ferro, respetivamente- alinhavam numa equipa capaz de bater os três grandes. É certo que se tratava de um ano atípico. O grande rival da invicta vivia sob a instabilidade, um ano antes da chegada de Mourinho que viria a reconfigurar o cenário nacional, europeu e mundial. O Benfica despediu José Mourinho que substituiu Jupp Heynckes a meio da temporada, antes de Toni assumir a liderança encarnada, até ao final da temporada.

Um despedimento do special one que foi agarrado por Jorge Nuno Pinto da Costa de forma exímia. O Sporting iniciou na época 2000/2001 um jejum que só viria a ser quebrado por Rubén Amorim. Augusto Inácio não conseguiu revalidar o título dos Leões, tendo também sido eliminado na fase de grupos da Liga dos Campeões. Com toda a instabilidade nos “donos do futebol português” o Boavista, a 18 de maio, venceu por 3-0 o Desportivo das Aves a uma jornada do fim. O Bessa explodiu e sob os gritos de emoção selou a mais gloriosa vitória de um clube com 122 anos.

Quando tudo parecia encaminhar para um futuro de repleto de vitórias, nas vésperas da conquita, de 2001, foi criada a Boavista Futebol Clube, Futebol SAD, inicialmente detida maioritariamente pelo clube. Contudo, em 2021, perdeu o seu controlo maioritário para Gérard López. O que parecia a luz ao fundo do túnel, tornou-se no maior dos pecados para os boavisteiros. O empresário hispano-luxemburguês já havia hipotecado seriamente o futuro do Lile e levado o Bordéus até à ruina.

Destruição repetida no Boavista. Os 50,78 % iniciais rapidamente se transformaram em 67,7%, mas quando o dinheiro escasseou e as dividas ao fisco e à segurança social aumentavam, assim como a pressão dos credores, Gérad López sumiu. Deixou o clube nas mãos Fary Faye, talvez o menos responsável pelo hecatombe no Bessa. Falhou a inscrição na Liga 2. Restou a esperança de atuar na Liga 3, mas sem cumprir os critérios da Federação Portuguesa de Futebol o Boavista têm duas hipóteses: ou atua na Liga Hyundai  (primeira divisão da Associação de Futebol do Porto), ou então agarra-se à sua Equipa B criada há 3 semanas em nome do clube o que garante a sua sobrevivência (claro que para isso a SAD terá de existir).

No dia em que escrevo o presente artigo, a Polícia Judiciária arrombou, literalmente, as portas do Bessa para buscas devido a suspeitas de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção e gestão danosa. O principal alvo das buscas é Vítor Murta, outros os principais responsáveis, de acordo com os associados, para o estado do clube.

A história de um clube centenário começa agora a ruir. O Marco 09 e o Atlético Clube de Vila Meã aproveitarão a queda de um dos maiores clubes da história de Portugal, num momento de angústia para todos os boavisteiros. Apenas o futuro o dirá, mas cada vez mais o Boavista caminha para a ruína.


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