Taça da Liga CTT: Quanto vale e como fica o Sporting CP após a conquista
Para se perceber melhor a importância que ganhar tem para um clube com as responsabilidades como o Sporting era preciso ter visto a alegria estampada no rosto dos adeptos à saída do estádio, após a final. E desses destacavam-se os mais novos, para quem pouco interessava se a vitória foi na Taça da Liga, ante o Vitória, ou se conseguida apenas após o desempate de grandes penalidades.
O Sporting ganhou, o que, por oposição a “perder” ou “voltamos a não conseguir”. Por isso a ideia de que há competições menores ou dispensáveis é claramente um erro de avaliação. São todas para ganhar aquelas em que o Sporting participa, ponto! Porque é assim que se constrói uma cultura de campeão.
Se é assim para os adeptos o que representa em termos estratégicos para o resto das competições esta vitória, especialmente para a mais desejada de todas, a conquista da Liga NOS? Que equipa sai desta competição, que sequelas e que apronto revela para esses compromissos?
Do ponto de vista da moral ela não poderia sair mais reforçada. Superar o líder da Liga foi importante mas não foi menos contrariar o golo madrugador e a entrega total do Vitória. As dificuldades superadas nestes dois jogos da “final four”, o “suspense” e o dramatismo vividos são um importante reforço para o espírito de grupo, uma espécie de vacina para as dificuldades que se avizinham.
Uma das principais questões que ressaltam deste quadrangular de inverno é o apronto físico da equipa. A intensidade da meia-final disputada com o FC Porto deixou marcas que ainda se vão sentir nos próximos compromissos, sendo mais óbvio o que diz respeito à perda de Gelson.
Aparentemente, não existe no plantel outro jogador com perfil que se assemelhe, especialmente no que diz respeito à capacidade de causar desequilíbrios em velocidade e dar profundidade à equipa. Isso foi particularmente evidente na final com o Setúbal. Uma lacuna cujo preenchimento merece o sacrifício no pouco que resta do mercado.
Aqui a pergunta torna-se inevitável: então foi preciso Gélson baixar à enfermaria para se perceber que não tem alternativa no plantel? É que não demais lembrar que, para lá de todos os jogadores contratados no verão, nesta janela de inverno já chegaram Wendel, Misic, Montero, Rúben Ribeiro e até Bryan Ruiz foi reintegrado e nenhum deles é propriamente “parecido”…
Jorge Jesus tentou contornar a ausência da velocidade de Gélson pela posse e controlo de bola que Bruno Ribeiro, Bryan Ruiz e Bruno Fernandes podem oferecer, mas ficou claro que há ainda muito a melhorar na integração dos dois primeiros nos movimentos da equipa.
É notória a falta de agressividade e intensidade de ambos no momento defensivo, deixando por isso muito “lixo” para os laterais se preocuparem em varrer. Dessa forma, estando preocupados a fechar atrás, diminui-os para as tarefas atacantes e não menos os restantes elementos do meio-campo.
Disso se ressentem especialmente William e Bruno Fernandes e a sua capacidade de participar nos momentos ofensivos da equipa. Do ponto de vista ofensivo o panorama não é muito melhor, a pouca acutilância que Rúben Ribeiro e Bryan Ruiz emprestam à equipa resultaram na incapacidade desta ligar o seu jogo até ao último terço. E sem isso, isto é, sem conseguir chegar com qualidade com bola os últimos trinta metros, ter ou não ter Bas Dost é mais ou menos irrelevante. E não parece que Jesus olhe para Doumbia ou até Podence como soluções.
Convém que não haja muitas ilusões: uma coisa é jogar competições a eliminar, onde os prolongamentos e desempates por penalidades oferecem soluções à falta de eficácia e menor inspiração momentâneas. Outra bem diferente é jogar numa competição onde a exigência de regularidade na conquista de pontos é determinante para se chegar a campeão. E para tal parece bem claro que há três questões cruciais e cuja solução serão determinantes para a sorte no campeonato:
– A constituição de um meio-campo que dê tanto a agressividade como a organização que pareceram faltar em alguns momentos dos jogos da Taça da Liga.
– Conseguirá Jesus superar a ausência da velocidade de Gélson nas alas com a criatividade e desequilíbrios com movimentos pelo interior com os jogadores disponíveis?
– Será Montero o oficial de ligação a Bas Dost e dar a profundidade que tem faltado?
As perguntas são ainda mais pertinentes quando se constata que com ou sem Gélson o facto é que o Sporting não conseguiu vencer os últimos três jogos e dois deles foram contra o Vitória de Setúbal, uma das equipas mais frágeis do campeonato, até agora.